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Réquiem para o Arábica


José Eduardo Reis Leão Teixeira
Em toda e qualquer atividade produtiva, projetar cenários é de vital importância.
Estes são identificados e projetados através das ameaças e oportunidades oferecidas pelo ambiente externo, os pontos fortes e fracos existentes no ambiente interno ou dentro da empresa e que tem por finalidade identificar a vocação ou a vantagem competitiva da propriedade, da região ou do país.
Ao procurar elaborar estratégias de políticas cafeeiras, o ponto inicial de partida deverá ser focado na projeção do cenário internacional (ambiente externo), com identificação clara das ameaças e oportunidades e como ambiente interno os pontos fortes e fracos do país de origem.

Feitas as análises e projeções necessárias com as devidas conclusões segue para a fase de tomadas de decisão, as quais se fundamentarão nos seguintes princípios:
- Postura estratégica de sobrevivência acontece quando predomina ameaças e pontos fracos e neste caso o produtor deve procurar tomar decisões no sentido de redução de custos, desinvestimentos e em caso extremos até de liquidação do negócio.
- Postura estratégica de manutenção deve ser adotada quando predomina ameaças e pontos fortes e o produtor deve buscar a estabilidade, um nicho específico do mercado e até a especialização naquilo que é seu ponto forte.
- Postura estratégica de crescimento ou de fortalecimento se dá quando há um predomínio de oportunidades e pontos fracos e o produtor deve aproveitar as oportunidades, inovando, ou expandindo a sua lavoura.
- Postura estratégica de desenvolvimento se dá quando predomina oportunidades e pontos fortes; nessas excelentes condições o produtor deve procurar desenvolver, ou seja, buscar novos mercados ou iniciar produção de cafés diferenciados, fazer reservas financeiras, ajustar sua produção para aproveitar a capacidade máxima da lavoura, benfeitorias, máquinas, equipamentos e equipe produtiva. Buscar estabilidade e se desejar, seria o momento de diversificar a produção.  

Uma vez analisado o cenário identificando os seus pontos fortes e fracos, analisado o ambiente identificando suas oportunidades e as ameaças e determinado os objetivos procura-se identificar a vantagem competitiva da atividade.
As posturas estratégicas são planejadas diante das realidades retratadas pelo cenário inicial. As necessidades destas posturas se justificam por mudanças fundamentais à continuidade da atividade. Os planejamentos estratégicos, gerenciais e operacionais, em conjunto, serão os elementos de sustentação a esta alteração de cenários.

Como o planejamento procura traçar um curso de ação para um futuro, na verdade, ele está construindo esse futuro. E normalmente esse futuro é diferente do presente o que vai exigir das pessoas e organizações mudanças de comportamentos e de procedimentos.

Existem, como sabemos, os cafés robustas/conillon e os arábicas, cada qual com suas particularidades e potencialidades. Desta forma, deverão ser da mesma forma tratados, ou seja, com cenários e políticas diferenciadas.

Em relação aos cafés arábicas a postura de tomada de decisão, que talvez melhor retrate o cenário a ser descortinado e que tenha controle e decisões ao nível da produção seja a de sobrevivência. Nesta, a alternativa sustentável e profissionalmente correta no sentido de provocar a condição de sobrevivência será através da redução de custos, ou seja, através do planejamento operacional. Nesta fase, evidentemente, o planejamento estratégico ao nível de política cafeeira já terá sido devidamente identificado e estabelecido, que necessariamente, será a verdadeira função da equipe de governo, se é que possua ainda alguma lucidez para isto.

Desta forma, após analise e avaliação de todos os fatores que contribuem negativa e positivamente na composição dos cenários pertinentes à atividade cafeeira então a estrada estará com seu perfil traçado, para que provoque maior segurança a quem a seguir.

O que se deve evitar é a condição, praticamente constante de “caçadores da arca perdida”, na qual ninguém sabe para onde ir e nem em que mirar. Nesta, a única alternativa é rezar e implorar por migalhas do governo, as quais não geram nenhuma sustentabilidade, mas apenas a perpetuação de dívidas e escravização financeira e econômica; prato feito para os políticos.

Falamos em ameaças e oportunidades, falamos em pontos fortes e fracos, mas agora vamos citar alguns destes, que poderão clarear algumas idéias.

