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Biofertilizantes e biotecnologia ampliam fronteiras da agricultura regenerativa

Pesquisas mostram o avanço das algas, extratos vegetais e biológicos no campo


Foto: Ney Moreira

Por Flávia Macedo 

Um dos temas mais relevantes debatidos durante o Conexão Abisolo, que contemplou o II Fórum de Fertilizantes de Matriz Orgânica e o III Simpósio de Biofertilizantes, realizados em Campinas (SP), foi a eficácia dos biofertilizantes na redução de estresses das plantas e no aumento da produtividade agrícola. As macroalgas — especialmente as do gênero Ascophyllum nodosum — foram apresentadas como grandes aliadas da agricultura regenerativa, contribuindo tanto para o crescimento vegetal quanto para a sustentabilidade dos sistemas produtivos.

O professor Carlos Alexandre Crusciol, da Unesp/FCA, destacou em sua apresentação o papel desta macroalga marrom no desenvolvimento de culturas como cana-de-açúcar e milho. Segundo ele, o extrato de Ascophyllum Nodosum contém compostos bioativos que ativam rotas metabólicas específicas dentro da planta, tornando-a mais tolerante a doenças e a condições adversas como seca, geada e alta radiação solar.

“Esses extratos funcionam como um estimulante natural, ajudando a planta a se defender melhor contra pragas e enfermidades, sem substituir o uso de fungicidas e inseticidas”, explicou Crusciol. “Além disso, promovem o equilíbrio hormonal, aumentam a formação de raízes e reduzem a temperatura da folha, fazendo com que a planta utilize a água de forma mais eficiente. Isso se traduz em maior estabilidade produtiva e, muitas vezes, em ganhos expressivos de produtividade mesmo em condições de estresse”.

No setor privado, o uso dessas substâncias também tem avançado. O gerente de marketing estratégico da Acadian no Brasil e Paraguai, Bruno Carloto, explicou que a empresa canadense é pioneira na utilização do extrato de Ascophyllum Nodosum em bioestimulantes agrícolas.

“A Acadian está há mais de 20 anos no Brasil com resultados consistentes que comprovam a eficácia dos extratos de algas em diferentes culturas”, destacou Carloto. “Nosso produto contém um complexo de bioativos que atua no metabolismo da planta, estimulando processos enzimáticos e hormonais. O resultado é o desenvolvimento de mais raízes, maior crescimento da parte aérea e, consequentemente, aumento de produtividade”.

Segundo ele, o uso das macroalgas tem se mostrado vantajoso não apenas em termos de desempenho agronômico, mas também de resiliência. “As plantas tratadas apresentam menor fitotoxicidade e suportam melhor situações de estresse por temperatura e falta de água. É uma tecnologia consolidada, utilizada em soja, cana-de-açúcar, milho, algodão, trigo, arroz e até em culturas de frutas, como uva e abacate. E o potencial de expansão no Brasil é enorme — podemos dobrar o mercado de bioestimulação nos próximos cinco anos”.

Além das macroalgas, as microalgas também ganharam espaço nos debates. O professor e pesquisador da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Átila Mógor, apresentou a palestra “Microalgas na agricultura: obtenção de aminoácidos e metabólitos de nitrogênio”, trazendo uma visão atualizada sobre o uso desses microrganismos como fontes biotecnológicas de compostos bioativos.

Em sua fala, Mógor destacou que as microalgas, tradicionalmente utilizadas nas áreas de alimentação, cosmética e saúde humana, despontam agora como insumos promissores na agricultura. Cultivadas em biorreatores, elas fornecem aminoácidos, poliaminas e outros compostos que atuam em processos de crescimento e adaptação ao estresse das plantas. 

Os biofertilizantes à base de extratos vegetais também foram apresentados durante o evento pela professora e doutora em Bioquímica e Biotecnologia da UFPR, Roberta Paulert. A pesquisadora ressaltou que esses produtos contêm princípios ativos orgânicos capazes de atuar direta ou indiretamente nas plantas, promovendo melhorias no crescimento, na resistência e na produtividade.

