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Fertilidade para plantas cítricas

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Foto: Pixabay

A vegetação que cresce naturalmente em determinada região evolui de acordo com as condições de clima e solo locais, portanto está perfeitamente adaptada ao ambiente em que vive. Nesse ambiente, as plantas extraem equilibradamente os nutrientes que necessitam do solo e, ao morrerem, são decompostas, liberando nutrientes para outras plantas, havendo, dessa forma, um ciclo fechado, no qual a fertilidade do solo é mantida ou mesmo aumentada pelo acúmulo de matéria orgânica e, ou, fixação de nitrogênio.

Nesse caso, a vegetação natural está perfeitamente adaptada ao sistema, ou seja, as suas necessidades em nutrientes correspondem às características naturais de fertilidade do solo. Com a interferência humana, esse ciclo é alterado, devido à remoção da vegetação natural e ao plantio de espécies cuja evolução, na maioria das vezes, ocorreu em condições de clima e solo diferentes das existentes no local de plantio do pomar. Assim, quando espécies exóticas, como os citros, são introduzidas em uma região qualquer, por melhor que se adaptem ao novo ambiente, não haverá o mesmo equilíbrio que havia anteriormente com a vegetação natural, onde as diversas espécies ali presentes convivem harmoniosamente. Além disso, os citros são espécies selecionadas, visando potencializar a capacidade de produção de frutos e, assim, as exigências nutricionais também são potencializadas.

Um importante fator responsável pela redução da fertilidade dos solos é a exportação de nutrientes pelos frutos colhidos, cuja quantidade depende da adubação, solo, clima, porta-enxerto e copa. A ordem de exportação de macronutrientes é N > K > Ca > P > Mg > S e a de micronutrientes é Fe > Zn > B > Mn > Cu. Os nutrientes exportados devem ser repostos, para que a produtividade dos pomares seja mantida. Por isso, a procura constante por aumento de produtividade é importante fator de esgotamento das reservas minerais do solo.

A necessidade de adubação em pomares de citros advém da baixa fertilidade natural dos solos, exportação de nutrientes pelos frutos comercializados e imobilização de nutrientes (fixados nas raízes, caule e folhas). Sempre que a quantidade de minerais fornecidos pelo solo for inferior ao exigido pelas plantas, ocorrem efeitos negativos, que se manifestam pelo menor crescimento, redução na produtividade e perda de qualidade dos frutos. A adubação, portanto, é uma prática essencial para aumentar a produtividade dos pomares de citros. Entretanto, o aporte excessivo de nutrientes minerais pode provocar graves problemas ambientais, além de desequilíbrios nutricionais difíceis de serem corrigidos. Dependendo das características edafoclimáticas e das práticas de manejo do solo e da adubação, pode ocorrer a contaminação de rios, nascentes e do lençol freático.

Para que o manejo da fertilidade do solo e do desenvolvimento das plantas seja eficiente, é necessário conhecer as características químicas e físicas dos solos e químicas das folhas dos citros para racionalizar o uso de corretivos e fertilizantes, assegurando maior retorno econômico e redução dos impactos ambientais. Para o conhecimento dessas características devem ser utilizadas ferramentas de diagnóstico capazes de avaliar a disponibilidade de nutrientes no solo e as concentrações na planta, com o objetivo de caracterizar deficiências ou excessos que prejudicam o desenvolvimento do pomar, a produtividade e a qualidade dos frutos. As ferramentas de diagnóstico mais usadas são as análises de solo, de folhas e diagnose visual.

Análise de solo

A análise de solo, além de avaliar os teores nutrientes, com exceção do nitrogênio, permite avaliar a reação do solo e os problemas a ela relacionados, como acidez, alcalinidade e salinidade, permitindo a adoção de medidas corretivas. A primeira etapa do processo de avaliação da fertilidade do solo é realizar uma amostragem adequada, pois, com base na análise química dessa amostra, será avaliada a reserva de nutrientes disponíveis. Por isso, as amostras devem ser representativas dos talhões de onde foram retiradas. Uma amostragem incorreta do solo pode resultar em avaliação equivocada da fertilidade e, consequentemente, gerar recomendações de adubação também equivocadas. Em locais onde serão implantados novos pomares, a área deve ser dividida em talhões homogêneos, considerando a vegetação natural, o relevo, o uso passado e atual, e características do solo, como textura e cor. Quanto ao tamanho das unidades amostrais, não há um tamanho definido para todas as situações, entretanto é importante que unidades muito grandes sejam subdivididas para facilitar a amostragem. Em grandes propriedades, unidades amostrais com áreas entre 10 e 20 hectares são consideradas adequadas, desde que sejam homogêneas. Recomenda-se a coleta de 20 a 40 amostras simples por unidade amostral, com os pontos de coleta distribuídos ao acaso por toda a área.