    1. Está envelhecendo a geração de cafeicultores. Os filhos dos cafeicultores, não mais estão dispostos a enfrentar as adversidades e inseguranças constantes desta atividade; estão procurando novos rumos em outras profissões, geralmente nos meios urbanos e incentivados pelos próprios pais. Percebe-se claramente em reuniões classistas, como a faixa etária da maioria dos participantes aumentou. A cafeicultura ficou velha e com ela os conceitos e dinamismos também envelheceram. Qual a perspectiva de vida desta atividade, se nem ao menos os filhos desejam mais enfrentar tantas desilusões e decepções? Este é um sinal por demais comprometedor, pois além de tudo ele transmite a falta de esperança. E apenas os dirigentes, através de uma luta por políticas eficientemente sustentáveis poderiam produzir. Esta eterna condição de “pedintes” provoca a baixa do moral de quem deseja lutar por algo mais digno e merecedor. Será necessário rever e solicitar por dirigentes comprometidos com os ideais da geração nova, bem como dos “novos tempos”- após esta atual crise financeira -, comprometidos com o todo e não com o parcial.

    2. O Brasil, passando à condição de país em industrialização e ocupando uma melhor posição sócio-econômica no cenário mundial, necessariamente estará valorizando a mão-de-obra, enquanto que na contra mão os cafeicultores a culpam pelos altos custos produtivos, sendo de fato. Este é um caminho sem volta, bem como as constantes verificações das fiscalizações trabalhistas. Sem desejar entrar no mérito desta questão, percebe-se que o país perde em muito a condição de competitividade nesta questão de custo de mão-de-obra, que cada vez mais favorece os paises mais pobres e populações extremamente carentes em todos os aspectos.
Esta condição poderá ser um apelo de caráter extremamente humanitário de tal forma a paises mais desenvolvidos investirem na cafeicultura destes pobres países, e adquirindo a produção dos mesmos estariam efetivando a parcela de contribuição humanitária global, o que não seria o caso do Brasil.
Percebam a gravidade, profundidade e potencialidade desta colocação, principalmente na atualidade, em que os custos dos alimentos estão em escalada. Este artifício poderá provocar um maior equilíbrio na balança alimentar ao gerar renda adicional a populações de extrema carência.
Portanto, poderá possivelmente ser uma forte ameaça à cafeicultura do Brasil para o arábica e até mesmo aos robusta/conillon.
Vejam e analisem com atenção o que ocorreu com o Vietnã, que saiu de uma posição medíocre, em 1993 –algo próximo a 300 mil sacas na produção cafeeira e em poucos anos se tornou o maior produtor de robustas ( 21,0 milhões de sacas). Portanto, tal fato certamente se repetirá com outros países atualmente inexpressivos nesta atividade.
O continente africano estará surgindo neste novo cenário, além de outros.

    3. Países, principalmente da América Central e do Sul, que possuem condições diferenciadas para produzir cafés especiais, com custos produtivos reduzidos em relação ao Brasil, além de terem marketing agressivo e dinâmico, com potenciais clientes consumidores, estão procurando e obtendo aumentos de produção.

    4. Falta de política cafeeira consistente, diferenciada entre arábicas e robustas e efetivamente aprovada e obedecida.

    5. Falta de confiabilidade na divulgação dos números relativos à produção e na falta de informações precisas quanto a custos produtivos.

    6. Preocupação descabida, de certa forma, da linha de produção em desejar manter estoques reguladores. A condição de carregar estoques nem sempre é estratégica para quem produz e geralmente atende mais a interesses da industria.

Muitos outros fatores poderiam ser pontuados aqui, mas assim poderia comprometer o trabalho do grupo formado para criar soluções aos cafeicultores, devendo em breve anunciar a tão esperada “Agenda Estratégica da Cafeicultura”.
Os cafeicultores devem se atentar seriamente em analisar as tendências, ameaças, potencialidades, pontos fortes e fracos e precisamente tomarem suas posições.

Aos formadores de opinião, muita clareza e profissionalismo ao tratar de estabelecer defesas ou ataques a respeito de uma atividade produtiva e econômica, pois atualmente, as transparências e cobranças são dinâmicas e reais.

Aos responsáveis – Grupo de Trabalho – pelos estudos concluídos recentemente, em relação a planejar o cenário da cafeicultura brasileira, para os próximos 05 anos, criando estratégias de modificação para o mesmo, no sentido de provocar a fundamental eficiência de sobrevivência, que tenham utilizado de conceitos modernos, dinâmicos e precisos, além de pontuarem precisamente todos os demais fatores de influencia, bem como, o fundamental custo de produção, calculado de forma precisa e cientifica e principalmente despojado de interesses alheios à atividade produtiva em sua base.
Poderão possivelmente, os produtores de café arábica, estar diante da ultima oportunidade de conseguir elementos consistentes para superar as constantes adversidades. Portanto, todo e qualquer resultado de conclusões que este grupo de trabalho acreditar como verdadeiro e indicar para implantação de política cafeeira será traduzido pela sobrevida ou quebradeira geral dos cafeicultores e até mesmo extinção desta atividade, no Brasil.

A responsabilidade será enorme e as cobranças por resultados da mesma forma se imporão, sem desculpas em caso de fracassos, por dimensionamentos imprecisos de cenários e custos.

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