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O planejamento de uma empresa rural


Luciene Lomas Santiago

o sucesso de um empreendimento começa com um bom planejamento, onde são feitas projeções e avaliados os custos. As antigas propriedades rurais, hoje devem ser encaradas como empresas, cujo objetivo é a receita final.

Para que uma empresa rural possa ser bem sucedida devemos primeiro planejar, caso contrário, a mesma está fadada a falência, caso os recursos não sejam aplicados com a devida competência, como descrito por Mário Hamilton Villela em "A Pecuária pede socorro" publicada neste site em 07/06/2006.

Então o que devemos fazer? Planejar. E esta ação depende de qual fase do processo de implantação sua empresa está, mas vamos partir do princípio que é a fase mais apropriada para se fazer um planejamento.

Antes de se investir numa propriedade rural, o investidor deverá decidir o que produzir e, esta decisão depende de alguns itens que devem ser avaliados criteriosamente. Dentre eles:

1.      A existência e o potencial de mercado para aquele produto: deve-se fazer uma pesquisa de mercado previamente antes de se abrir uma empresa, pois não justifica se investir num produto que não tenha mercado ou não tenha uma agroindústria na região que compre a matéria-prima ou tem pouca expressividade e sem capacidade de expansão. Por outro lado, se for constatado que existe um mercado ávido ou em expansão, pode-se fazer um projeto que vise a intensificação da produção e investir em tecnologias de maior impacto.

2.      A localização e o tamanho da propriedade: estes itens são importantes auxiliando na escolha do que produzir e no dimensionamento do rebanho, visando otimizar a área da propriedade. Se a propriedade está distante do centro consumidor ou da agroindústria, é um produto altamente perecível e tem dificuldade de entrega ou coleta ou para ser armazenado na propriedade, vale a pena repensar se este será um bom produto para ser comercializado, às custas do elevado preço para a sua distribuição, se tornando o gargalo da cadeia agroindustrial, e quem arca com este custo é o produtor.

O tamanho da propriedade é imprescindível para que se possa fazer a evolução de rebanho ao longo dos anos chegando ao dimensionamento ideal do mesmo que favoreça a máxima exploração da propriedade. Através do dimensionamento e dos conhecimentos técnicos sobre taxa de lotação da pastagem, rotação de pastagens e potencial forrageiro é possível saber se a propriedade espaço para ser auto-suficiente para produção de alimento para os animais, pois, sabe-se que a nutrição é responsável por 50-70% do processo produtivo quando há necessidade de suplementação. Por isso o sistema de criação exclusivamente a pasto, quando possível, os custos de produção são reduzidos e esta redução de custos é importante para maximização dos lucros. Por outro lado, em propriedades pequenas, cuja capacidade de suporte a pasto é baixa tem-se duas opções: ou dimensiona a criação para um numero menor de animais e com menor retorno financeiro devido à baixa escala de produção, ou se opta pelo confinamento destes animais e arca-se com os custos de suplementação. Para isto deve-se levar em conta o custo da terra e o valor do produto na venda, para saber se o retorno financeiro compensará o custo com o confinamento dos animais. O tempo de confinamento e a topografia da propriedade também são importantes de serem avaliados na elaboração do projeto, pois vão interferir nos custos de implantação, manutenção e produção da propriedade.

3.      O capital disponível para se investir: para que se possa dimensionar o tamanho do rebanho, o tipo de produção, a espécie, a raça a ser criada, o sistema de produção (extensivo, semi-intensivo, intensivo), as instalações a serem construídas ou aproveitadas, a tecnologia a ser utilizada, dentre outras, deve-se saber qual o capital disponível para o investimento, para que se possa adequar o projeto ao bolso do produtor. Um bom exemplo do qual deve-se definir o projeto de acordo com o capital disponível seria: um projeto para implantação de uma propriedade leiteira cujo INVESTIDOR não tem disponibilidade para um investimento elevado e cuja região é bastante quente e úmida. Existem algumas raças e sistemas de criação a serem analisados. A produção de leite de vacas holandesas de boa genética dão um bom retorno financeiro, desde que alguns quesitos sejam seguidos. Esta raça apresenta uma alta produção leiteira devido a sua seleção genética de décadas, contudo precisam de uma nutrição que dê suporte a esta elevada produção de leite, sendo mais exigentes nutricionalmente quando comparada a outras raças. Além disso, são animais que sofrem com o estresse calórico e precisam de instalações adequadas ou alternativas que proporcionem conforto térmico e que tem um determinado custo de implantação e manutenção. Uma alternativa para este produtor com menor recurso financeiro seria a produção de leite a pasto utilizando animais mais resistentes a elevadas temperatura e umidade e com boa produção leiteira, como as raças Girolanda, Gir leiteiro dentre outras.

4.      Como já mencionado os fatores bioclimáticos da região, em que está situada a propriedade, vão determinar o tipo de criação mais adequado, a raça mais adaptada, a exigência ou não de instalações adequadas e que minimizem problemas com estresse térmico. Estes fatores interferem na produção animal e nos custos de implantação da empresa.

5.      A facilidade para se contratar mão-de-obra qualificada e especializada: auxiliam no bom desempenho da criação, já a dificuldade para se encontrar estes funcionários na região pode levar a contração de pessoas incapacitadas e com baixo conhecimento do processo produtivo, interferindo nos momentos em que deve haver tomadas de decisão e redundando em prejuízos econômicos. Uma alternativa seria a capacitação dos funcionários, para isto os custos dos mesmos devem ser considerados.

6.      Conhecimento do processo produtivo: não interfere diretamente na elaboração do projeto, o custo deste conhecimento estaria relacionado à contratação dos serviços de médicos veterinários, zootecnistas, agrônomos, ou outros. Contudo, o conhecimento por parte do produtor de etapas importantes do processo de produção e de que sua empresa faz parte de uma cadeia, sendo que todo processo produtivo só termina com o consumo daquele produto levando a satisfação do cliente, faz com que todo o processo seja voltado para atender a esse cliente e por vezes alterações no projeto são necessárias visando atender aos anseios do consumidor. Por conseguinte, o projeto da empresa rural deverá estar calcado no conceito que preconiza maior entendimento entre os diferentes elos da cadeia produtiva.

Como podemos perceber, o planejamento de uma empresa é extremamente importante, pois através dele podemos prever custos, reavaliá-los e fazer cortes em gastos desnecessários, otimizando a viabilidade do empreendimento. Mudar de atividade antes de iniciá-la, quando ainda está no papel percebendo que a mesma é inviável ou não traz o retorno esperado, ou mesmo reestruturá-la ainda na fase de projeto, é mais barato que fazê-lo quando se detecta estes problemas quando a mesma já está em funcionamento. Além do mais uma propriedade que surge a partir de um projeto bem elaborado, invariavelmente já é encarada com profissionalismo cuja meta da mesma é gerar receita.

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