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Insetos na lavoura: um olhar sobre as cigarrinhas do milho


Irriga Global

Por Mirta Petry, doutora em ciência do solo e professora do curso de agronomia da UFSM; e Luiz Henrique Copetti Marques, estudante de agronomia do 6º semestre da UFSM e bolsista no Sistema Irriga®.

 

A cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis), é um inseto de tamanho reduzido, que provoca injúrias nas plantas de milho pela sucção de seiva, injeção de toxinas e transmissão de fitopatógenos, principalmente aqueles relacionados aos enfezamentos. A ocorrência desta doença, no milho, tem aumentado de importância nos últimos anos, podendo causar sérios prejuízos às lavouras, em todas as regiões de produção. O incremento na incidência dessa doença deve-se a quebra na sazonalidade dos plantios de milho (isto é, o aumento dos cultivos na chamada safrinha ou 2ª safra) e a sucessão de cultivos (milho sobre milho). Significa que há milho sendo cultivado em qualquer estação do ano (sobretudo nos sistemas irrigados), o que tem causado maior pressão de insetos e doenças sobre essa cultura. Quando se identifica o enfezamento, os dados normalmente já são irreversíveis, assim que, o olhar deve ser na identificação da presença de cigarrinhas, sobretudo nos estádios iniciais do ciclo do milho. Os danos causados pelo ataque das cigarrinhas pode levar a 100% de perda da produção, fazendo com que várias estratégias de manejo devam ser adotadas pelos produtores, sobretudo a eliminação das plantas voluntárias (hospedeiras), o tratamento de sementes, o uso de materiais resistentes e/ou mais tolerantes ao enfezamento, além da rotação de culturas.

 

O que é a causa (o inseto) e a consequência (doença)?

Dalbus maidis, também conhecida como as cigarrinha-do-milho, é um inseto de coloração branca ou acinzentada (Figura 1), de 0,4 a 0,5 cm, possuindo duas manchas escuras na coroa da cabeça, o que a torna de fácil identificação. As mesmas levam em torno de 24 dias para chegarem a fase adulta, pois, anteriormente a essa fase, passam por dois períodos: o embrionário e a fase de ninfa. O primeiro dura cerca de 5 a 10 dias, enquanto o segundo ocorre dos 14 a 16 dias; após atingirem a fase adulta, as cigarrinhas apresentam vivência por 45 dias, embora essa duração do ciclo, em dias, modifica-se de população para população e com a temperatura ambiente. A duração do período ninfal decresce com o aumento da temperatura, enquanto a longevidade da vida adulta é maior em temperaturas entre 25 e 30ºC (Sábato e Landau, 2010).

 

Ocorrência e evolução

Habitualmente, a cigarrinha do milho é encontrada apenas no milho, localizando-se no cartucho das plantas, pois é onde a cigarrinha irá se reproduzir. Os danos da cigarrinha são indiretos, pois ela é caracterizada como um vetor de doenças. Os insetos vetores são sugadores, (os mais comuns são os pulgões), além das cochonilhas, tripes, mosca-branca e, é claro, as cigarrinhas. O que faz esse vetor? Tipicamente, a cigarrinha se contamina dos molicutes1 ao se alimentar da seiva das plantas infectadas; os molicutes permanecem alojados nas glândulas salivares da cigarrinha e, ao se alimentar da seiva de uma planta sadia, esse conteúdo salivar é transmitido para essas plantas. Ou seja, a mesma irá transmitir a doença de maneira indireta, ou seja, pelo simples fato de alimentar-se de uma planta doente, pois succiona a seiva e transmite o vírus e molicutes. Afirma-se que devido a cultura do milho estar presente quase todo ano nas áreas cultivadas, sendo tanto em safra quanto em 2º época, a cigarrinha migra de uma lavoura para outra, caso uma área esteja no final do ciclo e outra no início. O seu aparecimento pode advir desde a fase de estabelecimento da cultura, possuindo a preferência do ataque em plantas jovens.

 

Como ela ataca?

