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PROCISSÃO SANTA


Paulo Lot Calixto Lemos

Procissões na sexta-feira santa me trazem muitas recordações... Ainda peguei um “restinho” das grandes procissões de sexta-feira da paixão. Digo restinho porque hoje elas não têm mais o mesmo clamor e a mesma circunspeção daquelas de antigamente.

Lembro-me do som dos passos, do farfalhar das roupas, do cheiro de vela queimando, do som das vozes orando, das centenas e centenas de pessoas em fila indiana dupla, as mulheres de véu, os homens de terno, ou pelo menos camisa de manga longa, e nós crianças, zanzando por toda extensão da procissão.

As centenas de velas acesas davam um toque a mais de respeito e temor à ocasião. E o momento único, em que todos paravam para ouvir o triste lamento de “Verônica”, que cantava de forma sentida e dolorosa, era um momento mágico que nos fazia sentir um misto de medo, dor e compaixão, para logo em seguida, como que para desoprimir o coração, o som dos passos se fazia ouvir em meio a todo aquele silencio, reiniciando a caminhada...

Ainda numa época mais remota, o para sempre lembrado Dr. Caetano, juntamente com seu amigo José da Beca, caminhava acompanhando a procissão daquela sexta-feira santa.

Como todos da família Caetano, o doutor também era sossegado e amante da boa prosa. Porem, nesse dia caminhava calado e com dificuldade. Sentia fortes dores na perna ao caminhar, o que o fazia andar meio que mancando. Apesar disso, como médico que era, essa dor não o preocupava, pois sabia se tratar de uma dor ciática, proveniente de algum “jeito” que tivera na coluna.

Na ocasião, o trajeto da procissão finalizava subindo pela rua Olegário Maciel, passando pela praça até terminar na igreja da matriz. Na praça da matriz ficava a casa do Sr. Lico Maia, pai do futuro maior boiadeiro do Brasil, o Tião Maia. Lico Maia e dona Marica tiveram vários filhos e filhas, entre elas, Jacira, moça solteira, que acompanhava da janela de sua casa, a procissão passar. Ao ver passar o Dr. Caetano e o Zé da Beca, com quem tinha um certo namorico, e observando que o doutor mancava, Jacira chamou-os educadamente:

- Doutor, vamos entrar e assentar um pouco, estou vendo que o senhor não passa bem, parece estar sentindo fortes dores!

Sem pestanejar, junto da janela mesmo, o Dr. Caetano responde:

- É coisa à toa Jacira, parece que facilitei num movimento mais brusco, o que provocou uma terrível dor “Lumbago”...

Sem entender nada, Dr. Caetano notou apenas Jacira avermelhar como um peru, e sem dizer uma palavra, entrar pra dentro casa sem uma única despedida...

Mais tarde, terminada a procissão, o Dr. Patti e sua esposa Pequena, irmã de Jacira, passaram para uma visita na casa dos pais. Assim que viu o cunhado chegar, Jacira veio correndo contar-lhe, lamentando a falta de educação do colega...

- Você acredita Patti! Fui indagar ao Dr. Caetano a respeito da dor que parecia sentir, e ele me veio com uma falta de educação daquelas!

- O Dr. Caetano? Falta de educação? Impossível Jacira! Estive com ele há pouco tempo, ele realmente está sentindo fortes dores...

- Pois é Patti... Mas ele precisava me dizer que estava com dor “naquele lugar?”.

- Que lugar Jacira? Agora sou eu que não estou entendendo!

- Ora Patti! Ele me disse na maior cara de pau que estava com uma dor “num bago!”.

- Ahhhh!! Não é “num bago”, mas “Lumbago”! É o nome que damos pra dor de coluna Jacira!!!

Paulo Lot Calixto Lemos

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