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Como o coronavírus impacta as exportações de carne?

Surto do coronavírus tem sido uma questão preocupante para o setor de proteína animal


Foto: Pixabay

Logo após a recente epidemia de peste suína africana na China, a qual dizimou seu rebanho suíno e aumentou a competitividade das proteínas animais brasileiras no mercado externo, um novo surto incide sobre o gigante asiático - desta vez, com impactos ainda incertos sobre o mercado pecuário.

Conforme o relatório divulgado pela INTL FCStone, o surto do coronavírus tem sido uma questão preocupante para o setor de proteína animal, com a possibilidade de uma queda brusca na demanda chinesa. Vale destacar que o gigante asiático é o líder global em consumo de carne suína, além de ser o segundo maior consumidor de carne de frango e bovina – e, o principal destino dos embarques brasileiros.

Em meio às mortes causadas pelo vírus, 132 até a última semana de janeiro, o governo chinês suspendeu as festividades do Ano Novo Lunar e estendeu o feriado até o fim desta semana (2/2). De modo geral, a China tende a fazer uso de políticas públicas incisivas em momentos de emergência, e uma das medidas tomadas foi a contenção do trânsito populacional. Desta forma, em meio ao receio de contágio e avanço da doença, o comércio, em diversas províncias, foi paralisado, o que tem enfraquecido o escoamento de carne bovina.

Vale destacar que o governo chinês vinha num ritmo de estreitamento de laços com o mercado brasileiro. No comparativo com 2018, as embarcações nacionais de carne bovina ao país asiático registraram recordes históricos, com alta de 53,3%.

Não apenas o volume embarcado foi acrescido, mas a receita das exportações também registrou alta, com a China pagando um valor maior pelo quilograma da carne bovina brasileira no comparativo anual (+81 cents/kg).

No entanto, algumas ressalvas precisam ser ponderadas. A  China acabou de repor os seus estoques de carne bovina ao longo do final de 2019, o que também colaborou com as altas registradas no volume embarcado pelo Brasil no período. Agora, o gigante asiático apresenta reservas suficientes, o que, naturalmente, reduz o seu apetite por novas compras.

Como resultado, em 2020, no acumulado de janeiro, o volume de carne bovina brasileira exportado foi de 92,5 mil toneladas, alta de 4,7% no comparativo anual – grande parte fruto das implicações da peste suína africana. Em contrapartida, na variação mensal, o volume embarcado está 10,8% menor.

Sendo assim, o consumo chinês, que já vinha mais retraído em função da folga nas reservas nacionais, agora deverá perder ainda mais o ânimo com a agravação do surto de coronavírus no país. Diante deste cenário, os possíveis impactos da doença ao setor pecuário brasileiro têm preocupado e dado incertezas ao mercado.

De acordo com o acompanhamento de mercado realizado pela INTL FCStone, a expectativa é de um consumo chinês mais retraído neste primeiro momento, fruto de uma economia debilitada, aliada a um governo aumentando suas inspeções e buscando conter o avanço da doença, o que poderá ser traduzido em uma baixa expressiva no volume importado.

Ainda assim, vale destacar que a China vive um momento de dependência do mercado externo para abastecer o seu consumo doméstico. Com a incidência de peste suína africana, que restringirá a oferta interna chinesa de carnes durante os próximos anos, a expectativa é de que o gigante asiático continue com um viés altista em sua demanda pelo produto
brasileiro para o médio e longo prazo.

Em resumo, o direcionamento do mercado ainda é difícil de prever, tendo em vista que não se sabe ao certo a causa da
doença, muito menos as suas formas de transmissão e o quanto este cenário comprometerá as importações asiáticas  e a renda de um país de cerca de 1,4 bilhão de pessoas. Porém, o avanço do número de frigoríficos brasileiros buscando se habilitar para atender o mercado chinês traz otimismo  frente ao estreitamento desta relação comercial.

Somado a isso, a valorização do dólar frente ao real, bem como a perda de efetivo bovino na Austrália, diante dos incêndios recentes, favorece a competitividade do produto brasileiro no mercado internacional. Portanto, apesar do vírus trazer uma pressão de baixa neste momento, as expectativas para o mercado ainda são favoráveis e, o volume das exportações, bem como a cotação da arroba do boi gordo no mercado interno deverão permanecer em patamares otimistas e superiores aos registrados ao longo de 2019.

De qualquer forma, a atenção se volta à evolução do vírus, que, se continuar progredindo e tomar proporções globais, irá prejudicar, e muito, um setor que vinha de um cenário otimista e em busca de ampliação do potencial produtivo. O momento agora segue sendo de cautela para o desenrolar do controle do vírus, para conseguir se ter uma diretriz de quando as importações chinesas devem ser reestabelecidas e ganhar o ritmo esperado para 2020. 

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