Levantamento revela cenário do leite em Santa Catarina
Epagri mapeia desafios e projeções da pecuária leiteira em Paial (SC)

Paial, no Oeste de Santa Catarina, possui uma economia fortemente ligada ao agronegócio. De acordo com dados do IBGE, o município, com pouco mais de 1,9 mil habitantes, possui 356 estabelecimentos agropecuários, dos quais 89% operam sob o sistema de agricultura familiar. A cidade conta com 283 hectares de área com pastagens perenes, 520 hectares com silagem, considerando os períodos de safra e safrinha, e mais de 2 mil cabeças de gado.
Diante de um cenário de oportunidades e desafios, a Epagri de Paial, em conjunto com a Secretaria da Agricultura do município, realizou um levantamento para traçar o perfil da produção leiteira na cidade. A extensionista da Epagri no município, Simoni Paula Ritter, explica que o intuito foi gerar indicadores sobre a atividade, fornecendo subsídios para que os técnicos pudessem conhecer e projetar o futuro das 62 famílias que atuam no setor. Realizado entre os meses de junho e setembro, o estudo contemplou todas as famílias que atuam na bovinocultura de leite e que comercializam para laticínios. Foram identificadas variáveis como sistema de produção, custos, padrão de uso de silagem e ração, renda bruta anual, sistema de produção de terneiras, além das projeções para o futuro.
O estudo aponta que a bovinocultura de leite lidera a geração de renda bruta anual nas atividades pecuárias do município, movimentando cerca de R$13 milhões, seguida da avicultura, com aproximadamente R$5 milhões e da suinocultura, com pouco mais de R$3 milhões. Esta tendência é observada em outros municípios do Oeste de Santa Catarina, onde a pecuária leiteira se tornou uma das bases da economia, sobretudo em virtude da crise da suinocultura, nos anos 1980. “A pecuária leiteira é uma atividade muito importante para o município e precisa de um olhar atento da Epagri e do poder público municipal, dada a sua relevância social, econômica e ambiental”, diz Simoni.
Apesar disso, até 2030, 14 famílias devem deixar essa atividade em Paial. No entanto, de acordo com Simoni, todas devem permanecer no meio rural, mudando apenas de setor. Dentre os principais motivos para abandonar a produção de leite, as famílias entrevistadas apontam a dificuldade para conseguir mão de obra, a falta de sucessores, a aposentadoria dos gestores da propriedade, além da migração para outros segmentos como avicultura, suinocultura e o turismo, que têm crescido na região. Além disso, o preço do litro do leite, que tem apresentado consecutivas quedas, é outro fator que tem gerado insatisfação.
Mesmo com a saída de algumas famílias da atividade, a projeção indica um aumento de pelo menos 11% na produção, sinalizando que os produtores que permanecerem pretendem ampliar seus rebanhos. Com base nessas informações, a extensionista e os técnicos agrícolas da prefeitura planejam implementar ações efetivas para otimizar a produção e apoiar os produtores na redução dos custos de forma eficiente.
A extensionista relata que durante as visitas de planejamento da atividade leiteira percebeu que muitos produtores estavam desmotivados, principalmente pela queda do preço do litro de leite e pelos altos custos de produção. Segundo ela, o amplo uso de silagem para alimentação dos rebanhos encarece consideravelmente a criação. “Alimentar os animais diariamente com silagem, sem considerar outros fatores, eleva muito o custo de produção, degrada o solo, devido à exploração excessiva, aumenta o trabalho e não garante maior rentabilidade” afirma Simoni. Uma saída para equilibrar o orçamento das famílias que trabalham com bovinocultura de leite é a criação de gado à base de pasto, sistema recomendado pela Epagri por gerar mais economia e bem-estar animal.
Conhecimento técnico como motor do desenvolvimento rural
Para difundir conhecimento e auxiliar os produtores na tomada de decisões, a Epagri organizou no dia 9 de outubro, em Paial, um espaço dedicado à bovinocultura de leite. No período da manhã, foi realizado o seminário “Lucrando com a pecuária de leite”, que abordou temas relevantes como a formação do preço do leite, o sistema de produção de gado à base de pasto, eficiência econômica dos alimentos e bem-estar animal. As palestras foram conduzidas pelos extensionistas da Epagri Márcio Ângelo Titon, de Concórdia, Nédio Luís Patzlaff, de Ipumirim, e Alisson Perin Zulpo de Irani.
Durante a tarde, os extensionistas da Epagri e os técnicos agrícolas da Secretaria da Agricultura do município, Leonel Olívio Bösing e Maziquiel Kemmrich Ruchs, comandaram as estações temáticas na propriedade da família De Col. O foco foi o planejamento da propriedade, a avaliação da qualidade da silagem, o dimensionamento adequado de silos e o sistema de criação de terneiras. O evento foi planejado no ano passado com o propósito de oferecer informações técnicas e incentivar os agricultores a aprimorarem suas práticas produtivas.
Na oportunidade, os produtores puderam levar amostras da silagem utilizada em seus rebanhos para discutir sobre suas características e qualidade nutricional. Também debateram sobre o que podem fazer para potencializar suas propriedades. Ainda foram abordados aspectos como o dimensionamento adequado dos silos e as técnicas para a produção de silagem de alta qualidade. Por fim, foram apresentadas orientações para o manejo correto das terneiras, etapa essencial para garantir o desenvolvimento saudável e a produtividade futura do rebanho.
Simoni espera que o evento tenha contribuído para trazer informações e incentivar os produtores. “Esperamos que as famílias nos procurem para fazer o planejamento da propriedade e assim, aproveitar melhor as áreas com pastagem de qualidade. Esperamos contribuir para que a produção de leite seja mais eficiente e traga mais retorno financeiro ao agricultor”, declara.
Por: Karin Helena Antunes de Moraes, jornalista bolsista Epagri/Fapesc
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