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Grãos e sementes: a importância da armazenagem na manutenção da qualidade

Veja como manter a qualidade dos grãos pós-colheita


As pragas estão entre os principais desafios da armazenagem As pragas estão entre os principais desafios da armazenagem - Foto: Canva

O principal desafio do armazenamento de grãos está relacionado a manutenção da qualidade em grandes volumes produzidos nas crescentes safras do País. Segundo a Conab, estima-se que em torno de 20% da colheita da safra 2023/24 seja perdida devido às más condições de armazenamento de grãos. Os problemas mais recorrentes são a umidade, que causa deterioração acelerada e propicia o ataque de fungos, que causam fermentação nos grãos e produzem micotoxinas; e a presença de pragas, que podem ter origem ainda no campo que causam danos mecânicos aos grãos.

O controle de pragas em grãos armazenados é baseado principalmente no manejo integrado de pragas (MIP) e tem como alicerce principal, o controle preventivo, já que o objetivo nessa fase é manter a qualidade do produto armazenado com o menor uso de produtos químicos possível. 

Os fatores ecológicos devem ser monitorados, como temperatura, teor de umidade do grão, a umidade relativa do ambiente e o tempo de armazenagem, devido a grande influência no controle de pragas. Além disso, a escolha da cultivar, o processo de colheita, a recepção e a limpeza, a secagem de grãos, a aeração e refrigeração, também são fatores importantes no controle preventivo.

Há dois tipos de pragas de grãos: As pragas primárias (Rhyzopertha dominica, Sitophilus oryzae, S. zeamais e Plodia interpunctella), que atacam e infestam grãos intactos, podendo iniciar a infestação ainda no campo e as pragas secundárias (Tribolium castaneum, Oryzaephilus surinamensis e Cryptolestes ferrugineus), que atacam grãos danificados ou já atacados.

Principais aspectos relacionados à qualidade do grão armazenado

Cultivar: As cultivares têm diferentes níveis de susceptibilidade ao ataque de pragas de grãos armazenados. No geral, cultivares que produzem grãos mais duros, são mais resistentes às pragas.

Colheita: A partir da maturação fisiológica (grão com aproximadamente 36% de umidade), a colheita já pode ser realizada. Quanto antes ocorra, maior será o rendimento de grãos e menor será a incidência de pragas. Entretanto, devido a necessidade de secagem por métodos artificiais, com excessivo consumo de energia e possibilidade de comprometer a qualidade do grão, o ideal é que a secagem ocorra de forma natural antes da colheita, sempre que possível. No caso do milho, o ideal é colher com umidade em torno dos 21% (Tabela 1).

Higienização do local: Insetos são capazes de se alojar em pequenos espaços, logo a limpeza regular de todo o entorno do armazém é de extrema importância. Rações animais, equipamentos agrícolas e carretas transportadoras costumam ser fontes de infestação. Inspeções no teto e o conserto de todas as frestas devem ser realizadas antes do carregamento do silo/armazém. Após a limpeza, deve-se pulverizar toda a estrutura com inseticida recomendado para a finalidade.

Limpeza dos grãos: A limpeza dos grãos é um processo essencial pré-armazenagem, principalmente em produtos armazenados por um longo período.

Secagem dos grãos: A secagem permite a armazenagem por períodos prolongados, reduzindo o risco de deterioração do produto, pois controla o desenvolvimento de microrganismos e insetos. Pode ser feita de forma natural, ou com o uso de ventilação forçada combinada ou não com aquecimento. A secagem é necessária, pois quando a temperatura e a umidade são favoráveis, a população de insetos e fungos cresce em escala exponencial. 

Temperatura de armazenagem: A maioria dos insetos e fungos diminui a sua atividade metabólica em 15°C. Diante disso, quanto menor a temperatura de armazenamento, menor o risco de infestação de pragas.

Aeração: Reduz a temperatura da massa de grãos, inibindo a multiplicação de insetos. Pode ser realizada de forma contínua, ou em intervalos de tempo determinado, baseado na diferença entre a temperatura do ar ambiente e a dos grãos.

Monitoramento da presença de insetos: Deve-se registrar por amostragem a ocorrência de insetos, utilizando-se uma frequência definida. Existem diversos tipos de armadilhas utilizadas para capturar insetos como o funil (utilizada para capturar besouros e ácaros, contém um líquido na base, uma tela de suporte para a amostra de grãos e uma fonte de calor para desalojar os insetos), as sondas perfuradas (ideal para insetos de alta mobilidade na massa de grãos como os gorgulhos (Sitophylus spp.), que são atraídos pela maior disponibilidade de oxigênio) e armadilhas com cola e feromônio sexual (para insetos voadores e mariposas). 

Métodos de controle: Existe o método preventivo, a partir do uso de Inseticidas químicos líquidos sobre os grãos no momento de armazenar, indicado para períodos de armazenagem maiores que 60 dias, sendo utilizados os Inseticidas pirimifós metílico, fenitrotiona, deltametrina ou bifentrina, de acordo com a espécie; Há também métodos alternativos como o de inseticida natural à base de terra de diatomáceas (pó inerte proveniente de fósseis de algas diatomáceas), também utilizado de forma preventiva; e o expurgo que é um tratamento curativo, a partir da fumigação de fosfina em casos de infestação de produtos armazenados.

Controle de pragas urbanas: O controle e monitoramento de pragas urbanas, como roedores e pássaros também é essencial, já que são agentes de veiculação de contaminantes de natureza biológica, química e física, podendo causar danos à saúde humana e animal. A legislação brasileira age com rigor quanto ao controle sanitário em grãos armazenados, onde a certificação é obrigatória para as pessoas jurídicas que prestam o serviço de armazenagem de produtos agropecuários. O que inclui licença sanitária e ambiental e um responsável técnico habilitado.

Acesse o AgrolinkFito para consultar as bulas dos inseticidas.

 

Franquiéle Bonilha da Silva

Dra. em Ciência do Solo

Consultora Agronômica em PDI

 

Fontes:

MATIAS, R. S. Biologia, comportamento e medidas de controle dos roedores associados aos grãos armazenados. In: LORINI, I.; MIIKE, L. H.; SCUSSEL, V. M.; FARONI, L. R. D. (Eds.) Armazenagem de grãos. 2 ed. Jundiaí, SP: IBG, 2018.
LORINI, I. Perdas anuais em grãos armazenados chegam a 10% da produção nacional. Visão Agrícola, v. 2, 2015. Disponível em: <https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/VA_13_Colheita_armazenamento-artigo3.pdf>
SANTOS, J. P. Métodos preventivos de controle de insetos-pragas de grãos armazenados. In: LORINI, I.; MIIKE, L. H.; SCUSSEL, V. M.; FARONI, L. R. D. (Eds.) Armazenagem de grãos. 2 ed. Jundiaí, SP: IBG, 2018.
SENAR. Grãos: armazenamento de milho, soja, feijão e café. / Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. – Brasília: Senar, 2018. 100 p. (Coleção SENAR 216)
 

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