Mofo-branco pode provocar perdas de até 70 % da colheita
As estruturas de resistência do fungo, podem permanecer no solo por 5 a 10 anos
Foto: Arquivo Agrolink
A doença conhecida como Mofo-branco (causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum) ameaça a produtividade da soja em todo o país. No Brasil, com condições de alta umidade e temperaturas amenas, a doença avança e pode provocar perdas de até 70 % da colheita — exigindo adoção urgente de estratégias de manejo.
O mofo-branco, uma doença fúngica causada por Sclerotinia sclerotiorum, atinge diversas culturas agrícolas — incluindo a soja — e se caracteriza pela formação de micélio branco e de escleródios escuros de sobrevivência no solo.
No caso da soja, o microrganismo pode infectar hastes, ramos, folhas e vagens, interrompendo o fluxo de água e nutrientes na planta, comprometendo o rendimento e a qualidade do grão.
Segundo levantamento de mercado, a doença já teria incidência relevante em áreas de soja no Brasil, afetando sobretudo regiões com clima mais ameno e umidade elevada — o que a torna um problema permanente para o agronegócio.
Em condições graves, estima-se que a doença pode reduzir a produtividade da soja em até 70%. O fungo S. sclerotiorum ataca mais de 400 espécies vegetais, o que amplia o risco em sistemas agrícolas diversificados ou que utilizam plantas de cobertura e hospedadoras alternativas.
Os escleródios, estruturas de resistência do fungo, podem permanecer no solo por 5 a 10 anos ou mais, dependendo de condições ambientais e tipo de solo.
As condições mais favoráveis para o desenvolvimento da doença são temperaturas amenas de 15-25 °C, alta umidade no dossel, cobertura densa da cultura e ocaso de ventilação no entre-linhas da lavoura.
Principais impactos
Produção menor e custo maior: A queda de rendimento reduz a quantidade de grãos colhidos por hectare, ao mesmo tempo que aumenta o custo de manejo — impactando a margem do produtor.
Qualidade dos grãos comprometida: O fungo pode afetar o desenvolvimento das vagens e dos grãos, levando a grãos menores ou de qualidade inferior, o que pode afetar o valor de comercialização.
Persistência de inoculo no campo: A presença continuada de escleródios no solo torna a doença um problema recorrente, exigindo que o manejo seja planejado para médio/longo prazo e não apenas uma intervenção pontual.
Limitação de rotação de culturas e escolha de cultivares: Como o fungo possui amplo hospedeiro, a simples mudança de cultura nem sempre elimina o risco. Isso exige uma análise criteriosa do sistema de produção.
Prevenção e controle
Manejo integrado
A adoção de um manejo integrado é essencial para reduzir o risco da doença. Entre as práticas recomendadas:
Utilizar sementes certificadas e de alta qualidade, livres de escleródios e tratar sementes quando indicado.
Rotação ou sucessão de culturas com espécies não hospedeiras, como gramíneas (milho, trigo, aveia), para reduzir o banco de inóculo no solo.
Reduzir a densidade de plantio ou aumentar o espaçamento entre linhas, permitindo melhor circulação de ar e menor retenção de umidade no dossel.
Garantir boa cobertura de solo com palhada ou cobertura vegetal que favoreça a aeração e impeça as condições ideais para germinação dos escleródios.
Limpeza de máquinas, implementos e equipamentos entre talhões para evitar dispersão de escleródios para áreas sadias.
Controle químico e biológico
O registro de novos fungicidas para o controle da doença já foi feito no Brasil, como o ativo fenpirazamin para culturas como soja, batata e feijão.
Alternativa sustentável importante: o uso de agentes de biocontrole (ex.: fungos do gênero Trichoderma) tem apresentado resultados promissores na inibição da germinação dos escleródios.
Dependência de condições climáticas: A eficácia das medidas varia conforme chuvas, umidade e temperatura, o que exige monitoramento constante e adaptabilidade do produtor.
Custo elevado de manejo preventivo e necessidade de capacitação: Muitos produtores precisam investir em semente de qualidade, rotação de culturas e controle de maquinário para uma boa prevenção.
Persistência no solo: Porque o fungo sobrevive anos na palha ou solo, a simples intervenção anual pode não ser suficiente — há necessidade de estratégia plurianual de redução de inóculo.