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Mulheres impulsionam meliponicultura sustentável no Poli-LAC

Poli-LAC reúne cinco países em ações simultâneas


Foto: Pixabay

A conservação de abelhas e outros insetos polinizadores mobilizou, simultaneamente, cinco países da América do Sul e do Caribe em uma rodada integrada de capacitações promovidas pelo projeto Poli-LAC. A iniciativa, coordenada pela FAO e apoiada pelo Ministério do Meio Ambiente da Alemanha, por meio da Agência Alemã de Cooperação Internacional - GIZ, busca ampliar o conhecimento técnico, fortalecer políticas públicas e formar multiplicadores capazes de levar práticas sustentáveis aos territórios. A Embrapa Meio Ambiente apoiou essa iniciativa.

Entre 17 e 19 de novembro, Cristiano Menezes, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente apresentou resultados e aprendizados de sua experiência com a meliponicultura conduzida por grupos de mulheres. A iniciativa, desenvolvida em parceria com a Embrapa Amazônia Oriental e a Associação A.B.E.L.H.A., capacitou agricultoras e deu origem a um manual específico sobre criação de abelhas sem ferrão voltado ao público feminino, que foi apresentado em Lima, no Peru.
 
“A meliponicultura tem sido muito mais efetiva quando as mulheres estão à frente”, afirma Menezes. “Apesar de haver muitos homens na atividade, os projetos de capacitação apresentam resultados mais sólidos quando conduzidos por mulheres. Essa experiência será compartilhada com os multiplicadores de todos os países envolvidos, para que possam replicar e adaptar a prática em seus contextos.”
 
O curso de referência, realizado no início do ano no Pará, mostrou que iniciativas inclusivas ampliam a adesão e fortalecem a autonomia das comunidades. O treinamento com vinte agricultoras de Paragominas despertou interesse renovado pela biodiversidade local e consolidou um modelo de formação capaz de aproximar ciência, renda e conservação. O sucesso da capacitação inspirou o manual “Meliponicultura para Mulheres”, lançado pela FAO e A.B.E.L.H.A., com contribuição técnica da Embrapa. O material reúne orientações sobre manejo, modelos de caixas, biologia das espécies e boas práticas de criação, e já está sendo utilizado em novas formações pelo país.
 
As atividades do Poli-LAC buscam justamente multiplicar esse tipo de conhecimento. As capacitações realizadas de forma simultânea na região reforçam práticas amigáveis aos polinizadores, metodologias participativas — como escolas de campo — e estratégias de extensão rural voltadas à realidade de cada território. Ao integrar países vizinhos em uma mesma agenda, o projeto fortalece uma rede regional de formadores comprometidos com a proteção dos polinizadores, fundamentais para a segurança alimentar e para a sustentabilidade dos sistemas agropecuários.
 
Como parte das ações do projeto, os pesquisadores Cristiano Menezes e Geraldo Stachetti realizaram expedições técnicas na Chapada da Diamantina, na Bahia, onde colocaram em prática pela primeira vez o APOIA Melissa, uma ferramenta de gestão que ajuda o agricultor a transformar sua propriedade em um ambiente favorável aos polinizadores. Stachetti também participou de atividades no México, para participar da Oficina de Intercâmbio de Experiências e compartilhar o APOIA Melissa com os demais países. Com a aplicação do diagnóstico será possível fazer uma análise das características produtivas, manejo da paisagem, manejo de polinizadores, manejo de insumos, produção e comercialização das propriedades onde o projeto está atuando. Os dados coletados serão transformados em um relatório para cada agricultor, permitindo um planejamento da implementação de boas práticas amigáveis aos polinizadores. 
 
Apoia Melissa
O APOIA-NovoRural tem um novo módulo voltado especificamente à conservação e ao manejo dos polinizadores. Desenvolvido por pesquisadores ao longo de duas décadas, o método reúne 62 indicadores ambientais organizados em uma plataforma de planilhas eletrônicas que ajuda produtores e gestores a identificar pontos críticos e adotar melhorias nas propriedades.
 
Criado para oferecer um diagnóstico abrangente, o sistema avalia cinco dimensões: ecologia da paisagem, qualidade ambiental (ar, água e solo), aspectos socioculturais, valores econômicos e gestão administrativa. Os dados coletados em campo e em laboratório são convertidos automaticamente em índices expressos em gráficos, o que facilita a visualização dos impactos e das oportunidades de ajuste. A partir desses índices, o sistema gera um Índice de Impacto Ambiental que sintetiza o desempenho da atividade analisada.
 
Esse processo resulta na elaboração de relatórios de gestão socioambiental entregues aos produtores. Com eles, é possível planejar intervenções, acompanhar a evolução das práticas e orientar investimentos em sustentabilidade. Os diagnósticos também auxiliam gestores públicos e privados na definição de políticas de fomento e na certificação de atividades agropecuárias.
 
Com o desenvolvimento do APOIA Melissa, o sistema ganha um módulo dedicado ao manejo integrado da polinização, alinhado às discussões internacionais sobre segurança alimentar e conservação da biodiversidade. O novo módulo seguirá os mesmos princípios metodológicos da ferramenta original, mas se concentrará em quatro eixos estratégicos:
1. Manejo da paisagem — uso planejado de Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal, recuperação de áreas degradadas e implantação de pasto apícola em espaços subutilizados.
2. Manejo de polinizadores — logística de transporte e aluguel de colmeias, incentivo à criação de abelhas nativas e africanizadas e integração desses sistemas às rotinas da fazenda.
3. Manejo de insumos — adoção de boas práticas no uso de defensivos químicos, protocolos de compatibilidade para minimizar riscos aos insetos, incentivo a insumos biológicos e práticas de manejo ecológico.
4. Manejo da produção e comercialização — transferência de tecnologias que aumentem a produtividade e a qualidade das culturas dependentes de polinizadores, protocolos de segurança alimentar e certificações que agreguem valor aos produtos agrícolas e ao mel.
 
Com o novo módulo, a expectativa é que produtores rurais, cooperativas e técnicos tenham acesso a uma ferramenta mais completa, capaz de fortalecer práticas sustentáveis e ampliar os benefícios econômicos e ambientais associados à polinização — um serviço ecossistêmico essencial para a agricultura e para a manutenção da biodiversidade.
 
O nome Apoia-Melissa carrega um duplo simbolismo: além de homenagear a neta do pesquisador Stachetti, o termo melissa significa “abelha” em grego, reforçando a ligação direta do projeto com a conservação desses insetos essenciais ao equilíbrio ambiental.

 

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