“Os extratos vegetais têm mostrado bioatividades importantes em diversas culturas, como milho, soja, trigo, tomate e alface”, explicou Roberta. “Eles melhoram o perfil nutricional e ajudam as plantas a lidar com condições adversas, como seca e variações de temperatura. Ainda são poucos os produtos no mercado que utilizam exclusivamente extratos vegetais, mas os resultados de pesquisa mostram um potencial enorme para ampliar o uso e aumentar a eficiência fisiológica das plantas”, ressalta.

No campo do controle biológico de pragas e doenças, o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Wagner Bettiol, destacou que os agentes biológicos vão além da simples ação de combate — eles também promovem o crescimento vegetal e aliviam o estresse das plantas.

“Os microrganismos aplicados no controle de pragas, como os do gênero Bacillus e Trichoderma, têm mostrado resultados muito positivos”, disse Bettiol. “Eles estimulam a produção de aminoácidos e enzimas que fortalecem a planta contra o calor, a salinidade e a falta de água. Em ensaios com cana-de-açúcar e milho, observamos ganhos médios de até 15% na produtividade, mesmo sem presença significativa de doenças. Ou seja, eles atuam como uma espécie de bioestimulante natural”, afirma.

Já o pesquisador da Embrapa Instrumentação, Ladislau Martin Neto, trouxe à pauta a relação entre matéria orgânica do solo e créditos de carbono. Segundo ele, cerca de 50% da composição da matéria orgânica é carbono — o que faz do solo o terceiro maior reservatório desse elemento no planeta, superando, inclusive, a biomassa das florestas.

Ele destaca que quando falamos em carbono, estamos também falando de matéria orgânica do solo. “Quimicamente, cerca de 60% da matéria orgânica é carbono. Ou seja, ele já está naturalmente presente em todas as propriedades rurais”.

O próximo passo é consolidar o sistema de Medição, Relato e Verificação (MRV), para garantir rastreabilidade e credibilidade, e permitir que projetos de crédito de carbono sejam estruturados de forma consistente.

Premiação de Trabalhos | Conexão Abisolo 2025

A terceira edição do Simpósio de Biofertilizantes, realizada durante o Conexão Abisolo 2025, premiou quatro pesquisas em duas categorias: Mérito Acadêmico e Mérito Inovação. Foram 57 trabalhos inscritos, abordando temas como algas, aminoácidos, substâncias húmicas e extratos vegetais. Os vencedores foram selecionados por um Comitê Científico e receberam R$ 5 mil cada, como reconhecimento às contribuições que impulsionam o desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira.

Prêmio Mérito Acadêmico

 • Categoria Biofertilizantes – Isolamento de frações ativas da parede celular da microalga Chlamydomonas reinhardtii

Autores: Elisa Teófilo Ferreira e Paulo Mazzafera

• Categoria Fertilizantes de Matriz Orgânica – Fontes e épocas de aplicação de fertilizantes especiais na cultura do cafeeiro
Autores: Adailton Agostinho Barbosa Freitas, Raquel Pinheiro da Mota, Reginaldo de Camargo, Igor Cruvinel Pena, Isabela Oliveira Queiroz e João Joaquim Assis Rezende

Prêmio Mérito Inovação

 • Categoria Biofertilizantes – Extrato de Ascophyllum nodosum como estratégia para reduzir o custo metabólico induzido pelo Protioconazol na soja
Autores: Bruno Moço Tessarolli, Samir Geraigire Filho, Mayara Cristina Malvas Nicolau, João William Bossolani, José Roberto Portugal e Carlos Alexandre Costa Crusciol

• Categoria Fertilizantes de Matriz Orgânica – Potássio no sistema solo-planta após adubação com composto orgânico à base de macrófitas aquáticas
Autores: Paulo Sergio Costa Trindade, André Luiz de Freitas Espinoza, André Luís Pirotello, João Lucas Barbosa, Thiago Assis Rodrigues Nogueira e Tiago Tezotto

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