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Os desafios do novo presidente do BNDES


Vinícius André de Oliveira

Tomou posse recentemente o novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, Gustavo Montezano. Engenheiro formado pelo IME-RJ, com mestrado em Economia pelo IBMEC-RJ, fez carreira no mercado financeiro sendo sócio do Banco Pactual. Já estava no governo desde o começo do ano, atuando na Secretaria de Desestatização do Ministério da Economia. Montezano, inicialmente, terá a missão de revisar contratos e mudar a rota percorrida nos governos anteriores de priorização dos “amigos do rei”. A intenção, segundo ele, é de fazer do BNDES uma instituição mais de desenvolvimento e menos de banco.

O BNDES é importantíssimo para o desenvolvimento do país, desde que conduzido de forma responsável. Já escrevi no passado recente sobre o banco e vou repetir aqui. A função do banco deveria ser fomentar o desenvolvimento econômico de longo prazo, contribuindo para a melhoria da infraestrutura nacional e da industrialização através de uma taxa de juros de longo prazo reduzida.

O problema, mais uma vez, começa quando o estado utiliza-se do comando de uma estatal com papel tão importante para garantir interesses eleitoreiros. Roberto Campos, um dos fundadores do banco já falava sobre a importância da equipe e do papel da instituição, mas já alertava sobre o uso e abuso da burocracia e da complacência com o nacional- estatismo.

O critério a partir daí, segundo Campos, sofrerá sempre influência ideológica. É o que assistimos nos últimos anos com os campeões nacionais. Mais de 70% dos desembolsos subsidiados do BNDES vão para grandes empresas quando deveria ser o contrário. A maior parte dos empréstimos deveria dar condições para empresas com maior necessidade de subsídio incentivando a concorrência e possibilitando certo equilíbrio no mercado nos mais variados setores. Mas, o que acontecia até então era justamente o oposto.

Se através de instituições como essas, esperamos um mercado mais justo, sob o comando de pessoas erradas pode criar o efeito contrário dando suporte a ainda mais desigualdade. O “capitalismo de estado” tem servido para concentrar renda e beneficiar grandes empresários, além de canalizar recursos com viés ideológico. O bolsa empresário custa o mesmo que o bolsa família e também redistribui renda, só que na contramão. Além disso, empresas que têm acesso ao BNDES sofrem menos com as alterações das taxas de juros, sugerindo que o crédito subsidiado reduz a eficácia da política monetária, isto é, requer uma Selic mais alta para compensar o efeito da taxa de juros mais baixa. 

Para amenizar essa percepção, Montezano pretende atuar nas áreas de privatizações e concessões, além de desinvestimentos. Para ele, a credibilidade é muito importante e para isso vai buscar realizar as ações com muita transparência. Disse também que tem a intenção de retirar aos poucos os R$110 bi investidos na bolsa de valores. Afirmou que a ideia é intensificar investimentos em infraestrutura de saneamento, por exemplo, que dá retorno concreto à sociedade e onde o setor privado tem pouco interesse. Pretende também, devolver os R$126 bi ao Tesouro Nacional ainda neste ano e que isso não afetaria os projetos em andamento.

Portanto, as intenções são muito boas e relevantes para a economia e para o país e o BNDES merece ser tratado com mais respeito e responsabilidade. Vamos torcer para que, de fato, isso aconteça.

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