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O brasileiro como investidor


Vinícius André de Oliveira
O perfil do investidor brasileiro vem se alterando ao longo da última década. De acordo com o questionário chamado de Análise do Perfil do Investidor (API) aplicado nos bancos quando uma pessoa deseja realizar uma nova aplicação financeira, somente 6% são considerados conservadores. Outros 36% são considerados moderados e 52% moderados com propensão a investir em opções de maior risco. Existe hoje um leque muito grande de opções para investimento e ao alcance de praticamente todas as classes sociais, cada um adequado a uma fase da vida ou a um objetivo específico. Esses investimentos são classificados basicamente como de alto, médio e baixo risco e o investidor se adapta conforme seu perfil e o tempo que possui disponível para cuidar de suas aplicações.


Entretanto, a grande maioria dos brasileiros pode ainda ser considerada juvenil ou até mesmo infantil na hora de decidir sobre onde alocar suas economias. Basta, para isso, prestar a atenção na enorme quantidade de imóveis para vender e alugar em todas as cidades, fruto da ignorância e da cultura típica de país emergente de possuir um bem físico como patrimônio e da falsa segurança que ele representa. O cidadão norte-americano troca de casa em média 9,5 vezes ao longo de sua vida. Já o brasileiro 1,8 vezes. Ao olharmos esse dado podemos ter a dimensão do que essa cultura representa. Isso porque em um passado recente onde a inflação era altíssima e descontrolada, o único bem que não perdia tanto valor era justamente o imóvel. Porém, isso é passado e – tomara - não volta mais. Já passou da hora do investidor brasileiro amadurecer seus conceitos.

Existem diversos fatores nos quais podemos fundamentar que o investimento em imóveis quase nunca é a melhor opção. Analisemos, para tanto, as seguintes situações:

Investimento em imóvel para a venda futura: depreciação; valor do imóvel sofre com as oscilações de mercado e especulação; retorno do investimento extremamente demorado; custos de manutenção (IPTU, condomínio, etc); custos de transação (ITBI, corretagens, anúncios); baixíssimo grau de liquidez; desajuste na oferta e demanda o que dificulta a venda;

Investimento em imóvel para alugar: depreciação; necessidade de investimentos durante toda a vida útil do imóvel a fim de mantê-lo no mercado; oscilações de preços; custos de manutenção (IPTU, condomínio, etc); custos de transação (corretagens, anúncios); o valor do aluguel representa em média 0,5% o valor do imóvel, inferior a qualquer investimento atrelado a taxa básica de juros do governo – Selic e com riscos muitas vezes menores; e por fim o fator vacância, ou seja, o tempo em que fica vazio.

Por tudo isso, ao contrário do que a maioria pensa, investimento em imóveis jamais será de baixo risco. Essa ilusão se dá também por conta da ausência de preços diários como acontece com ações, por exemplo. Essa ausência cria a falsa impressão de que não há flutuações ou quedas no valor do bem.


Temos de considerar também que o funding do mercado imobiliário vem se esgotando o que no futuro poderá contribuir para que o crédito fique mais caro para a construção civil e os valores dos imóveis tendam a subir. As últimas projeções apontam um ritmo de crescimento do crédito imobiliário em 30% ao ano e que dessa forma o funding seria suficiente por mais dois anos. Com a Selic em queda e a poupança - origem do crédito imobiliário - tornando-se cada vez menos atrativa, gera uma expectativa no mínimo de apreensão para o setor e para os investidores.

Portanto, há inúmeros outros investimentos contendo menos riscos, com um período de retorno mais curto e com grau de liquidez maior como, por exemplo, os fundos DI, renda fixa, tesouro direto, ações, entre outros. Sem contar que o investidor poderá compor sua carteira de acordo com o seu perfil adequando as porcentagens em cada tipo de investimento. Basta para tanto, um pouco mais de informação e de desapego a essa cultura emergente enraizada para que o investidor brasileiro amadureça diante de tantas opções.

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