Inteligência Artificial revoluciona análise de sementes e ganha destaque em congresso internacional da ISTA
Vice-presidente da ABRATES participou da 34ª edição do evento

A aplicação de inteligência artificial e o uso de ferramentas inovadoras, como machine learning, estiveram no centro dos debates do 34º Congresso da ISTA (International Seed Testing Association), realizado recentemente na Nova Zelândia. O evento reuniu especialistas de diversos países para discutir os avanços em ciência e tecnologia voltados à análise, produção e qualidade de sementes.
As discussões reforçaram o papel estratégico das inovações digitais no aprimoramento dos métodos de teste, rastreabilidade e padronização internacional das sementes. A programação também incluiu temas como sustentabilidade, segurança alimentar e harmonização de normas globais para o setor.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes (Abrates) e pesquisador da Embrapa Soja, José de Barros França Neto, que integra o Comitê do Teste de Tetrazólio da ISTA, apresentou durante o evento o primeiro volume do novo manual sobre o Teste de Tetrazólio. A publicação reúne atualizações importantes nos critérios para a realização do teste de viabilidade de sementes, incorporando os mais recentes avanços científicos e tecnológicos.
Editado por França Neto em parceria com o Dr. Sergio Pasquini, professor do Centro Nacional de Biodiversidade Peri (Itália) e coordenador do Comitê do Teste de Tetrazólio da ISTA, o Volume 1 aborda os princípios fundamentais do teste, seus objetivos, aplicações e histórico, além de descrever a estrutura e os componentes das sementes.
Já o Volume 2, atualmente em preparação, trará os procedimentos detalhados para a aplicação do teste de tetrazólio em mais de 650 espécies, com foco na avaliação da viabilidade das sementes.
IA e Qualidade de Sementes
Durante os três dias, o Congresso reuniu especialistas de diversos países em torno do Simpósio intitulado “Qualidade de sementes para segurança alimentar global e biodiversidade”, estruturado em sessões orais e apresentação de pôsteres que abordaram diferentes aspectos da ciência e tecnologia de sementes.
Entre os temas de destaque, a análise de sementes por meio de machine learning despertou grande interesse. “A tecnologia tem demonstrado elevado potencial para fornecer resultados precisos sobre a qualidade física e fisiológica das sementes, além de ser aplicada no beneficiamento, auxiliando na separação de materiais indesejáveis dentro dos lotes”, avalia França Neto.
Outro ponto relevante, segundo o pesquisador, foi a apresentação de estudos sobre a relação entre o teor de fósforo nas sementes e o vigor das plantas. Dados indicam que sementes com maior conteúdo de fósforo desenvolvem sistemas radiculares e aéreos mais robustos, o que resulta em maior produtividade. Pesquisas também apontam que a incorporação de fósforo às sementes pode gerar efeitos semelhantes.
A edição gênica, uma das novas fronteiras do melhoramento genético, também teve espaço nas discussões, especialmente no que se refere à sua regulamentação. A técnica, hoje considerada amplamente dominada. Nesse contexto, destacou-se a sincronia entre Argentina e Brasil na legislação sobre organismos geneticamente modificados (OGMs), o que favorece a adoção ágil dessas inovações nos dois países.
Foram ainda apresentados estudos sobre degradação da clorofila, microrganismos associados às sementes, dormência, sementes de plantas daninhas e regeneração de populações, entre outros tópicos.
Comitês Técnicos
Os Comitês Técnicos da ISTA desempenham papel fundamental na padronização e validação de métodos científicos voltados à amostragem e avaliação da qualidade das sementes. Atualmente, são 20 Comitês que embasam a atualização das Regras Internacionais para Análise de Sementes (RIAS) e dos manuais técnicos que orientam práticas como amostragem, germinação e testes específicos.
As atualizações das RIAS são discutidas anualmente e oficializadas nos congressos trienais ou nas reuniões anuais. Segundo ele, nesta edição do congresso foram aprovadas diversas melhorias, como a redefinição do tamanho de lote, número de sublotes, tabelas de tolerância, duração e primeira contagem do teste de germinação, métodos de superação de dormência, umidade no teste de envelhecimento acelerado, teste de vigor via emergência da radícula, parâmetros de tempo e temperatura para testes, avaliação qualitativa e quantitativa de OGMs, além de diretrizes de segurança.