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Um flagelo permanente (I)


Argemiro Luís Brum

A desigualdade social é um dos maiores flagelos de um país. E ela se mostra de diversas formas: econômica, de gênero, de raça etc., estando a essência na distribuição da renda ali gerada. Certo número de países no mundo conseguiu vencê-lo. Um grande número, infelizmente, não. Tanto é que hoje, em termos mundiais, enquanto bilhões de pessoas lutam para fazer frente ao empobrecimento diante da pandemia, os 1.000 bilionários (dentre eles 11 brasileiros), em nove meses, recuperaram seu nível de riqueza pré-pandemia (na crise de 2007/08 os mesmos levaram cinco anos para recuperar o nível de riqueza pré-crise), sendo que os 10 mais ricos do mundo aumentaram em US$ 540 bilhões sua fortuna desde o início da crise sanitária, segundo a ONG Oxfam.

Já no Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, entre março e julho de 2020 a fortuna dos bilionários locais cresceu US$ 34 bilhões. Aqui, enquanto 1% da população detém 28% da renda geral, outros 50% detêm apenas 12% desta renda. Em 2019, 60% da população brasileira tinha como renda média mensal um valor per capita abaixo de um salário mínimo. Naquele ano, segundo o IBGE, 103 milhões de brasileiros (metade da população nacional) vivia com uma renda média mensal de R$ 413,00, ou seja, 41% do salário mínimo. E a pandemia só piorou a situação, apesar do auxílio emergencial oficial.

No primeiro trimestre de 2021 a renda das famílias brasileiras caiu 17% em relação ao final do ano anterior, sendo que, neste momento, mais da metade da população nacional não tem certeza se haverá comida suficiente na mesa no dia seguinte. E a disparada da inflação em 2020 e 2021 é mais um elemento concentrador de renda, pois atinge os pobres com mais força. Mas há outros elementos de desigualdade, como o fato de termos um sistema tributário regressivo, que penaliza os que ganham menos, ao invés de um sistema progressivo; o fato de a tabela do IR estar defasada em mais de 113% desde 1996, além da bitributação; e outros ainda mais objetivos como veremos na próxima coluna. E resolver a desigualdade significa mais pessoas com renda, mais consumo, mais dinâmica econômica, mais empregos. Sem isso, não há crescimento econômico que se sustente e, muito menos, um dia, desenvolvimento. (segue)

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