CI

Razões econômicas da cloroquina


Argemiro Luís Brum

Em informação atualizada neste último 25/09 a OMS informa que “embora a hidroxicloroquina e a cloroquina sejam produtos licenciados para o tratamento de outras doenças – respectivamente, doenças autoimunes e malária –, não há evidência científica até o momento de que esses medicamentos sejam eficazes e seguros no tratamento da COVID-19. As evidências disponíveis sobre benefícios do uso de cloroquina ou hidroxicloroquina são insuficientes, a maioria das pesquisas até agora sugere que não há benefício e já foram emitidos alertas sobre efeitos colaterais do medicamento.”

Este posicionamento é acompanhado pela maioria dos médicos e cientistas no Brasil. Por que, então, a corrida ao consumo destes medicamentos em nosso país? Pela desinformação e ingenuidade da população, associada ao impulso dado pelo seu “garoto propaganda”, o Presidente da República, e alguns seguidores interesseiros. Por trás deste movimento está o faturamento econômico, não importando, de fato, a saúde dos brasileiros. Esta campanha pelo consumo destes medicamentos ajudou a cinco grandes empresas a terem seu faturamento em franco crescimento, na medida em que o uso da cloroquina aumentou 358% no país até meados de julho (o potencial de mercado é de R$ 9,7 milhões mensais).

Os laboratórios são: Apsen (em 26/03 o Presidente da República exibiu a caixinha do remédio num encontro virtual do G20); em julho a caixinha exibida foi a versão genérica produzida pela EMS, cujo dono é proprietário do laboratório Germed, também autorizado a vendê-la e, segundo a Forbes, o 16º homem mais rico do Brasil. O mesmo se reuniu com o Presidente da República nos dias 20 de março e 14 de maio, em conjunto com outros empresários, para discutir a pandemia do coronavírus. Outro laboratório que vem faturando em cima da cloroquina é o Cristália, cujo cofundador foi prestigiado pessoalmente pelo Presidente no ano passado. O único laboratório estrangeiro autorizado a vender a cloroquina no Brasil é o francês Sanofi-Aventis, que tem o presidente dos EUA, Donald Trump, como acionista e também grande incentivador do consumo da cloroquina. A situação é tão escancarada que o The New York Times, em abril, publicou reportagem perguntando se a defesa do presidente norte-americano, em favor da cloroquina, estaria relacionada à saúde ou aos seus negócios.

Aqui no Brasil, um dos filhos do Presidente compartilhou no Twitter uma foto de uma caixa de Plaquinol, da empresa da qual Trump é acionista, acompanhada da notícia de que a mesma iria doar medicamentos para os infectados com a Covid-19. Enfim, e não menos importante, o governo acelerou a produção de hidroxicloroquina em 80 vezes neste ano, através do Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFEx), sendo que até junho o mesmo havia distribuído mais de um milhão de comprimidos do produto, tendo ainda 1,85 milhão de unidades em estoque, a ponto de suspender a produção até que o mesmo seja “escoado” a hospitais e postos de saúde públicos. Neste sentido, o procurador do Ministério Público de Contas investiga se procedem informes de possível superfaturamento, já que o preço do quilo da matéria-prima importada da Índia, pelo Exército, para a fabricação do medicamento, saltou de R$ 219,00 para R$ 1.300,00 entre maio de 2019 e maio de 2020. (Cf. O Estado de São Paulo; ZH-17/07/2020-p.9; site Notícias UOL de 11/07/2020)   

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.