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Parte 9. Redução de Queimadas em Pastagens da Amazônia Ocidental. Manejo racional das pastagens


Newton de Lucena Costa

A pecuária de corte e/ou leite, atualmente, além de ser uma atividade competitiva, tem de ser sustentável biológica, ecológica, social e economicamente. Tal objetivo só pode ser alcançado com o binômio profissionalismo e tecnologia. A intensificação da pecuária na Amazônia Ocidental, via manejo de pastagens, dispensa plenamente a utilização da prática das queimadas como ferramenta de manejo de pastagens, por possibilitar o melhor aproveitamento da forragem produzida durante ano. Na Amazônia Ocidental, a pecuária de corte e/ou leite vem nos últimos anos apresentado um acelerado desenvolvimento. Com um efetivo bovino superior a 18 milhões de cabeças, a pecuária, atualmente, e uma das atividades de maior expressão econômica da região. A pecuária tem nas pastagens cultivadas o principal recurso para a alimentação dos rebanhos. Na época chuvosa, devido a alta disponibilidade e bom valor nutritivo da forragem, observa-se um desempenho satisfatório dos animais. No entanto, durante o período seco ocorre o oposto e, como conseqüência ha perda de peso dos animais ou redução drástica na produção de leite, alem de uma diminuição acentuada da capacidade de suporte das pastagens.

O suporte alimentar dos rebanhos e constituído, basicamente, por pastagens cultivadas de gramíneas. No entanto, face a utilização de praticas de manejo inadequadas (germoplasma pouco adaptado a região, pressões de pastejo elevadas, ausência de fertilizações de manutenção etc.), alem de serem estabelecidas em solos de baixa fertilidade natural, estas pastagens tem apresentado limitações quanto a produtividade, qualidade da forragem e persistência.  No Estado predominam pastagens de gramíneas, destacando-se as de capim-colonião (Panicum maximum), notadamente em solos de media a alta fertilidade; jaraguá (Hyparrhenia rufa), brachiarias (Brachiaria decumbens, B. ruziziensis e B. brizantha cv. Marandu), além do quicuio-da-Amazônia (B. humidicola), as quais apresentam algumas restrições agronômicas. O colonião e o jaraguá apresentam produções de forragem bastante reduzidas durante o período seco. Por outro lado, as brachiarias, a exceção de B. brizantha cv. Marandu, sao muito susceptíveis às cigarrinhas-das-pastagens (Deois incompleta e D. flavopicta) e, potencialmente, podem causar fotossensibilização em bovinos e ovinos. O quicuio-da-Amazônia, mesmo sendo resistente ao ataque da referida praga e um excelente hospedeiro para a sua multiplicação, alem de apresentar limitações de ordem qualitativa.

A flutuação estacional da produção de forragem tem sido apontada como um dos fatores que mais contribui para a baixa produtividade dos rebanhos, sendo responsável pela queda acentuada na produção de leite, perda de peso dos animais e pela grande redução na capacidade de suporte das pastagens, a qual é estabelecida tomando-se por base um período de doze meses. Em Rondônia, avaliando-se o desempenho agronômico de 20 ecótipos de Panicum maximum, verificou-se que a produção de matéria seca durante o período de estiagem contribuiu com taxas entre 20 e 37% da produção total anual; no entanto o ecótipo CPAC-3060 foi o que apresentou melhor distribuição estacional de forragem, sendo sua produção durante o periodo seco de 46% em relação a produção total. Já, a cultivar Colonião apresentou a maior concentração de rendimento durante o período chuvoso (80%). Recentemente, tem aumentando o interesse pela utilização de P. maximum, através das cultivares Vencedor, Tanzânia e Mombaça, Centenário, Massai, as quais apresentam maior produção de forragem de qualidade superior, com reflexos altamente positivos na desempenho animal. No manejo de pastagens, a taxa de lotação é o fator mais importante, pois ela determina a taxa de rebrota, as composições botânica e morfológica da pastagem e, consequentemente, a qualidade da forragem disponível. Estes efeitos ficam mais evidentes quando se incrementa a carga animal e o período de pastejo e relativamente longo, de modo que a taxa de crescimento da pastagem é insuficiente para atender a demanda de forragem para consumo pelos animais. Diversos trabalhos têm mostrado que o animal em pastejo seleciona uma dieta que resulta em composições química e botânica diferentes daquelas obtidas nas analises da forragem disponível para os animais. Estudos conduzidos na Embrapa Gado de Corte verificaram que a concentração de nitrogênio nas amostras oriundas de animais fistulados no esôfago são semelhantes aquelas das folhas das camadas superiores da pastagem, o que sugere que os animais selecionam, principalmente, folhas dos horizontes superiores da pastagem. Considerando-se que as camadas superiores e inferiores são distintas, tanto em quantidade como em qualidade, na estrutura física, na densidade dos componentes (folhas, caules e material morto) e na composição química, tal comportamento pode influenciar o consumo de energia digestível e, consequentemente, a produção animal.

