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Juros: um absurdo nacional (I)


Argemiro Luís Brum
A atual taxa básica de juros no Brasil (Selic) está em seu maior patamar nos últimos 10 anos. Sabedor disso o Copom, em sua reunião do dia 31/08, manteve a mesma em 14,25% ao ano pela nona vez consecutiva. Mesmo assim, os demais juros na economia brasileira não param de subir, se descolando do juro básico oficial. Em agosto, o juro anual do cartão de crédito rotativo atingiu a 451,4%. O do cheque especial chegou a 296,3%. Considerando todas as modalidades, a taxa de juros média geral para pessoa física, no Brasil, alcançou a 155,48% em agosto do corrente ano. É a maior taxa de juros desde agosto de 2003. Além do absurdo natural que a própria percentagem oferece, em um país que vive uma inflação média anualizada perto de 9% (IPCA), existem outros absurdos nesta área e que explicam muito de nossa paralisia econômica. Em primeiro lugar, com um dinheiro assim tão caro não é de surpreender que quase 60 milhões de brasileiros estejam inadimplentes no momento. Afinal, muitos acabam usando o cheque especial e, às vezes, o próprio rotativo do cartão de crédito como complemento de salário no final de cada mês. Em segundo lugar, a maioria da população brasileira não faz cálculo e parte para tentar resolver seu endividamento captando dinheiro em financeiras. Ora, em termos médios, o juro das financeiras no Brasil chega a 900% ao ano. Ou seja, ao invés de buscar dinheiro mais barato para sanar contas com juros mais altos, muitos fazem exatamente o contrário. Em terceiro lugar, a principal causa aventada pelos bancos brasileiros, para tais juros absurdos, é justamente o crescimento da inadimplência. Ou seja, faz-se o bom pagador pagar a conta do mau pagador, mesmo que para isso se esteja freando a economia. O que ninguém comenta é que os próprios bancos, estimulados pelo governo, ajudaram a criar o problema atual. Há alguns anos o sistema financeiro nacional se viu diante de uma abundância de crédito raramente vista, cuja principal fonte era o Estado. Com isso fez seus funcionários, na luta para cumprir metas internas, a convencerem seus clientes a captarem recursos sem grandes cuidados. Inclusive junto a pessoas já com dificuldades de pagamento (nossos subprimes). Como não podia ser diferente, a estratégia gerou o atual estado de inadimplência que temos, obrigando os bancos a aumentarem as provisões contra os maus pagadores e a aumentarem as taxas de juros às despensas da recuperação da economia nacional. Em quarto lugar, nota-se que os bancos, ao agirem de forma irresponsável na oferta de crédito, jogaram o prejuízo para a população e as empresas do setor produtivo. Não é por nada que, em plena crise econômica, a maior dos últimos quase 100 anos, o lucro dos bancos nacionais continuou importante e, em muitos casos, em crescimento. Isto não é choque de capitalismo e sim sacrificar a produção e o crescimento nacional em favor de um rentismo concentrador. (Segue)

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