CI

Tendências - 20/01/2011


Argemiro Luís Brum

NÃO É FALTA DE ALIMENTOS

Os preços internacionais das principais commodities agrícolas começaram a subir, no cenário mundial, a partir de meados de 2006. Os mesmos chegaram ao ápice em julho de 2008, para depois recuarem rapidamente.Todavia, a partir do segundo semestre de 2010 voltaram a subir fortemente, se aproximando agora do recorde histórico de meados de 2008. Imediatamente, as principaisinstituições mundiais, como a FAO, acompanhadas por parte da imprensa, passaram a justificar tais aumentos pela falta de alimentos no mundo, resultado de uma conjugação de maior consumo mundial, pela melhoria da renda média,e um menor ritmo de produção global, atrapalhado ainda pelas intempéries. É verdade que, em média, houve um aumento no consumo global, pela melhoria da renda média, em muitos países. É igualmente verdade que as intempéries têm provocado reduções localizadas na produção de alimentos. Todavia, o problema da alta no preço dos alimentos não se encontra aí. O que se tem é um movimento especulativo, causado pelo capital financeiro, que desde meados de 2006 passou a apostar nas bolsas de commodities, assim como apostava em ações, fundos, títulos públicos e outros derivativos. A desregulamentação financeira levou a um abuso do sistema, tornando a economia real refém da chamada economia virtual. Tanto é verdade que a relação “oferta x demanda” pouco conta nestes últimos anos. Soma-se a isso, a má distribuição de renda mundial, que se perpetua, e temos um quadro mais claro do jogo comercial em andamento.

NÃO É FALTA DE ALIMENTOS (II)

Segundo o USDA, em seus relatórios, a oferta total (produção mais estoques) de todos os grãos alimentícios, no ano de 2005/06, era de 2,41 bilhões de toneladas. Enquanto isso, o consumo total chegava a 2,02 bilhões. Assim, os estoques finais de reserva atingiam a 393,16 milhões de toneladas. Para 2010/11, a estimativa desde mês de janeiro/11 indica uma oferta total mundial de 2,67 bilhões de toneladas, para um consumo total de 2,24 bilhões. Assim, os estoques finais de reserva somariam 431,16 milhões de toneladas. Ou seja, no período em que os preços mundiais destas commodities agrícolas dispararam a produção aumentou em 10,8%, enquanto o consumo global cresceu na mesma proporção (10,9%). Mesmo assim, os estoques finais subiram 9,7% no período. E isso que 2010/11 é ano de La Niña, ou seja, sinônimo de prejuízos agrícolas mundo afora. Tanto é verdade que um ano antes os estoques finais mundiais chegaram a 490,37 milhões de toneladas (um aumento de 24,7% sobre o existente em 2005/06). Assim, os preços mundiais dos alimentos não estão subindo pela falta dos mesmos, embora a demanda global tenha melhorado um pouco. A alta dos preços agrícolas é resultado de pura especulação do sistema financeiro que, dentre outras coisas, igualmente busca compensar o baixo valor do dólar no mercado mundial. E, em assim o fazendo, cria a falsa impressão aos produtores rurais de que um novo ciclo está nascendo, enquanto concretamente carrega mais gente para a pobreza por absoluta falta de renda para se alimentar a estes preços.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.