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Histórico da soja

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A soja é uma cultura cuja origem se atribui ao continente asiático, sobretudo a região do rio Yangtzé, na China. A cultura que hoje é cultivada mundo afora é muito diferente dos ancestrais que lhe deram origem - plantas rasteiras - e que evoluíram pelo aparecimento de plantas oriundas de cruzamentos naturais entre espécies selvagens, que foram domesticadas. O melhoramento da cultura iniciou-se com cientistas da antiga China que, através de sucessivos processos de cruzamentos dos genótipos ancestrais, passaram a direcionar a seleção visando obter as características  mais  desejadas.

Relatos, que remontam de cerca de 2838 anos A.C., indicam que o cultivo da soja é muito antigo. A importância da cultura na dieta alimentar da antiga civilização chinesa era tal que a soja, juntamente com o trigo, o arroz, o centeio e o milheto, eram considerados sagrados, com direito a cerimoniais ritualísticos na época da semeadura e da colheita.

Por séculos, a cultura permaneceu restrita ao oriente, só sendo introduzida no ocidente, pela Europa, por volta do século XV, não com finalidade de alimentação, como acontecia na China e Japão, mas de ornamentação, como na Inglaterra, França e Alemanha. Mais de quinhentos anos passaram-se até que a civilização ocidental percebesse o valor do grão de soja na alimentação, principalmente o seu valor protéico.

As primeiras tentativas de produção de soja na Europa fracassaram, provavelmente, devido a fatores climáticos, ausência de conhecimento sobre a cultura e suas exigências. Os norte-americanos foram os que, entre o fim do século XIX e início do século XX, conseguiram desenvolver o cultivo comercial da soja, criando novas variedades, com teor de óleo mais elevado. A partir de então, ocorreu a expansão do seu cultivo.

A introdução da soja no Brasil

A soja chegou ao Brasil por volta de 1882. O responsável pelos primeiros estudos com a cultura no país foi o professor Gustavo Dutra, da Escola de Agronomia da Bahia. Em 1892, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), no Estado de São Paulo, iniciou estudos para obtenção de cultivares aptos à região. Naquela época, porém, o interesse pela cultura não era pelo seu material nobre, o grão, era mais pela planta como uma espécie a ser utilizada como forrageira e na rotação de culturas. Os grãos eram administrados aos animais já que ainda não havia o seu emprego na indústria.

Cerca de uma década após iniciar estudos com a cultura, no início do século XX, o IAC iniciou a distribuição de sementes para produtores do Estado. Relatos indicam que foi nesse período que produtores do Rio Grande do Sul começaram a cultivar a soja. Em virtude da semelhança com o clima do sul dos Estados Unidos, local de origem dos primeiros genótipos da soja brasileira, esta região apresentou as melhores condições para o desenvolvimento da cultura. O primeiro registro de cultivo comercial de soja no Brasil data de 1914, no município de Santa Rosa, Rio Grande do Sul. Mas, foi somente a partir dos anos 40 que o seu cultivo adquiriu alguma importância econômica, merecendo o primeiro registro estatístico nacional, em 1941, no Anuário Agrícola do Rio Grande do Sul. Nesse mesmo ano, instalou-se a primeira indústria processadora de soja do País, em Santa Rosa. Em 1949, com produção de 25.000 toneladas, o Brasil figurou pela primeira vez como produtor de soja nas estatísticas internacionais.

A partir da década de 1960, devido à política de subsídios ao trigo visando auto-suficiência do país desse grão, foi que a soja se estabeleceu como cultura economicamente importante para o Brasil. Naquela década, sua produção multiplicou-se por cinco (passou de 206 mil toneladas, em 1960, para 1,056 milhões de toneladas, em 1969). A maior parte desse volume,  98%,  foi produzido nos três estados da Região Sul, onde prevalecia a dobradinha, trigo no inverno e soja no verão.

Apesar do significativo crescimento da produção no correr dos anos 60, foi na década seguinte que a soja consolidou-se como a principal cultura do agronegócio brasileiro, passando de 1,5 milhões de toneladas (1970) para mais de 15 milhões de toneladas (1979). Esse crescimento deveu-se, não apenas ao aumento da área cultivada (1,3 para 8,8 milhões de hectares), mas, também, ao expressivo incremento da produtividade (1,14 para 1,73 ton ha-¹), graças às novas tecnologias disponibilizadas aos produtores pela pesquisa brasileira. Mais de 80% do volume produzido na época ainda se concentrava nos três estados da Região Sul.

Na década de 70, menos de 2% da produção nacional de soja era colhida na região do cerrado. Porém, nas décadas de 80 e 90, a soja teve forte expansão na região conhecida como polígono dos solos ácidos (Triângulo Mineiro, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, sul do Maranhão, sul do Piauí e oeste da Bahia). Em 1980, esse percentual passou para 20% e em 1990 atingiu a marca de 40% da produção nacional. Em 2003, a região produziu 60% da soja nacional, com tendências a ocupar maior espaço a cada nova safra (Figura 1).

 

Figura 1 - Evolução do plantio da soja no período de 1970 a 2003. Fontes: IBGE e Embrapa Soja.

 

Com isso, a região do cerrado tornou-se a maior região produtora do país e o estado do Mato Grosso passou de produtor marginal a líder nacional de produção e de produtividade de soja. A expansão para essa nova fronteira agrícola deveu-se, basicamente, aos estudos de fertilização dos solos do cerrado, à sua topografia plana e favorável à mecanização, e o desenvolvimento de plantas aptas à região
 

José Luis da Silva Nunes

Eng. Agrº, Dr. em Fitotecnia

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