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JUROS, PIB E INFLAÇÃO


Argemiro Luís Brum

A Selic a 6,5% ao ano, de certa maneira, já está além das expectativas! Mas há explicações para tal comportamento. Em primeiro lugar, a inflação continua em baixa, tendo recuado em fevereiro para se estabelecer em 2,84% anuais (para um mês de fevereiro esta é a inflação mais baixa desde 1999, enquanto no acumulado dos dois primeiros meses do ano a mesma é a mais baixa desde a implantação do Plano Real, em 1994).

Em segundo lugar, o PIB brasileiro não apresenta crescimento robusto. Após o 1% de 2017, o mês de janeiro/18, na prévia do IBC-Br, apontou um recuo de 0,56% (a primeira queda mensal desde agosto/17). Embora no acumulado anual o PIB atinja a 2,97%, tem-se aí um sinal de alerta quanto ao desempenho da economia nacional neste momento de saída da recessão. Estes dois aspectos somados confortaram o Copom em sua decisão! Todavia, há sinais que apontam na direção contrária.

De um lado, os preços em geral têm subido mais do que a inflação oficial, particularmente junto aos produtos que realmente a população mais consome, ao mesmo tempo em que ela não assiste a sua renda real aumentar. Além disso, o desemprego aumentou em janeiro e pouco se recuperou em fevereiro, sendo que a maior parte dos empregos gerados nos últimos meses é precária, de baixa remuneração, quando não informal. Neste contexto, mesmo com as famílias demonstrando um pouco mais de confiança, o consumo não decola.

Assim, o PIB reage menos, embora haja expectativas de que 2018 termine com o mesmo entre 2% e 3% (entre 2014 e 2016, o PIB nacional recuou mais de 8%). Enfim, a baixa do juro básico nacional não repercute na economia real, estando longe de alcançar o consumidor e as empresas nacionais. Enquanto a Selic já recuou, desde outubro de 2016, mais de 55%, a média dos juros praticados no Brasil recuou apenas um pouco mais de 14%, com alguns até aumentando no período.

Esta realidade freia o consumo, trabalhando contra a retomada econômica. Além disso, há sinais do exterior que devem nos deixar em alerta. O Banco Central dos EUA, nestes últimos dias, realizou o primeiro aumento de sua taxa básica, de um total de três esperadas para 2018. Com isso, o novo patamar de juro básico naquele país passou para 1,5% a 1,75%. Quanto mais a distância entre os dois juros (Brasil e EUA) se reduzir, maior será a tendência de sair capitais de nosso país, desvalorizando o Real e potencialmente criando condições para aumento da inflação via importações. Isso obrigará o Banco Central brasileiro a retomar a alta do juro básico, invertendo a lógica atual.

E o ano eleitoral que vivemos, pela sua enorme indefinição política que acarreta no momento, não ajuda em nada para a estabilidade dos mercados. Neste sentido, a decisão de Henrique Meirelles em renunciar ao Ministério da Fazenda, para concorrer à Presidência da República, coloca mais lenha na fogueira. 
 

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