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Cotações da soja em Chicago conseguiram recuperação

Em primeiro lugar, temos a dizer que o relatório do USDA foi baixista, surpreendendo inclusive os mais pessimistas


As cotações da soja, em Chicago, após sofrerem uma queda expressiva na sexta-feira (10/08), em função dos números apontados no relatório de oferta e demanda do USDA daquele mesmo dia, conseguiram se recuperar durante esta semana, fechando praticamente no mesmo nível de uma semana atrás. O bushel da oleaginosa, portanto, para o primeiro mês cotado, fechou esta quinta-feira (16) em US$ 8,85, contra US$ 8,87 uma semana antes. Agora, o interessante a relatar é que até o dia 15/08 a recuperação era tímida, com o bushel atingindo a US$ 8,57. Na quinta-feira (16), o anúncio de que EUA e China estariam preparando uma reunião de conciliação de seu litígio comercial, para o final de agosto, fez o mercado subir fortemente.

Em primeiro lugar, temos a dizer que o relatório do USDA foi baixista, surpreendendo inclusive os mais pessimistas. O mesmo indicou uma produção de soja, a ser colhida nos EUA a partir do próximo mês, em 124,8 milhões de toneladas (um novo recorde histórico), contra 117,3 milhões indicados em julho. Já para os estoques finais estadunidenses, no final de 2018/19, o volume ficou em 21,4 milhões de toneladas, contra 15,8 milhões em julho. A futura produção do Brasil permaneceu projetada em 120,5 milhões de toneladas, enquanto a da Argentina foi mantida em 57 milhões de toneladas. Enfim, as importações chinesas ficaram em 95 milhões de toneladas. Neste contexto, o patamar de preços médios para o produtor estadunidense de soja, em 2018/19, ficou estabelecido entre US$ 7,65 a US$ 10,15/bushel. O motivo principal do aumento estimado na produção está na elevação da produtividade média esperada para a atual safra, a qual atinge agora 3.470 quilos/hectare (quase 57,8 sacos/ha).

Em termos mundiais, o relatório elevou a produção global para 367,1 milhões de toneladas (+2,1% sobre julho), enquanto os estoques finais mundiais para 2018/19 estão agora projetados em 105,9 milhões de toneladas (os mais altos da história), contra 95,6 milhões esperados no final do atual ano comercial 2017/18. 

Em segundo lugar, a partir destes números e da imediata reação negativa, o mercado assimilou as informações e considera que, talvez, a produção final estadunidense possa não chegar ao volume indicado. Isso devido a problemas climáticos em algumas regiões, embora os mesmos ainda não sejam tão intensos. Ao mesmo tempo, no transcorrer da semana que se seguiu ocorreram ajustes técnicos, com os operadores recomprando posições em Chicago após a forte baixa do dia 10/08.

Ajudou a este movimento as boas exportações semanais estadunidenses, apesar do conflito comercial com a China. Com isso, é provável que os EUA fechem o seu atual ano comercial, em 31/08, com mais de 56 milhões de toneladas exportadas. Por sua vez, os Fundos reduziram suas posições líquidas vendidas em 2.380 contratos, ficando com um total de 56.000 contratos na venda.

Por sua vez, as condições das lavouras estadunidenses pioraram, indicando, no dia 12/08, 66% entre boas a excelentes, 24% regulares e 10% entre ruins a muito ruins.

Em contraponto, o clima continua normal sobre as lavouras estadunidenses, ao mesmo tempo em que o preço de outras commodities recuaram fortemente (o cobre perdeu 4% no dia 15/08, enquanto o petróleo perdeu entre US$ 2,00 a US$ 2,40/barril, embora os estoques de petróleo estejam 11% abaixo do registrado em 2017 nesta época). Junto a isso, a moeda dos países exportadores de grãos, caso do Brasil por exemplo, continuaram se desvalorizando bastante em relação ao dólar, fato que aumenta suas competitividades externas.
 
A partir de agora, a safra estadunidense de soja entra em sua fase final de desenvolvimento, com a colheita sendo prevista para iniciar na segunda quinzena de setembro em algumas regiões. Portanto, o clima ainda continuará sendo um fator importante de pressão sobre as cotações.

Em terceiro lugar, no final da semana surgiu a notícia de que China e EUA começariam a negociar, no final de agosto, seu litígio comercial. Esta notícia animou o mercado. Como já havíamos alertado em oportunidades passadas, se o litígio comercial sino-estadunidense for superado, o comércio entre os dois países volta ao normal e a soja ganha com isso. Assim, o bushel em Chicago se valorizou bem na quinta-feira (16). Resta, agora, ver se tal reunião realmente ocorrerá e quais as condições que ali serão negociadas.

Além disso, a Argentina anunciou durante a semana de que paralisará gradativamente a redução das taxas de exportação que incidem sobre seu complexo soja, fato que pode dificultar um pouco mais suas exportações, dando mais espaço ao Brasil e aos EUA no mercado mundial. Na verdade, diante da forte seca que atingiu a última safra do vizinho país, esta medida visa segurar a soja e seus derivados no mercado interno, visando garantir o abastecimento local e segurar a inflação.

Aqui no Brasil, diante da crise na Turquia, o Real voltou a se desvalorizar um pouco mais, atingindo a casa dos R$ 3,90 durante a semana. Assim, os preços da soja melhoraram um pouco, mesmo com a queda em Chicago. Ajudou para isso a manutenção de prêmios elevados em nossos portos.

Desta forma, a quinta-feira (16) fechou com o balcão gaúcho na média de R$ 76,35/saco (no ano passado, nesta época, o balcão gaúcho pagava R$ 60,27/saco, ou seja, cerca de 16 reais a menos por saco), enquanto os lotes atingiram a R$ 84,50/saco (R$ 66,00 no ano passado). Nas demais praças nacionais os lotes oscilaram entre R$ 69,00/saco em Sorriso (MT) e R$ 85,50/saco no centro e norte do Paraná, passando por R$ 76,50 em Chapadão do Sul (MS); R$ 78,00 em Goiatuba (GO); R$ 84,00 em Campos Novos (SC); R$ 75,00 em Uruçuí (PI) e R$ 73,00/saco em Pedro Afonso (TO).

Quanto aos prêmios para agosto, nos principais portos de embarque de soja do Brasil, os mesmos oscilaram entre US$ 2,10 e US$ 2,32/bushel. 

Neste contexto, os preços da soja, comparativamente ao ano passado, continuam muito bons. Agora, grande parte disso se deve ao câmbio. Se o mesmo tivesse permanecido na média de março passado (R$ 3,25), o saco de soja no balcão gaúcho, hoje, valeria ao redor de R$ 64,20, ou seja, R$ 12,15/saco a menos do que está valendo hoje na prática. É bom lembrar igualmente que o valor dos prêmios estão nestes níveis devido ao litígio comercial entre China e EUA, o qual aumenta o interesse pela soja brasileira. Um acerto entre os dois países tende a reduzir tais prêmios a patamares normais para esta época. Para comparação, no ano passado, nesta época os prêmios oscilavam entre US$ 0,70 e US$ 1,22/bushel, ou seja, entre 47% e 67% mais baixos do que os valores atuais.
 

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