CI

Plano (?) agrícola


Argemiro Luís Brum
O governo brasileiro acaba de lançar mais um pacote agrícola de safra, batizado de Plano Agrícola e Pecuário 2010/2011.
O mesmo traz alguns aspectos positivos a considerar :
- aumenta o volume de recursos disponibilizados ao setor primário nacional (R$ 116 bilhões);
- destina finalmente mais atenção aos médios produtores rurais;
- traz uma preocupação com o meio ambiente, valorizando atividades que os gaúchos já conhecem muito bem e de anos : o plantio direto e a integração lavoura-pecuária, incluindo agora a floresta (mato nativo), destinando a isso R$ 2 bilhões.
Todavia, mais uma vez, o pacote peca na sua essência. Não estamos diante de uma proposta de Política Agrícola de longo prazo. Estamos diante, apenas, de um plano safra pontual, não permitindo planejamento nem mesmo de médio prazo.
Por outro lado, o pacote acaba reconhecendo a importância da média propriedade rural na geração de alimentos. Por mais que se diga que é a pequena propriedade que alimenta o Brasil, na prática o próprio governo reconhece que, para segurar a inflação e abastecer a contento o país, necessário se faz contar com o médio produtor.
Afinal, é preciso uma produção em escala superior para abastecer um país do tamanho do Brasil. Enfim, o maior problema do pacote, vício existente nos anteriores, é que entre o volume de recursos anunciado e o que realmente chegará às mãos dos produtores rurais há uma enorme distância.
A burocracia, os desvios no caminho (corrupção) e o endividamento da grande maioria dos produtores rurais, que os impede de ter acesso a novos financiamentos, não permitirá que os recursos realmente alimentem a produção primária de 2010/11.
Assim, no papel o plano ( ?) agrícola é interessante, porém, na prática e diante da real necessidade brasileira, o mesmo está longe de convencer.
Economia começa a frear
Após crescer 9% anualizado no primeiro trimestre deste ano de 2010, a economia brasileira previsivelmente vem sendo freada. Não podia ser diferente, como já analisamos em diversos comentários passados. O Brasil não tem estrutura suficiente para aguentar, de forma sustentável, um crescimento muito superior a 5% ao ano. Assim, ao partir de uma base muito negativa (-0,2% em 2009) a economia, estimulada por medidas de apoio oficiais, explode, sustentada num mercado interno que potencialmente é muito forte no país.
Não se tendo feito as reformas estruturais, a começar pelo Estado, somos agora obrigados a interromper o processo de crescimento. Assim, voltam os impostos em geral sobre os produtos, aumenta-se o compulsório junto aos bancos e aumenta-se o juro básico (Selic), com o mesmo passando a 10,25% anuais em junho.
Alguns efeitos já começam a ser sentidos : a venda de automóveis, tão apoiada até março, já registrou recuo de 9,7% em maio ; o uso da capacidade instalada no país igualmente recua em maio, chegando a 84,9%, contra 85,1% em abril ; a indústria gaúcha, em particular, já desacelerou 1,5% em abril, comparando-se com março, enquanto a produção industrial do Brasil recuou 0,7% no período etc...
Esse choque de realidade, pela nossa incapacidade de ajustarmos o país para um crescimento maior e melhor, cobrará uma conta ainda mais salgada no segundo semestre e em 2011 : a geração de empregos deverá diminuir, os prazos de pagamento do forte endividamento da população começarão a vencer, e a inadimplência no mercado deverá aumentar, podendo concretizar uma nova bolha de crise, desta vez de natureza muito mais interna do que externa.
Será preciso muita consciência e firmeza do atual governo nesses seus últimos seis meses de mandato, para não deixar a situação chegar a um ponto de não retorno.
Será preciso muita sabedoria e rapidez para o novo governo se não quiser se ver inviabilizado economicamente já em seus primeiros meses de ação.
Carnes: mercado externo retoma
Os primeiros quatro meses de 2010 trouxeram um pouco de alento ao mercado das carnes no Brasil, após mais de um ano em dificuldades. As exportações, tanto em volume quanto em valor, melhoraram, embora a base de comparação seja o péssimo primeiro quatrimestre do ano passado.
Assim, na carne bovina o Brasil registrou um aumento de 1,1% no volume exportado, alcançando 598 mil toneladas em equivalente carcaça no período. Em valor, o salto foi de 20,9%, chegando a US$ 1,38 bilhão. Como o mercado interno igualmente melhorou e a oferta de animais para engorda se reduziu, os preços do quilo vivo ao criador se recuperaram um pouco no período.
Quanto a carne suína, os volumes exportados não corresponderam as expectativas, ficando 6,9% abaixo dos registrados nos primeiros quatros meses de 2009 (167 mil toneladas), porém, em valor houve um ganho de 13,4% (US$ 407,6 milhões). Nesse caso, igualmente o mercado interno se fez mais ativo e os preços aos criadores melhoraram bastante, chegando a R$ 2,20/R$ 2,30 o quilo vivo, contra R$ 1,80 há um ano atrás. Todavia, os mesmos ainda estão longe de serem suficientes para compensar as perdas passadas.
Enfim, a carne de frango brasileira registrou uma queda de 1,4% em seu volume exportado entre janeiro e abril deste ano (1,16 milhão de toneladas), porém, acusou um ganho de 18% no valor total obtido no período, ao alcançar US$ 1,99 bilhão. Em termos totais, nossas exportações das três carnes acusam um recuo de 1,2% no volume (1,92 milhão de toneladas) e um aumento de 18,5% no valor exportado (US$ 3,78 bilhões).
Ou seja, o mercado internacional voltou a valorizar as carnes, após o desastre de 2009.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.