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Um ciclo perigoso


Ricardo Moncorvo Tonet

                        Como consumidor, quando visito as gôndolas dos supermercados, em minhas compras semanais, fico feliz quando, ao passar pelo caixa, observo como foi acessível à compra dos alimentos primários.

                        Verduras, frutas, ovos, farinha, açúcar, leite, até mesmo carne a preços bastante razoáveis.

                        Estranho que o mesmo não posso dizer de boa parte dos alimentos processados. Já acho bastante caros o iogurte, uma refeição pronta para o consumo, um brócolis congelado, um cereal matinal para meu filho, e tantas outras coisas, que acabam enchendo o carrinho e encarecendo as compras.

                        É claro, que no processamento, são agregados muitos outros valores aos produtos primários, principalmente com relação à praticidade no uso desses produtos.

                        Mas, será que só isso justifica a distância entre o valor dos produtos primários e o preço de venda de um produto processado no mercado?

                        Apenas como exemplo, e num exercício aproximado, para se fazer um café expresso utilizamos, em média 8,00 gramas de café em grãos torrados, ou seja, a cada 1 kg, pode – se fazer 125 xícaras de café expresso, num preço médio de R$ 2,00/xícara, chegamos a R$ 250,00, acima do preço médio atual de uma saca de café com 60 kg, pago aos cafeicultores.

                        Devemos considerar que nessa esteira, existem os custos e os lucros agregados de diversos elos da cadeia produtiva do café, como compradores, torrefadoras, distribuidores etc., mas àqueles que administram os maiores riscos, acabam com uma margem muito reduzida de todo o negócio da cadeia produtiva do café.

                        Poderíamos ficar aqui falando de inúmeros outros exemplos: leite, frango, laranja, batata....., mas a estória não seria nada diferente.

                        As indústrias se dizem “espremidas” pelos grandes varejistas: supermercados e grandes redes de alimentação, e acabam repassando aos produtores as necessidades de redução de custos, sem muitas vezes, alterar suas bases de lucro, que quase sempre, sem margem para negociação, acabam por pagar o preço desse mercado, muitas vezes, perverso.

                        Os produtores acabam por mudar sua escala de produção, aumentam suas estruturas, sua necessidade de mão – de – obra, seu endividamento através do crédito fácil, o que necessariamente, não leva a um acréscimo de renda, e entram nesse ciclo vicioso, muitas vezes, sem volta.

                        Considero que manter uma política de preços de alimentos, acessíveis à população como um todo, principalmente para as classes menos favorecidas, faz parte de um processo de desenvolvimento, mas por outro lado, devemos repensar de maneira urgente, o pagamento por valores mais justos aos produtores rurais, sob o risco de vivermos a médio – longo prazo, crises de abastecimento e de não ocupação do espaço rural.

 

 

Eng. Agr. Ricardo Moncorvo Tonet

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