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O Marketing da Carne Bovina e sua Competitividade no Agribusiness


Luciene Lomas Santiago

O processo de globalização da economia impõe grandes desafios ao setor agropecuário, obrigando as empresas nacionais a aumentarem sua competitividade, tendo como parâmetros níveis de qualidade internacionais, com baixos custos de produção. Essa qualidade é influenciada por todas etapas de produção e por todos elementos da cadeia produtiva, ou seja desde a criação do boi até a sua forma de presentação nas prateleiras dos supermercados. No comércio da carne bovina, em boa parte dos países sul-americanos, sempre houve total despreocupação com o consumidor. A ampla preferência do consumidor pela carne bovina levou a cadeia produtiva a ignorar que todo processo produtivo só termina no momento em que alguém consome aquele produto, e que a satisfação desse alguém é a parte mais importante. Dentro deste contexto, temos que admitir que toda a cadeia produtiva deve contribuir para construir a imagem do produto. No caso da carne bovina, ela tem ignorado sistematicamente esse princípio básico com uma complexidade de fatores que vão desde uma multiplicidade de raças, passando pela falta de cortes prédefinidos e que tenham um mesmo nome em todas as regiões do país até ao fato de se ter grande parte da carne consumida oriunda de abastes clandestinos. Faltam campanhas publicitárias que informem ao consumidor sobre a vantagem competitiva da carne que porta o selo do Serviço de Inspeção Federal, cujo mesmo é uma garantia de qualidade sanitária do produto, além do que o abate clandestino desarticula o setor industrial. Já a cadeia produtiva do frango, soube posicionar-se frente às tendências do consumidor moderno, que procura versatilidade (várias formas de se preparar o mesmo tipo de corte) e conveniência (praticidade de se preparar os pratos com os cortes já definidos) nas refeições; soube através de uma economia de escala e de avanços tecnológicos, diminuir os preços ao consumidor e, ao mesmo tempo, influenciar a dona-de-casa, através de boa apresentação e da mídia do produto. Aliada a estes fatos, o consumidor de carne de frango fica despreocupado com relação a sanidade desse produto. A cadeia produtiva de suínos segue a mesma linha da cadeia de frango, contudo no Brasil ainda apresenta um menor consumo quando comparada às demais.

Marketing, diferente dos que muitos pensam não significa propaganda, esta faz parte do processo, mas é apenas um dos constituintes do marketing, que em português significa marcadologia, ou seja, estudo de mercado. O marketing de uma empresa ou de uma cadeia produtiva, visto que todos os segmentos que a compõe (fazenda, frigorífico, supermercado, açougue), devem funcionar como tal, é dividido em três fases e na qual o sucesso de um produto está diretamente relacionado: 1o) marketing estratégico, no qual se define qual o mercado e o que produzir; 2o) marketing operacional, que é formado pelos 4P do marketing: price (preço), product (produto), place (locais de distribuição) e promotion (promoção, propaganda); 3o) pesquisa de mercado, que pode ser feita antes ou após o lançamento de um produto e, tem como finalidade saber o potencial do mercado ou do produto a ser lançado, o volume do mercado, quanto do mercado a empresa domina (market share) e, finalmente saber sobre o consumidor, o que ele deseja, quais as suas preferências, qual a sua capacidade para adquirir determinado produto.

O mercado consumidor brasileiro é dividido em três segmentos: A) 60% do mercado consumidor é constituído por indivíduos de baixa renda, para os quais o preço é o fator mais importante. Este é o mercado que vem perdendo fatias substanciais para a carne de frango. Para atender aos requisitos desse mercado, que tem pouco acesso a carne mas tem grande potencial de aumento de consumo, tem-se que pensar em produzir animais a baixo custo, o que não significa que seja de má qualidade; B) é formado por 30 a 33% dos consumidores que pensam prioritariamente na questão da saúde, na qual em primeiro lugar a carne tem que ser magra e, C) cerca de 7 a 10% da população constitui o mercado de alto poder aquisitivo, que demanda basicamente maciez e suculência, para isso, tais carnes precisam apresentar marmorização e cobertura adequada de gordura. Os componentes dos Marketing tais como: produtor, preço, embalagem do produto, marca, distribuição (facilidade de encontrar o produto), processamento, promoção e propaganda agem com maior ou menor extensão, dependendo do caso (produto) específico, desempenhando o papel de persuadir o consumidor a comprar. Estes componentes estão interrelacionados; é a combinação deles e não cada um isolado que resultará na venda e posteriormente na satisfação do consumidor, que deverá retornar a consumir este produto.

Para ilustrar como deve trabalhar os componentes do Marketing segue um simples exemplo: um rapaz entra num bar e faz um gesto para o garçom: levanta um dedo indicando No 1; este por sua vez se aproxima do cliente e muito educadamente diz: "Infelizmente não temos esta que o senhor deseja. O senhor gostaria de EXPERIMENTAR?" O rapaz consulta sua carteira, percebendo que poderá gastar um pouco mais e responde: "Prefiro a que DESCE REDONDO". Então o garçom imediatamente vai buscar a mesma. Como dá para perceber, nenhum nome de produto ou marca, foi mencionado acima, apesar de todos sabermos do que se trata e quais as marcas foram citadas. Isto é o que a mídia e a propaganda faz em nossas mentes. "Na propaganda, a parte da mente do consumidor em que se deseja estar e quem são os concorrentes, naquele lugar passam a ser a razão crítica do sucesso". Contudo, como dito anteriormente, a venda de um produto é uma combinação de fatores e não apenas a propaganda, que apesar de muitas vezes ser apelativa, como "o melhor alimento para seus filhos" e coisas do gênero, nem sempre resultará na venda. No exemplo acima, o que resultou na venda da que DESCE REDONDO e não das demais? Todas tem uma propaganda que realmente fica em nossas mentes, mas não foi isso que resultou na venda. A No 1 foi a primeira escolha do cliente, contudo ela não foi vendida porque não houve distribuição, não havia a mesma no bar. Caso o cliente quisesse EXPERIMENTAR ele o poderia assim faze-lo, mas ele consultou sua carteira e percebeu que dinheiro não seria o problema para que ele pudesse se satisfazer com um produto de uma marca já por ele conhecida, não que ele tivesse algo contra a outra, mas os consumidores quando detém poder de compra eles tem esta característica de se manter fiel a uma marca conhecida, para ele dinheiro não é o problema, ele quer ter sua vontade satisfeita. Da mesma forma ocorre com os demais produtos. Qualquer setor produtivo necessita adequar-se para sobreviver. Com base nisto, a cadeia produtiva de carne bovina deverá traçar suas estratégias, estabelecer metas a serem atingidas e posteriormente traçar diretrizes e medidas a serem tomadas. Depois de concluído, estas ações devem ser avaliadas para saber se os objetivos foram alcançados.  

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