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TODA RAÇA TEM SUAS LINHAGENS


Paulo Lot Calixto Lemos

Como diretor-tecnico da Salutti, presto assessoria nutricional a um grande numero de clientes. Nesta qualidade, fui convidado por Tarcisio Lemos de Andrade – diretor-superintendente da Propala Agropecuária, empresa do grupo de seu avô materno Domiciano Lemos – para acompanha-lo e a seu pai, Jairo Andrade, grande pecuarista no estado do Pará, em visitas a alguns confinamentos no estado do Paraná.

Pois bem, pegamos seu avião, um bimotor muito arrumadinho, e decolamos rumo ao extremo oeste do referido estado. Durante a viagem, Jairo Andrade, prosa boa que só vendo! Foi contando causos... Contou que está escrevendo um livro, uma espécie de autobiografia na qual disserta sobre sua infância e juventude em Passos, sobre sua família e sobre suas andanças e negócios pelo Brasil afora. Prosa vai, prosa vem, aproveitando o fato de eu ser como seu filho Tarcisio, um legitimo representante da raça Lemos, “sangue azul” e puro de origem, Jairo Andrade começa a dizer:

- Vai ter de tudo no meu livro, amigos e inimigos, negócios bem feitos e negócios mal feitos... Sabe, seu avô capitão Alvim Lemos vai estar nele!

- É mesmo sô Jairo! Fico lisonjeado com isto. Dizem que um homem para poder afirmar que realmente viveu neste mundo, deve no mínimo plantar uma arvore ou escrever um livro...

- Arvore eu já plantei de caminhão, agora me falta o livro – sorriu, e continuou – mas vou lhe dizer outra coisa: você sabia que existem quatro linhagens na raça Lemos?

- Uai, não sabia não! Como é que é isso sô Jairo?

- Bem, - ele respondeu com o olhar matreiro – existe a linhagem dos Lemos velhacos, é tanta veiacágem que dá até medo! Tem outra que é a linhagem dos Lemos preguiçosos, é preguiça que até dói!

“Oh loco! A coisa tá ficando preta” – pensei comigo mesmo, mas ainda esperançoso com as 2 que faltavam, continuei:

- E as outras duas linhagens sô Jairo?

- A terceira é a dos Lemos bobos, bobo de babar! E por ultimo vem a linhagem dos Lemos bons, de gente trabalhadora...

“Pelo menos salvou uma” pensei novamente. Terminada a contundente explanação, e apesar da relação custo/ beneficio estar extremamente desfavorável (3:1), ainda arrisquei:

- E eu sô Jairo? ond’é qu’eu tô nisso aí?

Ele olhou bem nos meus olhos e respondeu:

- Amanhã eu te falo...

- Então tá, amanhã eu pergunto.

Por favor, não me perguntem se “amanhã” eu perguntei, pois to criando coragem até hoje! Continuando a historia, algumas semanas mais tarde, estávamos no estado do Acre, eu e o também grande fazendeiro Dr. Nilo Lemos, advogado pelo doutor, mas fazendeiro pelo labor. Após uma semana auxiliando-o em sua criação de gado nelore, voltamos para a capital, Rio Branco, e no restaurante do aeroporto, enquanto aguardava meu vôo, contei a ele, pois se tratava de um Lemos da mesmíssima linhagem minha, a historia que o Jairo havia me dito.

Assim que o causo terminou, adentrou no restaurante toda uma comitiva de gente muito alinhada, homens e mulheres, todos muito bem perfumados e vestidos com modernas roupas de viagem. Ao vê-los, Nilo imediatamente falou:

- Olha lá, vou lhe apresentar alguns primos que também moram por aqui, aquilo lá é tudo Lemos! Devem de tá indo pra festa da famiage dos Lemos...

Fui apresentado aos primos e a historia era esta mesmo. O VII encontro da grande família Lemos iria se iniciar no dia seguinte em Ribeirão Preto. Sentamos então todos na mesma mesa, onde fui logo incentivado pelo Nilo a contar-lhes a bendita historia das linhagens. Riram meio que sem graça, e a prosa mudou de rumo. Mas, o Dr. Nilo estava encabulado, não esquecia do assunto, e querendo cochichar, mas de um modo que todos podiam ouvir, falou com sua voz grave e propositalmente caipira:

- Lot, cê sabe que o Jairo num tá munto errado não! Eu tava pensando... Os veiáco eu sei munto bem os qual’é que são... Os preguiçoso são aqueles bundudo da canela grossa, diz que nessas festa eles num alói nem prá buscá cerveja! Já a linhagem dos bobo, é daquela Lemada que tem mania de casá primo cum primo, nasce tudo picolé, viu um, viu outro, tanto na bobice como na parecença!

Aproveitei então, para fazer aquela minha “antiga” pergunta que não havia sido mais perguntada e indaguei:

- Nilo, já que ocê tá munto sabido, vou te perguntar o que eu não tive coragem de perguntar pro Jairo: E nóis, ondé que nóis tá nessa historia toda?

Com a cara mais malandra que ele pode arrumar praquele momento, acompanhada da risada mais boa do mundo, Nilo respondeu:

- Na linhage dos Lemos bão, trabaiadô! É lógico!

Paulo Lot Calixto Lemos

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