Um modelo geral para descrever as relações entre carga e produção animal foi desenvolvido na Universidade da Flórida por Gerald Mott. Quando a taxa de lotação é baixa os ganhos/animal são máximos. Conforme as taxas de lotação aumentam, os ganhos/animal diminuem, mas os ganhos/área aumentam até o ponto em que os decréscimos no ganho de peso individuais não são compensados pelo maior numero de animais, iniciando-se um decréscimo gradual da produção/área, que pode chegar a zero quando as taxas de lotação são muito elevadas. Logo, a utilização da taxa de lotação adequada, para cada espécie de gramínea, resultará no equilíbrio entre os ganhos por animal e por unidade de área, alem de assegurar a estabilidade e persistência da pastagem.

No Acre, observou-se que a elevação da taxa de lotação (0,5; 1,0 e 1,5 animais/ha), em pastagens de Panicum maximum cv. Colonião, refletiu em reduções lineares na disponibilidade de forragem e ganhos de peso/animal, contudo implicou nos maiores ganhos/ha. Da mesma forma, avaliando-se a produtividade animal de quatro gramíneas forrageiras tropicais (Brachiaria decumbens, Panicum maximum cvs. Colonião e Guiné, Hyparrhenia rufa), verificou-se um efeito linear e negativo da taxa de lotação (0,8; 1,2; 1,6 e 2,0 UA/ha) sobre o ganho de peso/animal. Apesar das excelentes condições climáticas observadas durante o transcorrer do experimento, além da adubação química efetuada (300 kg/ha de superfosfato simples e 200 kg/ha de cloreto de potássio), a utilização de cargas de 1,6 ou 2,0 UA/ha foram consideradas muito altas para a região.

A utilização de praticas adequadas no manejo de pastagens de alta produção e uma necessidade para se evitar a degradação. O pastejo rotativo pode se constituir num sistema adequado para se atingir tal objetivo e proporcionar aumentos significativos na produtividade animal, embora as vantagens do sistema rotativo sobre o continuo sejam contestadas. Entretanto, reconhece-se que no caso de espécies cespitosas, que apresentam rápida elevação dos meristemas apicais, a adoção do pastejo rotativo, facilita o manejo destas pastagens. Não obstante, considera-se viável que à longo prazo, faz-se necessário a adoção de algum sistema de pastejo intermitente, principalmente quando se utilizam taxas de lotação relativamente altas, de modo a favorecer a persistência da pastagem e assegurar uma produção animal mais estável. Em Rondônia, em pastagens de Setaria sphacelata cv. Kazungula, avaliadas durante dois anos, verificaram que independentemente da taxa de lotação, o pastejo rotativo (14 dias de ocupação e 52 dias de descanso) resultou na obtenção de ganhos/ha significativamente superiores aos registrados com o pastejo continuo (255; 257 e 260 vs. 123; 91 e 74 kg/ha, respectivamente para cargas de 1,0; 1,5 e 2,0 UA/ha). Ademais, a disponibilidade de forragem com o pastejo rotativo foi o dobro daquela observada com o pastejo continuo. Da mesma forma, em pastagens de Hyparrhenia rufa, durante um período de avaliação de três anos, verificaram que o pastejo rotativo, independentemente da carga animal (3,0 ou 3,6 an/ha), forneceu maiores ganhos de peso por animal e por área, além de forragem mais rica em proteína bruta, fósforo e cálcio, em comparação com o pastejo contínuo. No entanto, não foram detectados efeitos significativos, entre sistemas de pastejo (contínuo ou rotativo), na produtividade animal de bovinos de corte pastejando Digitaria setivalva, manejados sob diferentes taxas de lotação (4,0; 5,3 e 6,7 an/ha). Contudo, a disponibilidade final de forragem, após um período de quatro anos, foi maior com a utilização do pastejo rotativo (2,3 t/ha de matéria seca) em relação ao continuo (1,2 t/ha de matéria seca). Em Rondônia, para pastagens de P. maximum cv. Tanzânia, submetidas a pastejo rotativo (7 dias de ocupação por 21 dias de descanso), considerando-se a disponibilidade, distribuição e a qualidade da forragem, recomendou-se a utilização de cargas animal de 2,0 e 1,0 UA/ha, respectivamente para os períodos chuvoso e seco. Já, para pastagens de Paspalum atratum cv. Pojuca, devido a suas elevadas taxas de crescimento, as cargas animal sugeridas foram 3,0 e 2,0 UA/ha, respectivamente para os períodos chuvoso e seco.

Newton de Lucena Costa - Embrapa Amapá

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