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Selic em queda livre: e agora?


Edivan Júnior Pommerening

     Os impactos da decadência da Selic nas taxas de juros de compra e venda de dinheiro e suas consequências à população.

     Em 29 de julho de 2015 a Selic atingiu seu ápice nos últimos anos: 14,25% ao ano. Coincidentemente ou não, essa marca só havia sido igualada há dez anos, em reunião do Copom realizada em 30 de agosto de 2006. De lá prá cá a curva do gráfico da Selic assemelhou-se a uma rede de dormir, com altas pontuais em 2009 e 2010, como reflexo da Crise do Subprime, e em 2012 e 2013. O ápice inverso aconteceu em 10 de outubro de 2012, quando o Copom decidiu pela redução da taxa básica de juros para 7,25% ao ano, a menor taxa desde 02 de janeiro de 1998.

     De 29 de julho de 2015 a 26 de julho de 2017 a Selic já caiu cinco pontos percentuais. Pois bem, feito esse breve resgate histórico, chega-se ao dia 26 de julho de 2017 (quarta-feira), onde o Comitê de Política Monetária - Copom estabeleceu a Selic em 9,25%, abaixo de um dígito pela primeira vez nos últimos quatro anos. Em sua nota informativa ao público, o Copom insinuou que, mantidas as condições atuais, vai decepar mais um ponto percentual no seu próximo encontro, previsto para os primeiros dias de setembro, o que colocaria a taxa básica de juros brasileira em 8,25% ao ano.

     Economistas mais radicais apostam que a Selic chegará aos famigerados 7,00% em dezembro de 2017, no que pese ao fato de que ainda restam apenas três reuniões do Copom para este ano: setembro (5 e 6), outubro (24 e 25) e dezembro (5 e 6). Logo, se tal extremo se materializar, isso quer dizer que na reunião de outubro o índice provavelmente será de 7,50%, ficando um degrau menor para ser galgado no apagar do ano, pelo aumento do consumo no Natal e Ano Novo.

     Como todos sabem, a Selic tem uma companheira inseparável: a inflação. O IPCA, que é o índice oficial de medição da inflação, encerrou o primeiro semestre de 2017 acumulado em 1,18%. Os mesmos economistas que vislumbram a Selic em 7,00% em 2017, também miram uma inflação acumulada de 3,60% para este ano, no cenário otimista. Como o IPCA e a Selic são comparsas de longa data, já deu para perceber que o primeiro sempre gira entorno de 60,00% da segunda.

     Evidencia-se uma queda acentuada da inflação entre 2016 e 2017, embora muitos consumidores ainda não conseguiram apalpá-la nas gôndolas dos supermercados. Há que se destacar que o recente aumento nos preços dos combustíveis tende a insuflar os preços de todas as mercadorias, dado que os combustíveis são sensíveis. Espera-se para os próximos anos uma leve alta na inflação, entretanto, sempre dentro do âmbito da meta, que atualmente é de 4,5%, mas que em 2019 será de 4,25% e em 2020 de 4,00%.

     Em meio a tudo isso, como ficará a remuneração da poupança, o investimento mais conhecido do Brasil? Bom, o rendimento da poupança é "tabelado", ou seja, 0,50% ao mês mais TR, o que resulta em pouco mais de 0,5% ao mês. Contudo, se a Selic chegar a 8,50% ou menos (o que deverá acontecer já na próxima reunião do Copom), o rendimento da poupança mudará para 70,00% da Selic mais a TR. Então, se a taxa básica tramelar 2017 em 7,00%, a poupança remunerará seus poupadores em aproximadamente 5,40%.

     Ainda que não na mesma velocidade, aliás, em velocidade bem menor, caem as taxas de juros de empréstimos, arrastadas pela Taxa Selic. Alguns bancos até aproveitaram a vibe para fazer apelos midiáticos, todavia com reduções centávicas. Pelos estudos do Banco Central, nos créditos com recursos livres para pessoas físicas (onde estão inclusos os empréstimos pessoais), os juros caíram de 64,50% para 63,30% ao ano entre maio e junho de 2017. Já para pessoas jurídicas, os juros desses créditos caíram de 26,10% para 24,80% no mesmo período.

     Mesmo baixando, as atuais taxas de juros continuam altas quando comparadas a outros países, como o Canadá (0,75% a.a.), por exemplo, pois somam a gana bancária brasileira com o percentual necessário ao alívio do banco pelo risco de crédito que assume. Falando em inadimplência em operações de crédito, uma boa notícia: o índice também reduziu no mês de junho em relação ao mês de maio deste ano: de 4,00% para 3,70%, possivelmente uma consequência da descarga do FGTS de contas inativas na população.

     Se em 2015 e 2016 os investidores se esbaldaram no mercado financeiro, principalmente com investimentos indexados ao CDI, que é primo-irmão da Selic, agora as vacas pastejam em grama rasa. Chama-se a atenção, todavia, que aqueles ganhos eram dissimulados, pois a taxa real (ganho efetivo), tanto lá quanto aqui, não passam de 5,00% ao ano, pois sempre são vítimas dos efeitos deteriorantes da inflação.

     Em geral, os bancos mais tradicionais do país não pagam mais que 80,00% do CDI para CDB's menores que R$ 50 mil, ou outros investimentos atrelados àquela taxa. Nesta dimensão, considerando que depósitos na poupança renderam em média 0,55% em julho de 2017, tem-se que CDB's de curto prazo que pagaram abaixo de 90,00% do CDI nesse período renderam menos que a poupança. Assim a tendência é a de que investidores mais ávidos e esclarecidos migrem para investimentos mais rentáveis, como imóveis na planta, por exemplo.

     Portanto, o mercado financeiro sofre na pele os efeitos do ziguezague da Selic. De um lado, quando ela sobe, sobem juntas as taxas de juros, o dinheiro fica mais caro e aumenta a especulação na indústria financeira. De outro, quando ela cai, a remuneração das economias da população cai na mesma batida e o custo do dinheiro nem tanto. Neste contexto a educação financeira vem a calhar, pois com conhecimento as pessoas podem anular ao menos um pouquinho as sequelas do sobe e desce gangoriano da Selic.

     E como antídoto ao extremismo bancário apresenta-se o Cooperativismo de Crédito, modernamente rebatizado de "Cooperativismo Financeiro". O propósito deste modelo vai além de comprar e vender dinheiro. Trata-se de uma via duplicada, onde tanto a cooperativa quanto o cooperado compreendem que ele transcende a causa econômica para alcançar a causa social. Resta transparente que o cooperativismo financeiro, quando praticado com isenção narcisista, é um fertilizante da esperança, e só por isso já merece fé.

Edivan Junior Pommerening: Certificação Profissional Anbima CPA-10 e CPA-20.

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