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VERDADES ETERNAS


Paulo Lot Calixto Lemos

Em 1855, o cacique Seattle, chefe da tribo Suquamish, enviou uma carta ao então presidente dos Estados Unidos da América, senhor Francis Pierce, pois seu governo pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios.

Hoje passados 147 anos, acabamos de assistir o fracasso das reuniões da Cúpula Mundial Sobre Desenvolvimento Sustentável, também chamado Rio+10, realizado em Johannesburgo, África do Sul, onde tentaram firmar contratos visando reduzir a miséria e a degradação ambiental, e da qual participaram os presidentes de quase todos paises do mundo. A ausência mais sentida foi a do senhor George W. Bush, presidente dos Estados Unidos, líder do país mais poderoso, assim como do maior poluidor mundial do meio ambiente. Constatamos então, estarrecidos, que o governo americano em sua ânsia de poder e riqueza, se recusou, entre outras coisas, a ratificar o protocolo de Kyoto, dando provas mais uma vez que, em sua cega arrogância não dá e nem nunca deu a mínima importância às verdades eternas contidas na referida carta de 147 anos atrás... A carta:

Grande chefe de Washington,

Mandou dizer que quer comprar nossa terra. Nós vamos pensar nisso, pois sabemos que se não o fizermos o homem branco virá com armas e a tomará para si. Mas antes, peço também que pense nesse assunto: como se pode vender e comprar o céu ou calor da terra? Tal idéia é estranha para nós... Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água, como então podem compra-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas de nosso tempo... Cada folha reluzente dessas arvores, cada grão de areia desse chão, cada véu de neblina desses ares ou cada gota de água cristalina desses rios são sagrados para nós, pois tudo isso ficará para sempre, muito além do nosso próprio tempo...

Sabemos que o homem branco não compreende nosso modo de viver, para ele um torrão de terra é apenas mais um torrão de terra, pois não considera a terra como sua amiga e muito menos como sua mãe. Antes, para ele a terra é como uma inimiga, e ele traiçoeiramente, como um estranho, rouba dela tudo quanto necessita, e sem remorso deixa pra trás apenas o tumulo de seus pais, e gananciosamente aniquila o futuro de seus filhos. Nada respeita. Esquece tanto seus antepassados como os direitos de seus filhos.

Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. O barulho e o cheiro delas é terrível para nossos sentidos. Que espécie de vida é essa que não se pode ouvir a voz do corvo ou a conversa dos sapos à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento e o aroma de pinho purificado pela chuva do meio dia. O ar é precioso para o homem vermelho, pois é dele que todos os seres vivos respiram. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira, mais parece um moribundo, que é insensível ao mau cheiro que inala...

Se eu decidir aceitar sua oferta imporei uma condição: os homens brancos devem tratar a terra como sua mãe e os animais como seus irmãos. Devem ama-los como nós os amávamos, protege-los como nós os protegíamos, e nunca esquecer como era a terra quando dela tomaram posse. Vi milhares de búfalos apodrecendo nas pradarias abandonados por vocês, que os abatiam a tiros disparados do trem. Sou um selvagem, mas não compreendo como um “cavalo de ferro” possa ser mais valioso que um búfalo... Nós, peles vermelhas, os matamos apenas para sustentar nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais desaparecessem da face da terra o homem também morreria em sua solidão. Pois tudo que acontece aos animais afeta também o homem. O homem branco não tece a teia da vida, é antes um de seus fios, e o mal que fizer a essa teia, fará a si próprio. A terra não pertence ao homem, o homem é que pertence a terra, e tudo que fere a terra, fere também os filhos da terra.

Nossos filhos vêem hoje seus pais humilhados na derrota. Nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam os dias envenenando o corpo com bebidas ardentes e alimentos adocicados. Mas não tem grande importância como passaremos nossos últimos dias, eles já não serão muitos...

Porem, de uma coisa temos certeza, e talvez algum dia o homem branco também venha a descobrir: O nosso Deus é o mesmo Deus. Julgam que possam ser os únicos donos Dele, assim como também desejam possuir nossa terra. Ele é o mesmo Deus de todos nós e de tudo que existe. Quer bem tanto ao homem branco quanto ao homem vermelho. A terra também é amada por Ele, causar dano a ela é demonstrar desprezo ao seu Criador. Os homens brancos também desaparecerão, e acredite, mais cedo que qualquer outra tribo, pois continuarão sujando a cama em que dormem, e uma noite sucumbirão, sufocados em seus próprios excrementos...

Este dia será para sempre lembrado, pois marcará o fim da vida e o começo da sobrevivência.

Paulo Lot Calixto Lemos

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