CI

O governo titubeia na economia


Argemiro Luís Brum

Passados 40 dias do início do novo governo, notam-se dois grandes movimentos, cada um com uma postura diferente. Por um lado, é claro e positivo o “distencionamento” nas relações sociais, e até mesmo políticas, com decisões objetivas em relação a vários pontos que estavam muito mal gerenciados: meio ambiente; relações internacionais; imagem no exterior; defesa da democracia; atendimento a categorias menos favorecidas; saúde; educação etc. Por outro lado, na economia o governo titubeia, deixando muitas dúvidas até o momento.

Enquanto o ministro Haddad se esforça para estabelecer boas relações com o mercado, o Presidente Lula demonstra estar com dificuldades, fazendo declarações que mais atrapalham do que ajudam. Desde o questionamento sobre a importância de uma âncora fiscal, até as dúvidas sobre a autonomia do Banco Central. Além disso, para atender necessidades urgentes no lado social, dentro das promessas de campanha, houve o esperado aumento dos gastos públicos (aceito pela maioria, diante da urgência dos fatos), comprometendo ainda mais o ajuste fiscal, sem um encaminhamento de como isso será realmente enfrentado. Ora, também na economia o governo não pode tergiversar.

E, por enquanto, vem levantando muitas dúvidas desnecessárias. Por pressões ideológicas, não demonstra convencimento da importância de adotar uma linha econômica austera para com as contas públicas. E o discurso “responsabilidade fiscal com responsabilidade social”, embora importante, não se sustenta por muito tempo. O país precisa de ações concretas de saneamento fiscal. A resposta do Banco Central, com a manutenção da Selic em 13,75% ao ano, associada à justificativa escrita para tal, mostra que o quadro está longe de ser tranquilo nesta área. Mesmo porque a herança deixada pelo governo anterior não foi boa, exigindo rápidas respostas. Além disso, a promessa de uma definição do arcabouço fiscal para abril, deixará o mercado operando em cautela até lá, num ambiente em que a desconfiança no setor já está instalada. Não surpreende, portanto, que as projeções iniciais do mercado são de um PIB novamente medíocre para 2023, com algo entre 0% e 1% apenas, passada a recuperação do tombo pandêmico.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.