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Sinais exigem muita cautela


Argemiro Luís Brum

Apesar da recessão estar no retrovisor, os sinais concretos da economia, passado o primeiro trimestre do ano, continuam muito ruins, apontando para uma recuperação sem sustentação. No curto prazo, um dos pilares de crescimento da economia é o consumo das famílias. O mesmo é responsável por 63,4% do PIB brasileiro.

Ora, as famílias brasileiras continuam a enfrentar forte desemprego e inadimplência em alta. Com os dados de fevereiro passado a taxa de desemprego no Brasil voltou a aumentar (em janeiro já havia ocorrido o mesmo movimento), atingindo o patamar de 12,6% ou 13,1 milhões de pessoas. Apesar de tal movimento estar nas previsões, o percentual preocupa. Isso porque em fevereiro/18 o total de trabalhadores com carteira assinada no setor privado atingiu ao menor patamar da série histórica, iniciada em 2012. Além disso, os empregos até aqui gerados, em grande maioria, são de baixa qualidade, precários e, portanto, mal remunerados. Soma-se a isso o fato de que quase 40% da força de trabalho brasileira está, hoje, na informalidade (em 2014 esse percentual estava entre 33% e 34% segundo o IBGE).

Desta maneira, as famílias somente podem consumir via endividamento. Como este tem sido muito elevado, e a educação financeira de nosso povo em geral é precária (58% dos brasileiros, segundo o SPC Brasil, admitem nunca ou só às vezes dedicar tempo a atividade de controlar suas finanças), a inadimplência aumenta, inviabilizando o consumo logo em seguida. Em fevereiro/18 a inadimplência subiu 3,72% na Região Sul do Brasil e assustadores 10,5% na Região Sudeste, a principal região econômica do país. Neste contexto, de pouco resolve reduzir o juro básico (mesmo porque tal redução está longe de chegar ao consumidor e empresas) e/ou a alíquota do compulsório dos bancos.  

No médio e longo prazo, pouco ou nada fizemos para reformar a estrutura das contas públicas, o que impede um crescimento sustentável. Em fevereiro o rombo do setor público consolidado (União, Estados e municípios) chegou a R$ 17,4 bilhões. No somatório de 12 meses o rombo está em R$ 94,3 bilhões, tendo o governo como meta, pasmem, fechar o ano com um déficit de R$ 161,3 bilhões. Neste momento, a dívida bruta consolidada está em R$ 4,96 trilhões, atingindo a 75,1% do PIB (em 2011 tal dívida representava 51,3% do PIB).

Ou seja, em seis anos e dois meses a mesma avançou 46,4%. Não há país que viva tal situação sem afundar no subdesenvolvimento e em crises constantes, especialmente quando tal gasto público tem por destino, sobretudo, a manutenção de uma máquina pública inchada e ineficiente como é o caso do Brasil. E qualquer novo ajuste está sendo jogado para 2019! E isto dependendo de que governo os brasileiros irão eleger neste final de ano. Em tal cenário, muita cautela é o mínimo que se pode aconselhar neste momento. 

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