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Safra 2009/2010: produção e preços agrícolas


Argemiro Luís Brum
No momento em que se confirmam as estimativas de uma safra de verão recorde de grãos no Rio Grande do Sul, com um total de 24,37 milhões de toneladas, graças particularmente ao clima e a tecnologia utilizada, torna-se imperativo uma breve análise individualizada da situação. Iniciando-se pela soja, tem-se que a produção gaúcha cresceu 23,4% em relação ao ano anterior, batendo em 10,06 milhões de toneladas.
Todavia, o preço do saco de soja ao produtor, na média, recuou 31,4%, se estabelecendo, neste final de maio em R$ 32,84. Já os custos totais de produção, segundo a Fecoagro, somariam R$ 32,47/saco para uma produtividade média de 2.400 quilos/hectare (a produtividade média realmente registrada teria alcançado 2.500 quilos/hectare).
Ou seja, um grande número de produtores, mesmo com uma safra cheia, ficou no prejuízo com a soja. Quanto ao milho, mesmo com uma redução de área de 16,2%, a produção cresceu 28,8%, atingindo 5,47 milhões de toneladas. Todavia, os preços igualmente foram ruins.
Os mesmos, no período, recuaram 18,2% (a queda, em alguns momentos do ano foi ainda maior), se estabelecendo em R$ 15,14/saco, em média, neste final de maio. Enquanto isso, o custo total ficou em R$ 19,62/saco para uma produtividade média esperada de 4.800 quilos/hectare (a produtividade média realmente ocorrida teria ficado em 4.703 quilos/hectare). Ou seja, o produtor de milho grão para comercialização, no geral, teve prejuízo com o cereal mesmo com o aumento na produção total final. No arroz, a situação ficou ainda mais difícil já que as enchentes do final de 2009 provocaram uma perda ao redor de 1,1 milhão de toneladas no Estado.
Com isso, a produção final registrou 7,1 milhões de toneladas. Porém, o preço do saco de 50 quilos ao produtor acabou melhorando um pouco, ganhando 7% no ano (maio/09 a maio/10), com o mesmo ficando em R$ 28,14/saco no balcão, na média estadual no final de maio. Entretanto, o custo de produção estimado é de R$ 28,42/saco (cf. Irga), para uma produtividade média de 7.396 quilos/hectare.
Ou seja, mesmo com a recuperação no preço médio, as perdas financeiras foram grandes para a maioria dos produtores.
Safra 2009/2010: produção e preços agrícolas (II)
Enfim, o feijão (1ª safra) registra um aumento de 1,7% na área e 2,4% na produção. Já a segunda safra ficou com 7,3% de redução na área, porém, um crescimento de 19,5% na produção. No total, a produção gaúcha de feijão alcançou 134.137 toneladas, ou seja, 7% acima do registrado no ano anterior.
Os preços praticamente ficaram estáveis, chegando ao final de maio de 2010 na média de R$ 67,83/saco, contra R$ 66,08 no mesmo período de 2009. Vale destacar que o preço do feijão, no final de dezembro do ano passado, chegou a ser cotado em R$ 59,50/saco na média estadual.
Soma-se a isso um resultado decepcionante com a última safra de trigo, quando a produção recuou para 1,8 milhão de toneladas (produtividade média de 2.110 quilos/hectare), após 2,2 milhões no ano anterior e, mesmo assim, os preços recuaram 10,4%, se estabelecendo em apenas R$ 21,72/saco na média gaúcha neste final de maio.
Por sua vez, os custos de produção totais chegaram a R$ 32,62/saco (para uma produtividade média de 2.400 quilos/hectare, fato que piorou a situação real desta lavoura), com o agravante de não haver comprador para o produto em muitos momentos. Assim, se é indiscutível a importância de termos volume de safra, necessário se faz analisar dentro de que contexto econômico a mesma se situa, antes de tirarmos conclusões apressadas. 
Trigo e câmbio
Há mais de ano o mercado brasileiro do trigo vem enfrentando um sério problema de preços baixos. E isso que o país mal chega a produzir, em momentos de safra cheia, 50% de suas necessidades, tendo que importar a outra metade. Um dos problemas centrais se encontra na realidade do mercado externo.
Hoje (mais precisamente com dados do dia 20/05), os preços do cereal no mercado mundial estão bem mais baixos do que os registrados um ano antes, com perda de 21,4% (Chicago registrou US$ 4,69/bushel no dia 20/05/2010, contra US$ 5,97/bushel um ano antes). Ao mesmo tempo, o câmbio no Brasil passou de R$ 2,01 para R$ 1,86 no mesmo período (uma valorização de 7,46% de nossa moeda em um ano).
Nesse contexto, o produto importado fica extremamente competitivo. Na data aqui considerada o produto argentino era posto nos moinhos em São Paulo a R$ 554,00/tonelada ou R$ 33,24/saco. Para competir com este trigo, o produto do Paraná deveria ser negociado no mercado FOB paranaense a R$ 478,00/tonelada (R$ 28,68/saco) e o produto gaúcho a R$ 448,00/tonelada (R$ 26,88/saco).
Já no caso dos EUA, mesmo com as taxas de importação que incidem sobre seu trigo, o produto do Paraná deveria valer R$ 433,00/tonelada (R$ 25,98/saco) e o produto do Rio Grande do Sul R$ 403,00/tonelada (R$ 24,18/saco), ambos no FOB (cf. Safras & Mercado). Lembrando que o preço ao produtor rural, no balcão, é menor do que o preço FOB estabelecido acima. Assim, boa parte das dificuldades na formação do preço do cereal aos nossos produtores, além das questões de qualidade, se deve, neste último ano, a um problema de forte competitividade encontrada junto ao trigo mundial, agravada que foi pela sobrevalorização do Real no período.
Enfim, se não fossem os leilões de PEP do governo, que viabilizaram pelo menos o preço mínimo (R$ 33,30/saco para o produto de qualidade superior) aos produtores que conseguiram acessar tais leilões, a situação teria sido ainda muito pior. Isso explica a projeção de uma redução de área com o cereal, para esta nova safra, de algo entre 10% e 20% tanto no Rio Grande do Sul quanto no Paraná.

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