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QUEM NÃO TEM PISTOLA CAÇA COM REVOLVER


Paulo Lot Calixto Lemos

Até meados do século XX, Santa Rita de Cássia, esta querida cidade vizinha de Passos, que alem de ser conhecida como a terra do boi testudo e do boi chita, a terra da morena bonita, era também nesta ocasião, uma espécie de centro cultural de nossa região.

Na primeira metade da década de 20, alguns filhos e sobrinhos do afamado coronel Antenor Machado de Azevedo, um dos maiores fazendeiros e capitalistas de Minas Gerais, se viram envolvidos em diversos projetos culturais, em especial, nos de teatro. Eram considerados como “Mecenas” para a arte local. Verdadeiros patronos do teatro cassiense.

Um deles, Odilon Azevedo, filho do coronel Antenor Machado, que mais tarde veio a se casar com a famosa atriz Dulcina de Morais, fazia parte do elenco de uma bela peça que iria estrear no Teatro Municipal de Cássia dai a poucos dias. Os ensaios estavam a “mil por hora”, cenários, figurinistas, maquiadores, tudo preparado. Pois bem, lá pelas tantas, uma das falas de Odilon, que fazia o par romântico com a atriz principal, era a seguinte: - Se me abandonares, saco da pistola e dou um tiro na cabeça! Acontece que ele simplesmente não aceitava a palavra “pistola”. Recusava-se terminantemente a pronuncia-la, argumentando indignado com o diretor:

- Porque pistola? Uma palavra chula como esta! Afinal toda sociedade estará presente! Porque não dizer revolver ou mesmo garrucha?

- Porque é pra ser dito pistola Odilon! Gritava o diretor. Se você não sabe, é esta a palavra usada pelos amantes e enamorados, é pistola e está acabado!

Mas, não havia meios de fazer a palavra entrar na cabeça de Odilon... Quando queria dizer “pistola” saia revolver, quando queria, propositadamente falar revolver, saia pistola e, a coisa foi se complicando... Até que, nas vésperas da grande estréia, no ultimo ensaio, a fala saiu de acordo: - Se me abandonares, saco da pistola e dou um tiro na cabeça!

Porem a tranqüilidade de Odilon durou pouco, logo na grande estréia, sentada na primeira fila, lá estava sua namorada recém chegada inesperadamente do Rio de Janeiro... Aquilo foi um martírio para nosso artista, “como pronunciar tal palavrão na frente de minha amada?” Se encabulava Odilon.”Não falo pistola de maneira nenhuma, quer o diretor queira, quer não, será revolver e ponto final!” E, no decorrer da peça, aquilo foi “encucando” ainda mais o pobre coitado... Até que chegou o grande momento, não havia mais escapatória e, vermelho como um peru iniciou a frase maldita:

- Se me abandonares, saco do REVOLVER e dou um tiro na cabeça da PISTOLA!

O teatro simplesmente veio abaixo. Vocês bem podem imaginar...

Paulo Lot calixto Lemos

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