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Melhorou ou despiorou?


Argemiro Luís Brum

Nos últimos três meses o cenário específico da economia mudou. Se evidencia que haverá mais crescimento econômico no mundo. Em contrapartida, haverá também mais inflação sobre os produtos comercializáveis, já que a demanda retoma em meio a uma desorganização das cadeias produtivas devido à pandemia. Neste contexto, os países produtores de commodities, caso do Brasil, se beneficiam da demanda global, pois há um novo ciclo de valorização das mesmas. Mas é importante ressalvar que este movimento de recuperação se deu graças ao estímulo vindo dos Estados e, em algum momento, isso será “desligado”. Aqui no Brasil não é diferente, porém, com algumas especificidades. Dentre elas, o fato de o PIB crescer sem puxar o emprego, pois segmentos mais intensivos em empregos, caso dos serviços, ainda patinam. Por outro lado, para 2022 teremos eleições, as quais devem puxar políticas distributivas que vão aumentar o déficit fiscal. Em assim sendo, somente por volta de 2026 poderemos ter superávit primário e um real alívio econômico. Se é verdade que o sentimento melhorou em relação ao início do ano, também é verdade que é preciso muito cuidado com a falsa sensação de que nossa economia está bem. Melhorou um pouco mas tem muita coisa para ajustar. A começar pela inflação, que não está sendo de curto prazo, impactando nos juros internos. Além disso, parte da melhora se deve ao fato de, na pandemia, ter havido mais compras de bens em substituição ao consumo de serviços. Ora, os bens geram mais impostos do que os serviços. Com isso, a arrecadação melhora e alivia o déficit e, por tabela, a dívida pública, apesar do aumento da Selic. O BACEN fala em normalização parcial, porém, isso parece ser muito otimista. Com a retomada do consumo de serviços, desde que debelada a pandemia, a inflação subirá mais, pois aquela população, que conseguiu fazer poupança na pandemia, irá gastá-la em serviços, invertendo parcialmente o quadro da arrecadação. Desta forma, o “novo normal” na economia, por algum tempo, será com mais inflação e juros maiores. Assim, os problemas estruturais continuam, especialmente na área fiscal, enquanto a agenda social veio para ficar. Diante disso, como fazer uma boa política social, de inclusão e mais justa? Como chegaremos no pós-eleição de 2022?

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