As cigarrinhas alimentam-se da seiva de plantas doentes da cultura do milho, e é a partir dessa seiva contaminada que a mesma adquire os molicutes, que são basicamente parasitas que vivem dentro das células dos hospedeiros, mais conhecidos como espiroplasmas e fitoplasmas. Com base nisso pode-se dizer que a cigarrinha passe a ser um problema, pois ela irá transmitir esses microrganismos patogênicos. Com a transmissão desses patógenos, os mesmos espalham-se nos feixes vasculares da planta, infectando o floema dessa planta. Além dos molicutes a cigarrinha tem a capacidade de transmitir a virose da risca, causado pelo Maize rayado fino vírus (MRFV). Assim, o enfezamento e a virose da risca podem ocorrer simultaneamente ou de forma isolada, o que gera danos econômicos para a cultura.

 

O que ela causa?

Devido à grande incidência populacional de Dalbulus maidisassociado a também presença de milho guaxo ou tiguera, a doença denominada enfezamento se alastra nas lavouras de milho, podendo ocorrer dois tipos da doença, o enfezamento pálido (Corn Stunt Spiroplasm) e o enfezamento vermelho (Maize Bushy Stunt) apresentando alguns sintomas característicos como estrias cloróticas, que vão desde a base até o ápice das folhas e avermelhamento das folhas, respectivamente. Ressalta-se a normalidade da ocorrência dos sintomas aparecerem em uma planta de maneira simultânea. Além dos microrganismos patogênicos (Mollicutes) a planta enfezada pode apresentar o Vírus da Risca, levando a ocorrência da doença Maize rayado fino vírus (MRFV), que apresenta pequenos pontos cloróticos lineares, sendo que essas lesões podem ser agrupadas de menor desenvolvimento da planta, por isso é citado o complexo de enfezamento, em virtude de a planta apresentar todos os sintomas ao mesmo tempo.

 

Danos econômicos

As cigarrinhas do milho são vetores para a doença denominada enfezamento, sendo esse pálido ou vermelho. O enfezamento em plantas gera  alguns danos econômicos que, na maioria dos casos, podem ser irreversíveis, ocasionando perdas totais da lavoura, destacando-se: Redução do tamanho da planta (nanismo), da capacidade de produção de fotossimilados, da absorção e assimilação de nutrientes da planta; encurtamento de entrenós; espigas improdutivas; ocorrência de super-espigamento; grãos mal formados e chochos; espigas com falhas e redução no tamanho de espigas; quebra de colmos.

 

Controle

O melhor controle para o complexo de enfezamentos, tanto para o enfezamento pálido e vermelho quanto o vírus da risca é o manejo integrado, devido a população das cigarrinhas se alojar em plantas guaxas (de ocorrência espontânea) e servir de inóculo dos patógenos. Assim, é importante eliminar as plantas tigueras, fazer a sincronização de plantio, juntamente com a utilização de cultivares de milho resistentes e/ou tolerantes. Outro aspecto importante é a rotação de culturas e de híbridos de milhos resistentes ao enfezamento, tratamento de sementes industrial (sendo essa a mais importante, devido a proteção no estádio inicial da cultura) e aplicações de inseticidas para o controle do vetor, visando extinguir os vetores das doenças.

 

Em conclusão, a cigarrinha é um inseto extremamente bem adaptado às condições tropicais do Brasil, e que encontrou ambiente altamente favorável devido a presença de lavouras de milho em praticamente todas as épocas do ano. A manutenção das plantas guaxas no campo, sobretudo aquelas com sintomas de enfezamento, favorece sobremaneira a permanência dessa praga e posterior infestação de plantas sadias. O rápido progresso do enfezamento causa prejuízos significativos à produção, sendo necessário identificar o problema (a presença da cigarrinha) o mais cedo possível, de modo a eliminar o vetor, diminuído os riscos à produção de milho.

 

*Luiz Henrique Marques Copetti é aluno do 6º semestre de Agronomia, da Universidade Federal de Santa Maria. É bolsista no Sistema Irriga®, sob a orientação da Prof. Mirta T. Petry.

Molicutesou “mollicutes” é uma classe de bactéria que não apresenta parede celular. São parasitas de animais ou plantas, que vivem dentro das células ou sobre as células de hospedeiros. Os molicutes vivem somente em células do floema (onde circula a seiva) de plantas doentes, sendo transmitidos pelas cigarrinhas, ao se alimentar da seiva de plantas doentes.

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