
MORTA
Tinha a beleza cálida da rosa
Era morena, lânguida, nervosa
Dera-lhe Deus tão régia formosura
Que só se via nessa bela criatura
A suprema ventura
Assim tão bela mais nenhuma havia
Era uma flor dos trópicos, sadia
Inda o som de sua voz escuto
Ah! Mas um dia, num dia
Ficou envolta em luto
E junto dela
Aquela casa cheia de alegria
Findou-se, morria
Eu soluçava a beira de seu leito
Certo de que afinal acabara tudo
O coração parara em seu peito
E seu lindo olhar pelo terror desfeito
Ficara mudo, eternamente mudo
Ah! Que saudade louca
De sua doce e rósea boca
Da serena elegância de seus passos
Do calor terno de seus abraços
Amor! Vivemos a sonhar com a sorte
Sem nunca lembrar, que existia a morte
Deus! Ela ao túmulo descia
Foi sepultada
Jaz inerte, num caixão deitada
Hoje é cinza, é pó, é nada
Essa mulher querida
Que um dia
Foi tudo para mim na vida.
Alvim da Silva Lemos (Capitão)
*Escrito em 05/11/1934, ocasião da morte de sua esposa