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QUESTÃO DE FAMILIA


Paulo Lot Calixto Lemos

Realmente existem certas características que parecem estar definitivamente impregnadas no código genético de algumas famílias. Geração após geração tais caracteres se fazem presentes de forma tão marcante no genoma da linhagem familiar, que os mesmos são reconhecidos de longe.

A tradicional família Miranda, de Três Pontas, cidade pólo da cafeicultura do sul de Minas Gerais, é uma dessas. Trata-se de uma grande e importante família, com diversas ramificações, e que alem de manter como característica comum suas origens rurais, tem também, mas isso apenas entre os homens, outro famoso atributo: o gosto pelo sexo oposto. Simplesmente não se tem noticia, em toda historia da família, de uma única ovelha negra, ou seja, de um único varão que tenha se transviado para o outro lado ou mesmo para a coluna do meio.

Desde jovens, os primos em terceiro grau Bem Miranda e Neca Miranda são uns dos mais famosos. Suas façanhas “Don Juanescas” correram e ainda correm mundo até hoje.

O fato de serem contemporâneos, cuja diferença de idade é de apenas alguns anos, fez com que a concorrência entre eles sempre fosse muito acirrada. Cada um tentando superar o outro nas conquistas amorosas. Se o Neca aparecia com uma o Bem aparecia com duas e assim sucessivamente. E, quanto mais difícil fosse a conquista ou quanto mais bela e recatada fosse a donzela, mais pontos se acumulavam no livro de recordes de cada um.

Assim a vida e o tempo foram se passando, até que o Neca e o Bem Miranda foram ficando velhos, mas não “mortos”. A competição, portanto, continuava acirrada... A única diferença era que agora muitos companheiros já estavam mortos ou “inaptos”, não havendo assim, outro modo de contar vantagens que não fosse entre eles mesmos. Numa dessas disputas decidiram apurar de uma vez por todas qual dos dois tinham mais vitimas acumuladas em seu “embornal”.

Chegaram então à conclusão que o modo mais acertado de fazer isso seria ao termino da missa das 10 horas do próximo domingo, pois era a missa mais concorrida da semana, praticamente toda comunidade feminina de Três Pontas se fazia presente para ouvir o sermão do padre.

Combinaram então, que cada um deles se sentaria de um lado da porta, e à medida que as beatas, senhoras e senhoritas fossem saindo, eles bateriam duas palmas para aquelas que já houvessem caído na rede de cada um.

Pois bem, o grande dia chegou. Aquele domingo ficaria na historia, pois sagraria de uma vez por todas o grande campeão ao titulo de Don Juan da historia de Três Pontas! Terminada a missa, acomodaram-se cada um de um lado da porta, e o desfile começou...

- Clap Clap – bateu Bem para a primeira que saiu.

- Clap Clap – bateu Neca logo em seguida, também para a mesma.

- Clap Clap ... Clap Clap … Clap Clap – bateu agora Neca, pois saiu um grupinho de três de uma só vez.

- Clap Clap ... Clap Clap …Clap Clap – seguiu incontinenti Bem Miranda para o mesmo grupinho.

E assim a peleja prosseguiu, não havia uma que saísse para a qual não houvesse palmas de ambos os digladiadores. Mas, como o contingente feminino era enorme, a contenda foi ficando monótona e cansativa, até que num repente de impaciência, Neca desafiou:

- Aqui, cê qué sabê duma coisa Bem? Dessa muierada toda, só num caiu no meu papo minha mãe e minha irmã!

- Clap Clap ... Clap Clap! Bateu palmas entusiasmadamente o agora grande campeão, Bem Miranda...

Paulo Lot Calixto Lemos

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