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O combate entre o boi pontaleti e o tonhão, o fortão da família


Prof. João Mariano

Em minhas férias de final de ano, na década de 90, fui passear na fazenda do Tio Zeca, onde gostava de ir para ver o gado, a mata ainda preservada, o riacho onde a gente pescava lambari....tudo era diversão e alegria...Tio Zeca  e Tia Antonia tiveram 15 filhos...alguns morreram de “doenças de criança!, a cidade era muito distante, não dava tempo de socorrer e além do mais, a crendice em benzedeiras e remédios do mato atrasavam o socorro às doenças....Um deles, o Tonhão era alto e muito forte, dizia-se que tinha um soco capaz de derrubar outro homem forte. Ele foi com a gente, mostrar o gado novo e também nos lev ar até o riacho...

Quando passamos ao lado da cerca do pasto onde tínhamos entrado nas cancelas, Tonhão nos alertou para não entrarmos sozinhos,  porque tinha um boi perigoso...o Pontaleti,  dono do pedaço.....Tonhão citou rapidamente que o Pontaleti, era de lua, uns dias tranquilo e outros zangado....

Demos um última olhada para o boi, era enorme, chifres ponteagudos, cara de poucos amigos....E fomos para o riacho pescar lambari, uma das grandes diversões infantis, quando as águas ainda não estavam poluídas. Na verdade, fomos dar um “banho nas minhocas”, porque não éramos especialistas em pesca....

Voltamos no final da tarde porque era perigoso andar em pastos e beira de brejo à noite. 
Após a fila para o banho, no chuveiro “tiradentes”, uma espécie da balde tipo regador de metal, com as pontas furadas e que para usar, a gente descia até o chão, enchia de água fria e pelo menos uma chaleira de água quente, subindo de novo e prendendo numa trava. Tia Antonia fervia uns dois litros de água quente e colocava no chuveiro para um banho morno.  Finalmente, a hora do jantar e Tia Antonia havia caprichado....frango com polenta, um doce de abóbora de sobremesa e a garrafa de café quentinho sobre o fogão de lenha....

Logo chegou a hora de dormir, o povo do sítio dorme com as galinhas, ditado real, porque elas dormem logo que escurece, basta o sol se por....Do quarto ainda se ouvia as vacas mugindo, cães latindo e até os sapos da pequena lagoa....a noite avançou, chegou o silêncio dos animais e insetos e puxamos aquele sono reparador.... 

Às 7 horas fomos acordados pela Tia Antonia que sempre madrugava...acordem meninos e vamos aproveitar bem o dia ! ...o café já pronto, pão caseiro, leite tirado logo cedo e direto das vacas, alguns doces...a gente se lambuzou....

Mais tarde, o primo Tonhão teve que dar uma ida até a cidade buscar algumas ferramentas, Tio Zeca estava na varanda em sua cadeira de balanço...

Aí aproveitamos para perguntar sobre o Pontaleti...e como ele só respeitava o Tonhão...Por que isso acontece Tio Zeca ?
...Bão, começou ele...faz uns 3 anos, era tudo diferente, o Tonhão entrou no pasto com uma camisa vermelha e um boi chamado Faísca partiu enfurecido sobre ele... O Tonhão armou um soco e ficou meio de lado para se desviar da cabeçada e dos chifres...E no momento em que o Faísca encostou, mandou o soco bem na testa do bicho...ouviu-se um estrondo como um trovão em dia de chuva, com raios....Faísca deitou na hora, desmaiado....

O Pontaleti olhava a cena...mas não se intimidou....e com seus chifres pontiagudos e amolados começou a encarar o Tonhão....Aqui lembro que o Pontaleti era um boi perigoso, que ficava meio dia correndo atrás das novilhas e botando para correr os desafiantes que surgiam...Alguns desafetos já tinham perdido o chifre nos combates com eles...no restante do dia, Pontaleti ficava amolando os chifres numa grande pedra que havia no pasto...Com o tempo as pontas como canetas, seus chifres se tornaram um perigo mortal....
Pontaleti começou a se aproximar mais, cara de poucos amigos...Aí o Tonhão lembro que ele e o Faísca eram filhos do mesmo Touro, o famoso Cobra Cega e uma vaca chamada Danosa...Eram irmãos de sangue e temperamento..ambos perigosos, mas o Pontaleti mais ainda, pelos chifres ponteagudos....

Tonhão já começou a armar outro soco...mas agora também tinha medo dos chifres...e o boi mau se aproximando..fungando, raspando as patas dianteiras na terra...aí deu uma arrancada

De longe se ouvia o barulho dos cascos, o Pontaleti com a cabeça baixa, o que realçava seus chifres e o tornava mais perigoso....Tonhão pensou rápido “vou saltar de lado e mandar a tijolada (apelido do seu soco potente) na oreia do bicho...quando o boi chegou a 2 metros de distância, o Tonhão saltou de lado e mandou o soco na oreia do bicho...ouviu-se um estrondo que nem trovão “pow”...o boi baqueou nas pernas, mas não caiu....era mais forte que o Faísca....Tonhão não tinha para onde correr....tinha que enfrentar o bicho bravo.....Aí correu os poucos metros que os separava e mandou outro soco na testa do bicho....incrível, mesmo grogue do soco anterior, o Pontaleti não caiu, mas bambeou, dobrou as patas dianteiras....

Tonhão sentiu que era a hora de correr até a cerca e se livrar do perigo...tinha 6 arames que ele atravessou rápido, sem se enroscar...com isso se livrou e do outro lado da cerca ficou a observar o Pontaleti que aos poucos foi se recuperando dos socos....

A estória não termina aqui....Hoje o Tonhão entrou no pasto e o Pontaleti não avançou sobre ele, ficou só olhando à distância..... parece haver um grande respeito entre eles....

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