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QUEM VÊ CARA NÃO VÊ CORAÇÃO


Paulo Lot Calixto Lemos

Quando nos damos conta que Passos é hoje considerado um pólo nacional da suinocultura moderna, com dezenas de granjas super tecnificadas, engordando milhares de porcos, podemos pensar que isto é inédito em nossa historia, mas para nossa surpresa, constatamos que já vivemos um período similar. Sim! Entre as décadas de quarenta e sessenta tivemos grandes criadores de “capados”. Fazendeiros que engordavam, nas técnicas de então, centenas e até milhares de porcos soltos em grandes mangueiros.

Bem, isto se deu antes da industria americana da soja aportar no Brasil, pois até então toda comida era feita à base de banha de porco. Estranho...Até aquela época gordura de porco não fazia mal! Mas a ciência (americana) veio nos dizer que faz sim, muito mal ao coração. Assim, as famosas raças Canastra, Piau, Tatuí, Nilo, Caruncho, e muitas outras raças caipiras, praticamente desapareceram, e infelizmente com elas, um inestimável banco genético, fundamental para futuros cruzamentos e pesquisas dentro da suinocultura genuinamente brasileira. Duplamente estranho, é quando constatamos que o café, antes grande vilão, passa a ser considerado agora, quase que um remédio pela mesma ciência americana que até a pouco tempo o condenava. Mas, deixemos a ciência aos cientistas (contanto que estes deixem de trabalhar apenas por interesses econômicos) e vamos ao que nos interessa.

Jairo Andrade, passense e hoje grande pecuarista no norte do país, juntamente com seu amigo e compadre, Dimas Manoel Pereira, infelizmente morto ainda jovem, mas que vem a ser irmão de nossos estimados amigos, o médico José Orlando Pereira – o Dr. Tuta – e o químico e ex-vereador João Dimas Pereira, engordavam em sociedade, coisa de 5.000 capados/ano na fazenda do Sagrado.

O negocio ia bem, até que começaram a morrer porcos... Ninguém, nem veterinários nem práticos sabiam dizer a causa de tal mortandade. E o mal parecia só piorar, decidiram então levar pelo menos dois porcos mortos para serem examinados no hospital veterinário da escola de Botucatu. Dimas, animado falou:

- Jairo, temos que sair hoje à noite, bem de madrugadinha, pois assim fica mais difícil a fiscalização nos pegar com essa “carga”.

- Tá certo. – Jairo respondeu – Saio com a camionete bem cedinho, apanho o Bagunga, e venho buscar você e os porcos...

Bagunga era um “pau de toda obra”, é um homem baixo, gordo, forte, olhos miúdos, barba sempre por fazer e cara de mau. Muito bem-quisto em Passos e oriundo de família tradicional. Enfim, gente boa e muito amigo tanto do Jairo como do Dimas. Ia com eles de motorista.

Passava pouco da meia noite quando saíram de Passos com a bizarra carga. Na primeira barreira policial que encontraram foram parados, assim que o guarda chegou deu de cara com os “presuntos” jogados na carroceria. Mortos, sem sangrar, sem nenhum tipo de preparo. A encrenca estava armada...E para provar que focinho de porco não é tomada? Só depois de muito “custo” e muita “labia” conseguiram ser liberados, mas, na condição de que levassem apenas um porco. E foram avisados: “tem batida policial em toda estrada, até Campinas...”.

Assim que saíram da vista do famigerado guarda, começaram a “bolar” algum estratagema, pois se estivesse correta a informação, aquela viagem poderia sair muito cara...

- Vamos fazer o seguinte – disse o espirituoso Dimas – vamos vestir o paletó e o chapéu do Bagunga no porco e espreme-lo sentado ao lado dele. Nós dois nos esprememos do outro lado. O que você acha Jairo?

- Tenho certeza que assim tapearemos qualquer outro “guardinha” que aparecer... Mas não se esqueça de equipar o porco com estes óculos escuros também! – Respondeu caindo na risada!

A estrada, naquela noite realmente estava infestada de policiais. Antes de chegarem a Campinas foram barrados novamente. Após pedir todos os documentos a que tinha direito, conferir, naquela noite escura, que tudo o mais estava em ordem, parecendo assustado e meio que a contra-gosto, o guarda finalmente falou tapando o nariz.

- Humm...Tá bom “parece” que tá tudo em ordem, pode seguir viagem...

- Muito boa noite sargento. – respondeu Bagunga com um sorriso sinistro nos lábios.

Mas, antes de saírem, quando o policial virou as costas fazendo o sinal da cruz, ainda o escutaram falar:

- Cruz credo, ave Maria! Parece até coisa do outro mundo... Vai parecer com “porco” assim desse tanto nos quintos dos infernos!

Foi piada e mais piada pra cima do Bagunga e do “fiote” do Bagunga, sem parar... Pro resto do ano!

Paulo Lot Calixto Lemos

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