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Quem são os mercados?


Argemiro Luís Brum
Nesta crise mundial em que a economia se encontra, torna-se importante entender o que está por trás do capital financeiro, acusado de responsável pelos maiores distúrbios econômicos do mundo nos últimos anos. Como se negociam as ações e a dívida dos Estados? Quem as compra? Quem se esconde atrás da famosa “mão invisível do mercado”, descrita por Adam Smith ainda no século XVIII?
Pois bem, os mercados de capitais são o local onde se encontram e se ajustam a oferta e a demanda de financiamento. Pelo lado da demanda encontramos as empresas e os Estados que buscam se desenvolver e financiar seus déficits e suas dívidas. Pelo lado da oferta, os domicílios, os bancos e as empresas, que buscam investir suas poupanças, seus fundos pessoais ou ainda seus depósitos.
Há dois tipos de instrumentos que permitem mobilizar o dinheiro: as ações (títulos de propriedade de uma fração do capital de uma empresa) e os títulos públicos (títulos de crédito emitidos por um Estado ou uma empresa).
Neste mercado atuam inúmeros agentes, desde corretores que investem o dinheiro dos bancos, até os fundos especulativos, conhecidos como “hedge funds”, passando por gerentes de companhias de seguro, operadores de fundos de investimento ou de fundos de pensão estadunidense. Uns buscam aumentar sua poupança no longo prazo, outros especulam no curto prazo.
O desenvolvimento deste mercado se inicia ainda no século XIX, quando da construção dos grandes projetos de engenharia tipo o Canal de Suez e o Canal do Panamá. Já o mercado da dívida soberana (dos Estados) cresce durante as grandes guerras mundiais. Com o passar dos anos os mercados se desenvolveram e acompanharam o crescimento mundial que os bancos, sozinhos, não podiam mais financiar.
Esses mercados jogam hoje um papel essencial na economia.   
Quem são os mercados? (II)
Particularmente nos EUA, onde sua economia é financiada em dois terços pelo mercado, e na Europa onde um terço da economia depende do financiamento destes mercados. Assim, em 2007, os mercados substituíram os bancos junto às empresas, já que aqueles, derrubados pela crise mundial que eclodiu, fecharam as portas do crédito.
As empresas, desta forma, se voltaram para o mercado financeiro, visando financiar seus investimentos. Com isso, as somas negociadas de todas as formas foram colossais: US$ 37 trilhões nas Bolsas mundiais apenas em 2010 e US$ 64 trilhões no mercado da dívida pública. Na França, o mercado de ações e títulos, se tornou a única fonte de financiamento do Estado.
O Tesouro francês emite, por mês, entre US$ 18 e US$ 24 bilhões de dívida. Neste momento, estariam circulando no mercado mundial em torno de US$ 1,43 trilhão de empréstimos franceses. Teoricamente, tais mercados são uma virtude. O confronto entre compradores e vendedores, via um mecanismo de leilão, permite fabricar um tipo de preço perfeito. Na realidade, a história é outra! A modernização dos mercados, sua sofisticação e uma menor regulação dos mesmos levou a criação de derivativos.
Com isso a famosa “eficiência” dos mercados passou a ser contestada. O processo derrapa um pouco antes dos anos 2000. Wall Street se torna “uma empresa cujo objetivo principal era de desenvolver produtos financeiros cada vez mais complexos, tanto estranhos quanto incompreensíveis, escapando seguidamente a qualquer controle das autoridades de regulação”. Todas as regras de prudência foram ignoradas e o sistema embalou, com os mercados se desviando de sua trajetória.
Os ganhos de curto prazo substituíram a lógica de investir no longo prazo e o sistema entra em implosão, detonando a crise mundial atual.(cf. Le Monde).   

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