A profundidade de amostragem depende da camada do terreno que será preparada para o plantio. Para culturas perenes, como os citros, a profundidade poderá ir até 40 ou 60 cm, com a amostragem feita por camadas de 0 a 20 cm; 20 a 40 cm; e 40 a 60 cm. A mistura das amostras simples de cada profundidade constituirá as amostras compostas, que serão enviadas ao laboratório para análise. As amostragens devem ser realizadas alguns meses antes do plantio das mudas, visando possibilitar que ocorra a reação do calcário aplicado no solo e, se necessário, o cultivo de adubos verdes para a melhoria das propriedades físicas do solo.

Em pomares já implantados, a divisão dos talhões, com o objetivo de coletar amostras do solo para análises químicas e físicas, devem-se considerar, além das características mencionadas anteriormente, a idade das plantas, variedades copa, porta-enxertos e manejo do pomar. Alterações em qualquer um desses fatores indicam a necessidade de coleta separada de amostras. A amostragem deve ser feita, pelo menos, 60 dias após a data em que foi realizada a última adubação, para evitar resultados superestimados da análise de solo, devido a possíveis resíduos de adubos na amostra.

Quanto ao local de amostragem, as amostras devem ser retiradas onde existe maior concentração de raízes absorventes, que é também onde os adubos são aplicados, geralmente em faixas, nos dois lados das plantas, voltados para as entrelinhas. Dessa forma, recomenda-se que as amostras sejam retiradas a 0,50 m para dentro e outra a 0,50 m para fora da linha de projeção da copa no solo.

As amostras devem ser secadas, destorroadas e peneiradas, embaladas em sacos plásticos limpos e identificadas, antes do envio ao laboratório. Bastam 300 g de amostra.

Análise foliar

As folhas são os órgãos que melhor expressam o estado nutricional das plantas, considerando que existe correlação entre o desenvolvimento e a produção dos citros com os teores foliares de nutrientes.

A análise foliar é uma técnica complementar à análise de solo e tem como principais objetivos confirmar sintomas visuais de deficiência nutricional, diagnóstico de deficiências incipientes, ou seja, ainda sem sintomas visíveis nas folhas, identificar interações ou antagonismos, verificar a absorção de nutrientes aplicados no solo e avaliar o estado nutricional das plantas.

A primeira iniciativa na obtenção dos teores de nutrientes minerais nas folhas de citros é colher amostras de folhas do pomar para enviar ao laboratório. A fim de garantir que a amostragem seja representativa, devem ser coletadas folhas com a mesma idade, nos quatro quadrantes de plantas cultivadas, em talhões homogêneos, considerando cultivar copa e porta-enxerto, idade das plantas, tratos culturais e características do solo. As folhas devem estar com aproximadamente seis meses de idade, cuja contagem deve ser iniciada a partir da brotação da primavera.

Recomenda-se amostrar no mínimo 25 plantas por unidade amostral, nas quais devem ser coletadas quatro folhas por planta a 1,5 m de altura do solo, ou em altura mediana da copa. Após pulverização, respeitar o mínimo de 30 dias antes de coletar folhas para análise. A amostragem é feita em ramos com frutos situados na posição terminal, coletando-se a terceira ou quarta folha com seis meses de idade, conforme mencionado anteriormente. A contagem das folhas é feita a partir do fruto em direção à base aos ramos.

É importante lembrar que o indicativo para a coleta das amostras de folhas é a idade e não o tamanho dos frutos, que varia muito de acordo com o cultivar e o manejo. As amostras devem ser acondicionadas em sacos de papel e conservadas à temperatura aproximada de 5°C, até o envio para o laboratório.

 

José Luis da Silva Nunes

Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fitotecnia

Fonte

SIQUEIRA, D.L.; SALOMÃO, L.C.C. Citros: do plantio à colheita. Viçosa: Editora UFV, 2017. 278 p.

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