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Fertilizante à base de substâncias húmicas ganha espaço por potencial biológico e reaproveitamento de resíduos

Composição à base de substâncias húmicas vegetais atua na microbiota do solo


Foto: Aline Merladete

Um fertilizante líquido formulado a partir de resíduos orgânicos tem despertado interesse por unir atributos agronômicos e ambientais. A composição à base de substâncias húmicas vegetais atua diretamente na microbiota do solo, promovendo equilíbrio radicular e podendo reduzir o uso de insumos químicos.

Substâncias húmicas e nutrição do solo

A formulação do fertilizante surgiu durante tentativas de tratamento biotecnológico de um efluente rico em compostos orgânicos — um percolado gerado a partir da decomposição de bagaço e cascas de uva. O resíduo apresentava odor forte e representava risco de contaminação ambiental, especialmente de lençóis freáticos. "Esse líquido tem um cheiro muito forte, fétido, e é um vetor de contaminação, pois polui o lençol freático. Esse foi o nosso problema inicial", relata Rodrigo Leygue, diretor da Nubitech.

Durante o tratamento, observou-se que o material adquiria novas características: odor adocicado, pH básico e presença marcante de substâncias húmicas. "O resultado foi um líquido com odor normal, adocicado, mais próximo do café ou do chocolate do que do cheiro original, que era insuportável. E com um pH — isso é importante — básico, ou seja, não ácido", explica.

Segundo Leygue, essa é uma distinção relevante frente aos ácidos húmicos de origem mineral. "Essa é a diferença entre substâncias húmicas de origem vegetal (básicas) e os ácidos húmicos de origem mineral (ácidos)", afirma. Ensaios iniciais em canteiros e viveiros indicaram efeitos nutricionais consistentes, levando ao desenvolvimento de uma formulação voltada à agricultura.

Desafios normativos e ajustes na formulação

Durante o processo de desenvolvimento, o principal entrave foi a ausência de regulamentação específica. "Considerávamos esse produto um fertilizante, mas não existiam normas para registrá-lo. Tivemos que esperar cerca de quatro a cinco anos para que começassem a surgir as primeiras regulamentações", recorda.

Para atender às exigências legais, foi necessário ajustar a composição. "O primeiro desenvolvimento foi a adição de Nitrogênio, Fósforo e Potássio para formalizá-lo como fertilizante organomineral. E assim foi registrado", explica.

Atualmente, o produto é composto por substâncias húmicas vegetais associadas a macronutrientes. "O Potosí é um fertilizante orgânico composto líquido, especialmente constituído por substâncias húmicas de origem vegetal. Os macronutrientes que ele contém, NPK, estão ligados com a matéria orgânica da substância húmica. Isso faz com que sua eficiência nutricional seja altamente positiva", detalha Leygue.

Atuação no solo e nas raízes

Uma das características destacadas é o modo de atuação, que difere dos fertilizantes convencionais por sua interação com o ecossistema microbiológico do solo.

"O diferencial primordial: os fertilizantes químicos não interagem com a microbiota. Não criam condições de equilíbrio entre os micro-organismos, de maneira a que a planta se sinta bem nutrida com moléculas específicas", explica. Segundo Leygue, o produto atua na rizosfera, favorecendo o desenvolvimento de raízes mais saudáveis. "Cria condições de que os micro-organismos existentes no solo, que são os que provêm a nutrição da raiz, sejam ativados, sejam melhorados", afirma.

Essa abordagem é considerada mais ampla e sistêmica. "Não é um elemento químico que vai entrar na nutrição, é um equilíbrio microbiano que vai condicionar a nutrição perfeita para a planta", acrescenta.

Aplicações e versatilidade de uso

O fertilizante é recomendado para diversos tipos de cultivo — desde produção intensiva até horticultura doméstica. "Pode ser utilizado em canteiros, vasos, gramados, pastos, em termos gerais. Isso está ligado à própria condição como os vegetais surgiram no planeta: todos eles precisaram de micro-organismos na sua raiz", afirma.

No campo, a recomendação de uso envolve três aplicações, com destaque para o momento da semeadura. "Recomendamos três aplicações. E há uma aplicação mais elaborada na hora da semeadura", orienta.

Aspectos ambientais e potenciais de mitigação

Além do papel na nutrição vegetal, o fertilizante também apresenta benefícios ambientais. "Ele pega um resíduo contaminante — o percolado de vegetais — e transforma esse passivo ambiental em um ativo ambiental. Isso é fundamental", avalia.

Outro aspecto citado é a possível contribuição para a captura de carbono. "Ao modificar a microbiota da planta, da raiz, ele permite a captura de gases do efeito estufa. É importantíssimo isso", destaca.

Para Leygue, também há ganhos indiretos na redução do uso de químicos. "Pode diminuir o uso de agrotóxicos, porque a planta com uma raiz forte tem defesas naturais melhores. As grandes pragas, normalmente, afetam raízes enfraquecidas", complementa.

O desenvolvimento de fertilizantes à base de substâncias húmicas vegetais ilustra a convergência entre biotecnologia, reaproveitamento de resíduos e agricultura de base ecológica. 

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