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Molécula recupera solo e tem produção recorde de sacas



Em tempos de promessas fáceis e soluções de prateleira, é tentador continuar acreditando que um único microrganismo possa ser o "salvador da pátria" na agricultura, como moléculas já o foram em tempos anteriores. Aquela cepa milagrosa, vendida com laudo técnico brilhante, nomes difíceis e promessa de transformar qualquer solo em terra fértil. Mas... isso simplesmente não existe.

A ideia de que um único microrganismo pode regenerar um solo degradado ou revolucionar o sistema produtivo é mais uma narrativa de marketing do que um conceito agroecológico real. Assim como nenhum ser humano vive isolado, nenhum microrganismo age sozinho. A vida no solo é uma rede de interações complexas, onde cooperação, competição, sinergia e equilíbrio definem o sucesso – ou o fracasso – de qualquer tentativa de regeneração ou atuação.

No laboratório, tudo parece funcionar. A estufa é controlada, a umidade é ideal, o pH é perfeito e os nutrientes estão em equilíbrio. No campo, a realidade é outra: solos compactados, desbalanceados, climáticas adversas, resíduos químicos acumulados, ausência de biodiversidade. Quando colocamos um único microrganismo nesse ambiente desequilibrado e esperamos que ele regenere o sistema inteiro, estamos repetindo o mesmo erro da agricultura química – só que agora com um rótulo "biológico".

Estamos vendo empresas químicas mudando para o “verde”. Mas não se iluda: em muitos casos é conveniência, não consciência. Mantêm os mesmos conceitos da agricultura convencional, mas agora aplicados à biologia. Continuam vendendo dependência, não autonomia. Continuam oferecendo atalhos, não caminhos.

O solo, assim como o corpo humano, precisa de saúde sistêmica. Não adianta tomar um suplemento vitamínico se sua alimentação for baseada em ultraprocessados. Da mesma forma, não adianta inocular um microrganismo em um solo doente e esperar milagre.

A verdadeira regeneração e atuação no solo começa com um olhar integral para o ambiente produtivo: plantas de cobertura, diversidade biológica, redução do uso de insumos químicos e utilização de tecnologias que respeitam os processos naturais do solo – não que tentam controlá-los.

Não se trata de negar a importância dos microrganismos – muito pelo contrário. Eles são fundamentais e essenciais. Mas sua força vem da coletividade, do consórcio, da interdependência entre espécies que formam um ecossistema funcional. Só produz com qualidade quem tem saúde, e essa máxima vale tanto para plantas, quanto para solos e seres humanos.

Aliás, se você é produtor rural e tem filhos, talvez valha refletir sobre a ligação entre o modelo agrícola atual e as doenças modernas que afetam nossas famílias – autismo, psoríase, doenças autoimunes e alergias alimentares. Isso não é obra do acaso. É o resultado de sistemas alimentares desequilibrados. Sustentabilidade hoje não é uma escolha ideológica, é uma responsabilidade.

Portanto, quando lhe venderem um microrganismo milagroso, pergunte: “Cadê o resto do ecossistema?”
Porque sozinho, ninguém faz nada. Nem no campo, nem na vida.

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