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O preço dos combustíveis e a geopolítica do petróleo (I)


Argemiro Luís Brum

A greve dos caminhoneiros no Brasil teve no preço do diesel um de seus motivos. Este preço, assim como o da gasolina, passou a ser ajustado conforme a oscilação dos preços internacionais do petróleo. O objetivo da Petrobras, ao fazer isso, é recuperar a estatal após o enorme prejuízo que a mesma registrou ao ser usada para subsidiar os combustíveis nos governos Lula e Dilma (sem falar nos rombos causados pela corrupção ali constatada).

Em função disso a estatal pouco investiu em sua modernização e reestruturação competitiva, acabando por constatar que exportar o petróleo bruto e importar combustíveis saía mais barato. Hoje, o Brasil importa ao redor de 25% do diesel que consome. Mas as elevações constantes dos preços do petróleo no mercado mundial deixaram, nestes últimos meses, a Petrobrás refém de sua estratégia, se vendo obrigada a aumentar constantemente o preço interno dos combustíveis, pressionando o setor produtivo e a inflação em geral. Ao mesmo tempo, temos de abrir concessões e privatizar setores da exploração do pré-sal, pois a estatal brasileira não tem recursos e tecnologia suficientes, no estado em que foi deixada, para fazê-lo sozinha de forma competitiva.

Ocorre que a estratégia adotada deixa o Brasil à mercê, de forma mais aguda, da geopolítica mundial do petróleo, a qual se “movimenta” de forma intensa nos últimos anos. Segue aqui (e na próxima coluna) uma breve síntese desta realidade. Entre abril e maio do corrente ano os EUA passaram a reclamar da forte alta dos preços do petróleo, acusando a OPEP de estar fazendo um jogo perigoso. Ao mesmo tempo, a Rússia e a Arábia Saudita comemoram o aumento, pois o mesmo representa o sucesso da estratégia conjunta de reduzir a produção do “ouro negro” para que tal fato ocorresse.

A anulação, pelos EUA, do acordo nuclear com o Irã, só fez potencializar o aumento dos preços mundiais do petróleo, já que o Irã é um dos grandes produtores e exportadores da commodity, mesmo que Irã e Arábia Saudita sejam inimigos. O confronto atual com o Irã, na verdade, se deve ao fato de que os EUA eliminaram, na primeira metade dos anos 2000, o seu aliado no Iraque, Saddam Hussein. Este, de religião sunita, foi posto no poder naquele país, justamente pelos EUA, para servir de barragem ao governo iraniano, de religião xiita.

A queda de Saddam levou o Iraque a cair sob o domínio xiita e deu margem ao surgimento do Estado Islâmico atual.  Como o Irã exporta cerca de 2,1 milhões de barris diários de petróleo, um boicote dos EUA a sua economia tende a reduzir suas exportações, elevando os preços do produto, diante de uma demanda mundial que aumenta pela recuperação da economia pós-crise 2007/08. Por sua vez, a Arábia Saudita, contrária ao programa nuclear iraniano e aliada dos EUA, agora deseja elevar os preços do petróleo para níveis entre US$ 80 e US$ 100/barril. Por quê? (segue)

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