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Como determinar a otimização na produção de leite


Luciene Lomas Santiago
Para a sobrevivência no setor leiteiro, como em qualquer atividade produtiva, deve-se obter lucro. E nesta conta não entra apenas a receita obtida com a venda do produto após descontadas as despesas com a produção, ou seja, a renda líquida (Receita líquida = Renda bruta – Despesas). Fazer uma relação direta, do quanto foi gasto no ano corrente com o total de leite produzido e a renda gerada com o mesmo é um equívoco, pois outros custos de produção devem ser considerados. É preciso conhecer o custo de produção, o custo do litro de leite produzido, e no cálculo destes custos é essencial determinar qual a produção ótima da propriedade, e quais os fatores interferem nesta produção. O termo otimização é a ação de produzir condições apropriadas para que os mesmos funcionem da melhor maneira possível. Um procedimento realizado para que seja obtido o valor excelente de uma grandeza (grandeza: tudo aquilo que pode ser medido, contado).
O processo de produção, de qualquer atividade ou setor, deve ser otimizado através do aumento de produção, para reduzir os custos de implantação. No caso da produção de leite não é diferente, o produtor vai ter maior lucratividade no setor quanto maior for a quantidade de leite produzido. Isto é conhecido como Economia de Escala, que resulta dos:
- insumos indivisíveis: por exemplo, um tanque de expansão, que comporta até X litros leite. Para tornar rentável a aquisição do mesmo, este deve ser explorado ao máximo. 
A exploração aquém de sua capacidade, não permite a otimização do mesmo.
- benefícios de especialização: ter funções específicas para cada funcionário, no caso de grandes propriedades leiteiras, na qual por exemplo, um funcionário que só trabalhe na linha de ordenha ou apenas com alimentação dos animais permite que os mesmos ganham agilidade em suas funções e com isso passam a ter melhor desempenho, como se fosse uma linha de montagem numa indústria. Isso pode ser um fator importante no aumento na produção o que acarretaria em diminuição no custo médio de produção e, se diminui custo, aumenta o lucro. 
Quando uma empresa começa com uma quantidade de produção abaixo da Escala Mínima Eficiente (EME) – exemplo, uma propriedade que produz 200 kg de leite/dia, sendo que o mesmo teria capacidade ótima em 350 kg de leite/dia - um aumento na produção diminuiria seu custo médio, pois o aumento na produção diluiria os custos fixos. Uma vez atingida a EME, através de um ótimo de produção, um aumento na produção (para 400 kg de leite/dia, por exemplo) não diminuiria mais o custo médio. 
Pelo contrário, quando a empresa aumenta sua produção, o custo médio de produção de longo prazo aumenta, devido ao aumento nos custos dos insumos (exemplo:  necessidade de expandir as instalações, contratação de um novo turno de funcionários para realização de três ordenhas ao invés de duas, alimentação adicional para os  animais). Desta forma, o aumento da produção demanda mais insumos e isso eleva o custo médio de produção. Isto é conhecido como Deseconomia de Escala. Deve-se avaliar se o sistema de produção que preconize a criação de gado especializado, que necessita de trato no cocho, dentre outras exigências por parte destes animais, voltada para um sistema produtivista, com alto custo de produção, podem estar negligenciando, involuntariamente, um sistema mais lucrativo, apesar de menos produtivo, utilizando um gado mestiço criado a pasto, que por sua menor exigência e maior rusticidade, possa ser mais rentável, por ter menor custo de produção. 
Suponha um rebanho cujo ótimo de retorno da produção seja atingido com 15 litros de leite/vaca/dia em duas ordenhas diárias, com o custo de produção do litro de leite de R$ 0,40. O produtor resolve aumentar a sua produção passando a fazer três ordenhas diárias, pois os animais possuem genética para responderem a esta ordenha 
adicional. Ele não fará investimentos em bens de capital, como a compra de animais ou aumenta das instalações, mas para fazer a terceira ordenha ele terá um aumento no custo variável, pois precisará contratar funcionários ou pagar hora extra aos seus funcionários, gastará mais energia, desinfetantes, água, dentre outros para o funcionamento da terceira ordenha, além da alimentação que deverá ser reforçada, pois os animais terão sua exigência nutricional elevada para produzir mais. O aumento na produção de leite não é linear, aumentando apenas de 15 a 20% além da quantidade de leite que é produzido com duas ordenha, ou seja, os animais produzirão 3 litros de leite a mais. Neste caso, temos um exemplo de como funciona os retornos decrescentes, ou seja, a produção aumenta, mas a uma taxa decrescente, como pode ser visto no gráfico 1, com uma curva menos inclinada quando comparada com o aumento de uma para duas ordenhas. 

Neste caso, ao se fazer a análise de custo, detecta-se que para produzir 1 litro de leite a mais na terceira ordenha, o mesmo passa de R$ 0,40 para R$0,45 (Gráfico 2).
A redução no custo de produção, observado no gráfico abaixo, quando se passa de uma para duas ordenhas (ponto b) se deve à diluição do custo fixo, pelo aumento da produção de leite até atingir um ótimo de produção. A partir deste ponto b, qualquer aumento na produção de leite será seguido de um aumento do custo de produção, em decorrência do aumento com custo variável (ponto c).
Resumindo, devemos priorizar o que interessa ao produtor: o lucro da sua atividade. Deve haver uma eficiência econômica e isso não está necessariamente atrelada a altos índices de produtividade. Vacas de alta produção são interessantes de serem criadas em situações onde terra é cara, a mão de obra é escassa e o capital disponível é abundante. Nas condições do Brasil, cujas características se contrapõem ao encontrado nos países de clima temperado, a criação do gado mestiço a pasto seria o de maior retorno financeiro, pois o custo de produção é reduzido. Neste caso, não se pensa em maximizar a produção, e sim otimizar, mesmo porque depois de diluído os custos fixos e atingido um ponto ótimo de produção, a produção excessiva gera retornos decrescentes, reduzindo o lucro.
 
 

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