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Reflexos de paralisação podem durar até 40 dias, diz analista

Principal impacto é no mercado interno no curto prazo, uma vez que já ocorre desabastecimento das gôndolas dos supermercados e alta dos preços


A greve dos caminhoneiros tem gerado diversos problemas para as cadeias produtivas de aves e suínos. Pelo menos cinco grandes cooperativas centrais emitiram nota informando a suspensão de atividades em frigoríficos. Apenas a Aurora Alimentos relata que os prejuízos podem chegar a R$ 50 milhões. A Copacol foi a última cooperativa a divulgar, na tarde desta quinta-feira (24), a suspensão de abates, neste caso de aves e peixes.

A paralisação das atividades dos frigoríficos está agravando a situação da cadeia produtiva de carnes também na C.Vale. A cooperativa afirma ter um prejuízo diário de R$ 2 milhões com a suspensão do abate de frangos e peixes. Com o bloqueio das rodovias pelos caminhoneiros, a empresa está deixando de abater 530 mil aves e 50 mil tilápias por dia em seu complexo industrial de Palotina, oeste do PR. A maior parte dos cinco mil funcionários dos dois frigoríficos aguarda em casa a orientação para retornar às atividades.

O presidente da C.Vale, Alfredo Lang, entende que o governo precisa oferecer urgentemente uma solução para o impasse. “Baixar os preços por 15 dias e depois voltar ao que era antes não é proposta. Também não deve transferir esse custo para a folha de pagamento das empresas”, argumentou. Para ele, a solução passa pela redução de impostos sobre os combustíveis.

Reflexos no mercado interno e externo

“Existem reflexos nas exportações, porque alguns contratos podem ser quebrados ou os países importadores podem correr para outros fornecedores, e no mercado interno, onde é pior, porque ocorre desabastecimento e não temos para onde correr”, afirma Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).

Segundo ele, mesmo que a paralisação dos caminhoneiros tenha fim nesta semana será necessário um período de 20 a 40 dias para que a situação se normalize. O principal impacto é no mercado interno no curto prazo, uma vez que já ocorre desabastecimento das gôndolas dos supermercados e alta dos preços.

O pesquisador descarta a possibilidade de que ocorram problemas mais graves, como a quebra de contratos comerciais com outros países por conta da greve e do atraso de exportações. O que pode haver, ele diz, é uma pressão desses parceiros comerciais para que o Brasil resolva de maneira rápida essa situação.

A paralisação dos transportes precisa ocorrer de maneira rápida, afirma Carvalho, pois há um grande risco de falta de insumos para alimentar a produção de animais. “O grande problema é parar a produção porque não tem alimentos para os animais. Algumas granjas que já receberam alimentos vão continuar tocando, mas tem granjas que estão sem o insumo”, ressalta.

Alimentação animal

A preocupação com o desabastecimento de rações para as produções animais também foi divulgada pelo Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), que emitiu nota à imprensa nesta quinta-feira. "A continuidade e recrudescimento da mobilização dos caminhoneiros pode comprometer sobremaneira a entrega das rações e sal mineral para animais de produção, além dos alimentos para cães e gatos", destacou a nota.

Segundo o sindicato, apesar todos os esforços possíveis, os empreendedores sofrem também com a interrupção do transporte de milho, farelo de soja, aditivos e outros insumos usados na produção.

Entidade avalia perdas irreversíveis

Embora a situação possa ser contornada em alguns dos setores da cadeia de aves e suínos, a Associação Brasileira dos Produtores de Pintos de Corte (Apinco) estima que algumas perdas serão irresversíveis. Um dos casos é o das granjas matrizes, que já estão sem ração e precisam recorrer a "adaptação nutricional" até que o problema do transporte seja solucionado. Neste caso, avalia associação, a produtividade afetada "jamais será recuperada".

Mas o pior efeito, na avaliação da entidade, diz respeito aos pintos que estão nascendo agora, cujas incubações foram iniciadas três semanas atrás. De acordo com a Apinco, estes animais começam a ser sacrificados. "E como nem mesmo os resíduos podem ser retirados, aumentam ainda mais os riscos sanitários", alerta.
 

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