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TROCANDO SEIS POR MEIA DUZIA


Paulo Lot Calixto Lemos

Outro dia, lendo uma entrevista do médico Drauzio Varela, aquele do programa “Fantástico” da rede Globo e autor do livro “Estação Carandiru”, lembrei-me da seguinte passagem:

Alguns anos atrás, um parente nosso, pressionado pela esposa, procura um medico para um check-up geral.

Após um bom exame clínico, o médico lhe pede uma maratona de exames... Eletrocardiograma, ecocardiograma, triglicérides, colesterol, ácido úrico, diabetes, endoscopia, ultra-som, etc. Até exame de próstata o infeliz teve que fazer.

Com os resultados na mão volta ao consultório, e ansioso aguarda o médico, que concentrado, analisa tudo aquilo. Após intermináveis minutos o médico inicia o diagnostico:

- O senhor está muito bem, nada de diabete, nem de gastrite, nem de ulcera. Próstata perfeita, zero de gota e hemograma normal... Mas tem um problema muito sério, seu colesterol está bastante elevado. É questão de vida ou morte, o senhor vai ter que fazer um regime!

- Regime? Mas eu não sou tão gordo assim doutor! Tá certo que eu como bem, mas não sou gordo, uai!

- Não será uma dieta para emagrecer, mas um regime especifico para abaixar o colesterol. Carne vermelha, por exemplo, nem pensar!

- Minha nossa senhora! Desde criança eu sou igual “onça”, e agora não posso mais comer carne doutor?

- De jeito nenhum, pelo menos até o colesterol abaixar para níveis seguros. Mas o senhor vai poder comer “muiiita” coisa ainda! – e começou a prescrever o regime...

O coitado saiu do consultório até com falta de ar... A todo minuto lia e relia a diaba da receita, e muxoxava:

- “Num tem base! Adeus minha bisteca gorda... E o churrasquinho de domingo? E o ovinho estalado? Esse medico tá doido! Nem leite pode?! Não vai ser o coração que vai me matar, vou morrer é de fome mesmo! Onde é que eu tava com a cabeça quando entrei naquele consultório...”.

Agora era tarde... Com a supervisão da patroa, começa o regime a todo vapor. Frutas, Verduras, legumes, massas, cereais, franguinho grelhado, peixinho ao molho... Passaram-se dois meses, e já com novos exames, volta novamente ao consultório.

O medico lê os exames. Lê de novo, olha pra cara do paciente, coça a cabeça, e por fim fala:

- Estou vendo que o senhor não fez o regime! Seu colesterol subiu!!

- Como não doutor? Esse regime quase me mata de fome! Por mais que eu coma “o que pode”, mais fome eu sinto!

- Não é possível! O que é então, que o senhor come por dia?

- Só coisinha à toa que não sustenta! No café da manhã meia dúzia de pão com margarina, light. No almoço duas pratadas de arroz com feijão, uma bacia de salada, peito de frango e duas ou três melancias. Na volta do dia um “piréx” de gelatina, e na janta um pacote de macarrão, filé de peixe e uma travessa de arroz com pirão. Só coisinha boba doutor!

Bem, voltando ao doutor Varela, ele defende uma completa revisão no conceito de que comer menos carne vermelha evita problemas cardíacos, pois segundo ele, a convicção de que carne faz mal evoluiu de “hipótese a dogma” sem que tenha havido qualquer tipo de comprovação cientifica. Afirma ainda que (exatamente como aconteceu com nosso parente) na tentativa de substituir as calorias da carne vermelha, as pessoas acabam ingerindo grandes quantidades de pães, massas e doces. Alimentos muito mais perigosos, uma vez que trazem obesidade e também problemas do coração, e que cultivar esta meia verdade pode se tornar muito prejudicial à população.

Argumenta também, baseado num artigo publicado recentemente na revista “Science”, o qual trás profunda análise química do perfil lipídico de um bife tipo T-bone, que tal corte apresenta em sua composição 50% de proteína e 50% de gordura. Mas, observando-se a analise desta gordura, constata-se que metade dela é composta de ácido Oléico (bom para o coração, pois só faz subir o colesterol “bom”), 15% de ácido esteárico (não faz mal, pois não faz subir o colesterol “ruim”), 5% é gordura insaturada (ótima para o coração). E o restante, 30%, é gordura saturada (a que faz mal, pois em parte, faz subir o colesterol “ruim”). Concluindo, do bife inteiro, apenas 15% é composto por gordura que pode fazer mal ao coração.

Finalmente, gostaria de dizer que não estou aqui para fazer apologia da picanha, pois não sou médico de gente, mas sim, médico veterinário, e como dizia meu tio Cícero Parenti – o “Caôio” – doutor de cachorro não é doutor!

Paulo Lot Calixto Lemos

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