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Soja: preços firmes apesar de Chicago


Argemiro Luís Brum

No início de março passado a cotação do bushel de soja em Chicago atingia a US$ 10,66 (primeiro mês cotado). É neste momento que o governo dos EUA anuncia o início do litígio comercial com a China, principal importador mundial da oleaginosa. Tal litígio acaba se cristalizando em julho com a aplicação mútua de tarifas alfandegárias, com reflexos no mundo inteiro! Imediatamente, em Chicago, o mercado da soja sofre um baque, e o bushel começa a ter seu preço em franco recuo.

O mesmo se acentua a partir de junho. A tal ponto que em meados de julho o bushel da oleaginosa atinge a US$ 8,14, seu mais baixo preço nos últimos 10 anos! Portanto, entre o início de março e meados de julho o bushel perde 23,6% de seu valor. Além dos aspectos fundamentais, ligados a uma diminuição das vendas para a China devido à taxação da soja, a futura safra estadunidense se desenhava positiva, com aumento de área semeada, e os Fundos passaram a vender fortemente suas posições diante do litígio comercial sino-estadunidense. Apesar disso, os preços da soja no Brasil não recuaram.

Ao contrário, subiram no período considerado. O que ocorreu? Dois movimentos paralelos acabaram eliminando o efeito negativo de Chicago. O primeiro está ligado ao forte aumento dos prêmios nos portos brasileiros. Em Rio Grande, por exemplo, os mesmos passam de uma média de US$ 0,66/bushel, em meados de julho de 2017, para US$ 2,08/bushel em julho do corrente ano. Um aumento de 215% no período. Por quê? Porque a demanda sobre a soja brasileira aumenta diante das dificuldades chinesas em comprar a soja dos EUA, a partir do litígio comercial, e também na aquisição de soja argentina devido a severa seca que o país vizinho viveu neste último verão.

O segundo elemento compensador para os preços da soja brasileira veio do câmbio. Diante da proximidade das eleições presidenciais e sua grande indefinição, somada à paralisação das medidas de ajustes na economia pelo atual governo, além da greve dos caminhoneiros e do aumento do juro básico nos EUA, o Real se depreciou significativamente.

Nossa moeda saiu de R$ 3,24 por dólar, na média dos primeiros sete dias úteis de março, para R$ 3,91 na primeira semana de julho. Uma depreciação de 20,7% no período. Com isso, o preço da soja no balcão gaúcho, por exemplo, que fechou a primeira semana de março na média de R$ 69,25/saco, acabou subindo para R$ 73,69 na primeira semana de julho, tendo mesmo atingido seu máximo no início de maio, com R$ 77,42/saco. Para comparação, no início de maio de 2017 o balcão gaúcho pagava R$ 58,35/saco e no início de julho do mesmo ano R$ 61,38. Ou seja, apesar da enorme queda das cotações em Chicago, a soja gaúcha se valorizou, em média, R$ 19,07 e R$ 12,31/saco nas comparações anuais de maio e julho respectivamente.

Mas atenção: o quadro pode mudar para 2019! Assunto para um próximo comentário.  
 

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