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Desafios da Fruticultura Irrigada


Luiz Soares

A região semi-árida brasileira numa decisão invejável, optou pela implantação do maior complexo produtivo, com o advento da chamada agricultura irrigada. Hoje a região é detentora do maior índice de tecnologia, se comparado com aquele utilizado em paises como Israel, Espanha, Chile e Estados Unidos (California). No tocante a produtividade, nada deixa a desejar, mesmo considerando a vida útil de pós-colheita para algumas frutas frescas.

Em termos econômicos, assumimos um relevante papel na balança comercial brasileira, assumindo em alguns estados a performance de 49% na pauta de exportações, como é o caso do Rio Grande do Norte. No âmbito social, somos responsáveis pelo maior indice de oferta de empregos diretos e indiretos do setor primário brasileiro, com uma relação de 5 pessoas para cada hectere irrigado, durante um perído de safra de aproximadamente 9 meses.

Pois bem. Esta revolução empresarial fica muito a desejar, se comparada com o esforço empresarial e a contrapartida governamental, em todos os níveis administrativos. O governo transforma todos os fatores de riscos inerentes à atividade, juntamente com uma absurda carga tributária para os produtores rurais; e, simplesmente usa essa capacidade produtora para se vangloriar do PIB obtido a custa de sangue, suor e até mesmo muitas lágrimas e desespero.

Especificamente, vencemos os desafios da irrigação localizada, através da adoção da irrigação localizada (gotejo, mine e microaspersão); vencemos o desafio da água, tanto em quantidade como em qualidade, através da perfuração de poços rasos e profundos, mesmo sabendo que isto pode faltar de uma hora para outra; vencemos no comércio internacional, com a abertura de movos e duradouros mercados, mesmo competindo com países como a Africa do Sul e América Central; vencemos a luta contra a falta de estrutura portuária; vencemos no manejo da água de irrigação, fertirrigação, no tratamento da pós-colheita, no transporte intermodal; vencemos na diversificação da exploração, ao conduzir plantios diversos com qualidade reconhecida em todos os mercados mundiais; vencemos a adversidade climática, "geradora" da chamada pobreza rural.

Mesmo contando em saldo positivo e com tantas vitórias, nos tornamos reféns irremediáveis da lentidão governamental em compreender e implementar de forma oportuna e suficiente, a sua capacidade em criar mecanismos de suporte a este colossal patrinômio formado. Continuamos refens da falta de estradas, especialmente aquelas que servem diretamente as unidades produtivas, ou as chamadas estradas vicinais.Também incluem-se neste elenco, todas as estradas estaduais e federais, visto que o país pela sua continentalidade, optou burramente pelo transporte rodoviário, em detrimento ao transporte ferroviário e marítimo de cabotagem.

A formação de verdadeiros polos geoeconômicos, exemplificados por Petrolina e Juazeiro(Pernambuco e Bahia); Mossoró/Assú e Chapada do Apodí (Rio Grande do Norte); perímetros irrigados no Ceará, Piaui, Alagoas e Sergipe; externando uma vocação natural, não foram suficientes para fazer desapertar no governo, uma necessidade de complementar e transferir confiança ao setor, pela adoção de medidas consideradas de primeira necessidade. Dentre tantas, podemos destacar o tocante ao segmento identificado como Controle Fitossanitário.

Sofremos perdas irreparáveis pela importação de bactéria transportada através de semente do melão, autorizada e liberada pelo Ministério da Agricultura. Depois das denuncias e cobranças de urgência, fomos informados que os procedimentos seriam modificados, no sentido de preservar a qualidade tanto das sementes como das mudas importadas. Mas... cade os laboratórios para tal finalidade? No caso da semente do melão, já contamos com 110 dias que as sementes foram remetidas pela Delegacia do Ministério da Agricultura, com sede em Natal, para o CENARGEM nada de resposta. Resultado o lote continua preso, sem liberação. Ora já dava para se ter plantado duas safras, visto que o nosso ciclo produtivo é de aproximadamente 120 dias. Haja paciência.

Na fragilidade do processo, sofremos ataques danosos da Mosca-branca, da Mosca-minadora, do Pulgão, do Trips, dos Ácaros e tantos outros. Somos bombardeados por Nematoides, responsáveis sileciosos por perdas incomensuráveis. Somos atacados por Virús e Bactérias de todos os tipos, sem que possamos ao menos saber de qual raça. Somos atacados pelo racionamento de energia, inclusive pagadores de multas incompreensíveis, visto que o plantio de perenes não entendem da burrice dos homens, em afirmarem ser possível reduzir as suas necessidades hídricas. Sem água o plantio morre, não tem solução de meio termo; e, para se ter água é preciso existir energia. Veja que não estamos tratando do custo da bendita energia.

Como fragilidade, também nos deparamos com a falta de uma diretiz, no tocante ao uso da água de irrigação segundo a idade fenológica do plantio, da nutrição via fetirrigação em quantidade e qualidade do adubo exigido. Não sabemos de colocamos uma colher de chá, sopa ou uma pá de adubo diariamente. Não temos garantia de que os índices adotados aleatoriamente, para a determinação da Lâmina de Irrigação, ou seja índices climáticos e o chamado de Coeficiente de Cultivo, se ajustam aos nossos solos e condições agroclimáticas. Não dispomos de adubos com tendência ácida, visto que tanto o solo do semi-árido como da água dos poços, apresentam incidência de sais. Ora, se tanto o solo como a água de irrigação já apresentam sais, como justifica colocar mais adubo com tendência alcalina. É o mesmo caso que receitar açucar para um diabético em estágio crônico!

Muito recentemente constatou-se um sintoma que foi denominado de amarelão, no cultivo do melão. Não temos certeza se seja um simples caso de deficiência nutricional (macro ou micronutrientes), visto que existe uma completa desclorofilização das folhas, ou seja virús, ou seja problema de solo, enfim, admite-se seja um virus transmitido pela Mosca-branca. Ora, até que se identifique e seja formulado normas para a sua erradicação e ou conviência, haveremos de sofrer uma perda de aproximadamente 30% na qualidade do fruto, no tocante o Brix (teor de açucar) recomendável para as nossas frutas. Muitas teorias com poucas decisões práticas e, nesta odisséia já estamos nos conformando em mais uma vez, cair em nossas costas, mais um fardo que nos levará, quem sabe para o fundo do poço. O pior, é continuaremos a ser taxadas de incompetentes e inadimplentes.

Resumindo, é preciso que o Governo assuma de vez a sua responsabilidade. É preciso criar e convocar os orgãos de pesquisa, aparelhado-os convenientemente, como form de servir de suporte ao processo produtivo. Basta olhar de lado para entender que a sociedade produtora está cumprindo fielmente com a sua parte, faltando, entretanto ao governo, assumir de fato e de direito, a sua posição de parceria e nunca de mesquinez ao querer apenas usufruir dos resultados, como mero arrecadador de impostos sem trazer ou fazer nada em prol de um setor que só tem saldos positivos a dar ao povo e a nação brasileira.

Esperando, continuaremos a afirmar: Não basta falar, é preciso provar. ]

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