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Pensar como planta


Ricardo Moncorvo Tonet

 Muitas vezes já ouvimos um ditado que diz “não há doenças, há doentes”. E assim, além dos fatores da carga genética e os fatores do próprio meio, boa parte dos males que afligem os seres humanos estão relacionados a algum problema interligado ao estresse, vida sedentária e alimentação inadequada. Muitas vezes esses fatores agem de forma integrada. Portanto, deve–se sempre buscar o equilíbrio, evitando–se qualquer tipo de excesso.

Além disso, coexistem no organismo humano, uma infinidade de bactérias, vírus e outros microorganismos, que ficam aguardando uma queda nas nossas defesas imunológicas para, enfim, poderem atuar e nos causar algum tipo de problema.

Suponho que essa premissa também seja verdadeira para outros mamíferos, outros animais, insetos e, por que não plantas? E daí surge o questionamento.

Plantas, pelo que entendo não precisam sair por aí fazendo atividades físicas! Com relação ao estresse, as plantas sofrem eventualmente com uma seca prolongada; ou um solo encharcado, ou com baixas temperaturas, geadas..., mas em alguns casos, um determinado nível de estresse é requerido até mesmo para uma planta florescer e frutificar, como, por exemplo, no caso das plantas cítricas.

Assim sendo, a alimentação pode ser um fator decisivo na questão de plantas sadias ou no surgimento de pragas e doenças. E, quando falamos de alimentação em plantas cultivadas, estamos pensando em adubação, seja via solo ou foliar, e nesse caso, alguns questionamentos precisam ser feitos, por exemplo, com relação à adubação nitrogenada.

Tomemos como ponto de reflexão, a cultura da laranja. Atualmente as principais pragas são insetos sugadores, que estão, normalmente, associados a algum microorganismo causador de doenças.

Esses insetos vão à busca do alimento, uma série de aminoácidos livres (de acordo com a teoria da trofobiose), que são fornecidos, em boa parte pela adubação nitrogenada (muitas vezes excessiva), em brotações novas que ocorrem normalmente, no período da primavera/verão, época em que se realizam as adubações básicas aproveitando – se o período das águas.

Então me pergunto? Será que não estamos preparando um verdadeiro “banquete” para as pragas, adotando esse sistema?
No caso de plantas cítricas, atualmente, as principais doenças são transmitidas por insetos vetores sugadores localizadas nos vasos condutores das plantas (xilema ou floema). Será mera coincidência ou existe alguma semelhança com doenças humanas devido à má alimentação?

Entendo também, que essa ação não deve ser isolada, pois há outros aspectos envolvidos, como questões genéticas e ambientais, mas algumas coisas precisam ser verificadas.

Não tenho aqui a intenção de questionar ou levantar qualquer suspeita sobre os resultados de pesquisas, que determinam os critérios de adubação em boa parte das culturas comerciais, mas atrevo–me a sugerir uma atenção especial à adubação nitrogenada, buscando preparar a planta para uma produção adequada e sadia.

No caso da laranja, por exemplo, mudar a época de adubação, permitindo que a planta acumule compostos hidrogenados; novas formas de adubação (líquida, fertirrigação; orgânica), formas de absorção de nitrogênio (nítrica ou amoniacal).

Talvez, mais importante que tudo isso, seja a necessidade de pesquisas multidisciplinares, onde o fitopatologista, o entomologista, o fitotecnista e o especialista em adubação de plantas, trabalhem de maneira integrada em busca de respostas para o crescente aumento das sérias pragas e doenças que vêm atingindo os cultivos comerciais.

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