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OOH CRIATURA!


Paulo Lot Calixto Lemos

É isso mesmo, ôoh Criatura! Com certeza muitos de vocês de minha geração e gerações acima vão se lembrar dele... O preto fortão, careca, de sorriso largo e um inseparável chapeuzinho de couro estilo cangaceiro na cabeça. Ele andava pela cidade de Passos nos anos 60 até meados dos 70.

O Criatura, cujo nome real era Benedito Mestre, foi criado lá na fazenda do patrício João Mattar, popularmente conhecido por João Compadre, pai do atual presidente da CASMIL, o Sr. José Calixto Mattar – o sô Zé Grosso.

Depois de mais velho, aposentado, mas ainda forte veio morar em Passos, onde se tornou muito popular. Criatura era boa gente, muito prosa e supersticioso ao extremo, costumava afirmar que já tinha ido ao inferno por diversas vezes. Tinha muitas historias a respeito do além.

Certa vez, enquanto tagarelava entre amigos sobre suas andanças nos domínios do “dito cujo”, do “coisa ruim”, uma respeitada beata, gracejando, começou a questiona-lo sobre o tal do inferno:

- Mas me diga Criatura, o que o capeta faz com você quando você aparece por lá?

- Ah dona “Cacirda”, dessa urtima vez o “dito cujo” me pôs pra trabalhiá de carroceiro. Serviço pesado que só vendo...

- Não me diga! Então com certeza você tem noticia de muita gente conhecida que está por lá!?

- Mas isso é o que mais tem dona patroa!! Nesse dia memo eu topei com uma... O carroção que eu tava, era puxado por uma junta de mula muito desarrumada, e na hora que eu chamei a mais preguiçosa no estalo da “jibóia”, a danada da mula gritou: Devagá Criatura! Num tá vendo que quem tá aqui é a “Romuarda”, irmã da “Cacirda” tua patroa!?

As historias do Criatura eram daí pra cima... Reza forte era com ele também. Voltando no tempo, quando ele ainda morava lá na roça do Seu João Compadre, estavam de pouso na casa séde os ainda jovens Zé Grosso, Zinho Calixto e ele. Era tardinha já querendo escurecer. Banho tomado, janta na barriga... Estavam se preparando para dormir quando o Criatura disse:

- Tá cedo ainda moçada, eu vou ali na roça do João Bendê apanhar umas melancias pra gente comer... Ocês num dorme não que vai ser um pé lá e outro cá.

Passado algum tempo, a noite já tinha entrado, aparece o Criatura com um saco cheinho de melancias... E foi dizendo:

- Ocês vai comendo aí, que eu vou ter que ir lá no corgo me banhar...

- Banhar pra que Criatura? Se todos nós já tomamos banho! – indagou o Zé Grosso.

- Hiii sô Zé, acontece que eu tô todo “borrado”!

- Borrado? Mas o que aconteceu homem?

- Uai! Eu tava lá panhando as melancia, quando de repente o tar João Bendê destampou numa gritaria medonha: quem ta aí? Responda que eu tô armado!! E veio vindo...

- Minha nossa! Disse o Zinho. – aquele homem é danado de bravo!

- A sorte – continuou Criatura – que tava no lusco-fusco e ele só via vurto... Ai eu chamei uma reza brava, rezei pro santo do “Desvurteio”! “Prá mode” ele me transformar num cupim. Foi dito e feito, virei na hora um baita cupinzão, desses escuros que dá em beira de brejo...

- Mas então porque essa sujeira toda Criatura? – perguntou novamente o sô Zé.

- Ai é que tá. O danado do João Bendê veio chegando e pra enxergar melhor, ele entestou de subir no cupim... Lá de cima olhou pr`um lado, olhou pro outro... Nada! Num achou nada.

- E daí homem! Acaba logo essa historia! – gritou impaciente Zinho Calixto.

- Parece que o safado achou a posição lá em riba muito confortável e devia de tá apertado. Em primeiro escuitei umas trovoada, “dispois” senti uma quentura escorrendo no lombo, mas o que acusou memo foi quando me chegou nas venta a catinga da cagança!

Ôoh Criatura!!!

Paulo Lot Calixto Lemos

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