
Espera-se que o Senado vote neste mês o projeto de Lei de Biossegurança, que pode liberar o cultivo e a comercialização franca e aberta de produtos transgênicos para o mercado doméstico e internacional. Em meio a uma polêmica que agita a opinião pública não só dos brasileiros, mas de todo um povo do globo como usuário final da produção agrícola, essa questão navega em meio a duas grandes vertentes: Renovação científica e tecnológica e reações mercadológicas e políticas. Essas, por sua vez, parecem derivar-se em outros aspectos que passo abaixo a discorrer.
Grande parte das invenções que estão na atualidade inseridas em nosso contexto de mundo moderno e das quais muitos de nós desfrutamos possibilitam melhor qualidade de vida e maior produtividade para as nossas atribuições pessoais e profissionais. O telefone celular, a tomografia computadorizada e o forno de microondas, por exemplo. Pondera-se sob voz baixa seus prejuízos, mas já se fala em voz alta sobre as suas inúmeras vantagens.
Na questão produtiva dos alimentos transgênicos pode haver uma enorme possibilidade de se obter melhores lucros e agregar outros serviços profissionais que o processo requer. A inovação do que quer que seja, no entanto, é impermeável a muitos e raramente é deglutida com facilidade a menos que a mídia passe a garantir o necessário equilíbrio sobre as informações que divulga, deixando de se ater ao sensacionalismo e se importando mais com a divulgação técnica-científica do processo. A partir de então, ter-se-á os verdadeiros parâmetros para avaliarmos a questão da maneira que essa requer.
As vantagens dos organismos geneticamente modificados são amplamente conhecidas. No entanto, a opinião pública é bem diversificada sobre esse aspecto, e muitas das vezes acredita que só consome orgânicos, mas que não se dá conta que provavelmente já comeu um biscoitinho da prateleira do supermercado contendo produto transgênico. O assunto que envolve a saúde humana e animal é polêmico, pois esbarra nos vários canais políticos, econômicos, sociais, éticos, ambientais que precisam assumir como legítima idéia de que qualquer controle amplo sob a não transgenia inexiste.
Sociedades de defesa do consumidor e de proteção ao meio ambiente discordam da liberação dos produtos transgênicos para consumo e produção, mas passam a ser razoáveis na medida em que se apresente um relatório de impacto ambiental antecipado. Esse permitiria que se conhecesse amplamente as informações de cunho científico respaldando de forma adequada a abertura da questão dos transgênicos de modo a acalmar todo o canal acima mencionado. A questão econômica mundial fica bem refletida na União Européia onde nem todos os países aceitam confortavelmente a idéia da transgenia.
A propósito dessa disparidade ideológica a população do Reino Unido desaprovara o consumo de transgênicos, no entanto, a opinião acadêmica manifestou a sua aprovação contanto que se providenciasse a observação antecipada do impacto ambiental.
No Brasil, o efeito China parece ter causado maior furor sobre a questão da transgenia e o impacto maior, apesar de ter sido diluído entre os três principais portos de escoamento da soja que são Santos, Paranaguá e Rio Grande, deu-se com mais intensidade no Rio Grande do Sul, onde a MP 131 permitiu temporariamente o seu plantio e onde já se estima que grande parte do produto seja de origem transgênica desde anteriormente. O segundo efeito impactante no Brasil foi a inserção da empresa Monsanto que se deu de forma desorganizada sob o escopo econômico clamando pelo pagamento de seu “royalty”. Não houve simultaneamente um esclarecimento técnico maior ao mercado e a situação agravou-se com a postura dos produtores que alegam não haver a comprovação da clandestinidade das sementes.
Genética x meio Ambiente = controvérsia sobre a soja e o milho.
Os terminais portuários de Santos e Paranaguá, no entanto, comemoram satisfeitos o aumento das movimentações de consolidação e embarques de fardos de algodão transgênico produzido nos estados de Mato Grosso e Goiás gerados sob um cenário de notável produtividade na medida em que o Centro-Oeste tornou-se também uma região produtora especializada em grande escala. O impacto dos gargalos logísticos sobre o comércio do algodão em pluma parece ser menor porque esses requerem containers de 40 pés do tipo high cubic cuja escassez é menos acentuada que no caso das unidades de 20 pés.
A produtividade do algodão brasileiro parece ser competitiva se comparada a outros blocos produtores no mundo, mesmo apesar da transgenia ainda não estar sendo amplamente empregada nesse produto. Os gargalos logísticos que estão atualmente mais concentrados no transporte, nos portos e na armazenagem vêm sendo satisfatoriamente compensados pela atuação de operadores logísticos e algumas empresas de inspeção e controle do eixo Santos x Paranaguá com relativo sucesso.
Retornando ao aspecto geral desse artigo, é legítimo concluir que no futuro os produtos transgênicos estarão totalmente aceitos em todos os cantos na medida em que o sistema se preocupe em reunir de forma razoável todos os elementos necessários que denotem a segurança de seu consumo para a população no Brasil. Se fizermos uma analogia sobre a transgenia na ciência e uma enfermidade na medicina veremos que nem sempre um segundo médico diagnostica um quadro clínico da mesma forma que o primeiro, e assim sucessivamente.