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Observações pós-1º turno eleitoral (I)


Argemiro Luís Brum

Como já é sabido há meses, o andar de nossa economia depende do novo governo a ser eleito. Ora, o resultado do primeiro turno deixa preocupações neste sentido, pois nenhum dos dois candidatos eleitos para o segundo turno oferece confiança quanto a possibilidade de ajustar a economia brasileira. Aliás, o debate em torno de ideias econômicas praticamente não existiu. Na verdade, estamos diante de uma eleição onde votamos muito mais levados pela emoção e bem menos com a razão. O “eles contra nós” ou o “nós contra eles” prevaleceu.

Diante disso, o país claramente cristalizou uma divisão de forças e interesses onde é concreta a possibilidade de o governo eleito não conseguir fazer o que é necessário economicamente. Sem falar que o Congresso Nacional eleito ficou extremamente fragmentado, tornando a tarefa presidencial ainda mais difícil. E, para piorar o quadro, os dois candidatos que sobraram possuem um claro viés populista, com forte dose de demagogia, o que jamais foi bom conselheiro. A seguir, e nas próximas duas colunas, procuraremos fundamentar esta nossa preocupação. Um breve resumo dos últimos 11 anos nos mostra claramente o imenso desafio que o novo governo terá pela frente.  

A partir de 2007 (Lula II) se tentou colocar em prática um contrato social que tinha como base a construção no Brasil de um Estado de Bem-Estar social de padrão europeu. Uma ideia boa, porém, de execução desastrosa, gerando uma profunda crise fiscal. Tanto é verdade que entre 1992 e 2014 o gasto público superou a expansão do PIB, saindo de 11% para quase 20%, sendo que nos últimos anos o mesmo foi na direção basicamente de manter uma máquina pública inchada e ineficiente. O cenário se agravou sobremaneira a partir de 2012 quando o crescimento na arrecadação de impostos e contribuições ficou igual à expansão do PIB. A partir daí começamos a gerar o buraco fiscal que não para de crescer.

Assim, entre 2008 e 2014 o país saiu de um superávit primário de 3,5% do PIB para um déficit de 1,5% do PIB. Uma enorme piora fiscal de cinco pontos percentuais. Uma situação agravada pela aplicação de uma agenda de governo intervencionista ou nacional-desenvolvimentista (forte presença do Estado na economia com gastos públicos ilimitados).  Há consciência de que isso tudo deve ser corrigido, porém, isto tende a não mudar nos próximos quatro anos, salvo se o candidato eleito conseguir superar o racha político/ideológico oriundo destas eleições e colocar em prática uma equipe econômica responsável com as reformas. O problema será, como sempre, convencer o Congresso Nacional e a sociedade de que isso é imprescindível. Assim, é grande o risco de repetirmos a receita fracassada, qualquer que seja o governo eleito, salvo surpresas. (segue)

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